quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Corpo/Circular

Olá, amigos viajantes. Aqui vão mais dois novos textos para vocês. Espero que agradem estas novas paisagens pela janela do trem. Vamos tocar o âmago da palavra novamente?

Corpo
_
O que é este corpo entre tantos?, pensou ele...
Cativo do sol,
da lua,
das paredes de concreto.
Se quisesse,
cativo de outro corpo.
Quem sabe, talvez...
Mas a condição não funciona,
anulada pela afirmação através da negação,
ela é.
Duas vezes pensou
e já era tudo diverso da segunda.
A constelação de seus versos
era feita de lama ou nada
ou tinta de caneta barata
ao pensar este corpo
de carne e trânsito de sangue.
Não faz sentido
ou faz todo ele
a experiência do toque
que tanto quis
ou já não vai mais querendo.
Nas ruas vai desviando
e esquecendo que é apenas.
Deveria ser outro.
Aceitar a natureza.
Mas os truques inconscientemente arquitetados
de forma próxima ao perfeito
para manter distância...
Há íntima ânsia e estranhamento.
Rotina, costume
a romper.
Para que serve tudo isto?
O que é esta idéia entre tantas?
Amanhã já será outra
e não fará falta a ninguém.
Porque isto, seguramente, é uma piada, meu bem...

Circular

Rosto quase colado a outro. As faces se sobrepõem lentamente, lentamente...

De repente, não mais. Congela-se o momento e a batalha dos dois é suspensa. A tensão não é nada, nada...

Apenas recomeça, com a rapidez de um relâmpago. E no instante seguinte, já não é. Novamente.

Todos os rostos, o rosto. Enxerga-se aquilo que o espelho reflete. Mas o que é mesmo que se pode ver?

Há olheiras na manhã de um dia qualquer, talvez um domingo ou uma quarta-feira. Brandamente, a ilusão se desfaz. Entretanto, as marcas se acentuam.

O tempo não permite outra coisa.

Ou ele volta atrás?

E aqui estou... sigo estátua... mirando a foto dos rostos quase colados. Boa noite!

E assim prossegue a viagem, amigos. Beijos e abraços!! Até a próxima!!

NA MINHA VITROLA: SEBASTIAN KRAMER - Invierno > Claro > La Futura Mirada del Ex-Tenista > TEMPLE OF THE DOG - Hunger Strike.

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Poesia Finita/Amigos Pássaros/Irmãzinhas

Olá, amigos viajantes!! Após um recesso de 10 dias sem postagens, aqui retorno com três pequenas poesias, as paisagens que eu lhes ofereço desde que iniciamos a viagem. Confiram:

Poesia Finita

Como naquela canção
Imagine que tudo vai se acabar
E você só tem cinco minutos antes da colisão de dois corpos celestes
O que fazer, então?

Uns buscariam o gozo derradeiro no sexo
Talvez o gosto desesperado em um prato
Outros chorariam e implorariam a um deus que desviasse a rota do rebelde corpo celeste
Cinco mil loucuras em cinco minutos...

Não me importaria nada disso, talvez...

Então o único a fazer seria
A poesia definitiva
A que jamais seria lida
Cujos caracteres seriam tragados pelo impacto, a explosão...
A última rima pobre, a rima rica final
Pela última vez aquilo que sempre me fez mais vivo...

Sim, a palavra também é finita.

Amigos Pássaros

Meus amigos são pássaros
E a eles sou grato
Salvam-me ao saudar-me
Suas canções de clubes de esquina me bastam
Já não sou mais triste
E eu os amo

Para Walter e Érika.

Irmãzinhas

Irmãzinhas, eu as quero bem.
Eu as quero vivas. Além de toda a preocupação com o futuro.
Sem o remoer do passado. Eu as quero vivas e lindas.
Porque isto é o que são.
Não importam dores de garganta, que sejam extirpados os caroços.
Quero o sorriso de vitalidade.
Quero abraçá-las e percebê-las bem.
Porque me fazem tão bem, só quero devolvê-las o mesmo.
Eu as amo, irmãzinhas.

Para Nísia e Sansorai (aliás, parabéns, San!!).

Aí estão as três novas paisagens trazidas a vocês por este maquinista. E sempre haverá mais. Porque, desmentindo uma destas paisagens acima, a palavra não é finita... eh eh eh!! Beijos e abraços, meus queridos!! Vocês são poucos, mas isto já me basta. E eu os amo também.

NA MINHA VITROLA: FITO PÁEZ - Naturaleza Sangre > Ámbar Violeta > Un Vestido y un Amor > Desarma y Sangra > Muchacha Ojos de Papel > Mariposa Tecknicolor > Las Palabras.

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

O Retorno dos Barbudões

Aí estão novamente Los Hermanos. Um CD meio anti-mídia - menos rock, mais "MPB experimental". Ok, um pouco difícil nas primeiras audições, mas depois descobre-se o tesouro. Aliás, nem tão difícil para mim, pois navego mares mais revoltos em música às vezes ... eh eh eh!! (Já que "mar" parece ser a palavra-chave neste disco, como o ouvinte poderá observar.) Bom, a música cuja letra será mostrada aqui é Condicional, a faixa 9 do CD Quatro, lançado no final do mês 7. É a faixa que mais lembra as mais agitadas dos barbudos. As pessoas pularão e cantarão junto nos shows, vocês sabem... a música é boa, a poesia da letra, melhor ainda. Aí está!!

Condicional
(Rodrigo Amarante)

Quis nunca te perder
tanto que demais
via em tudo céu
fiz de tudo cais
dei-te pra ancorar
doces deletérios

e quis ter os pés no chão
tanto eu abri mão
que hoje eu entendi
sonho não se dá
é botão de flor
o sabor de fel
é de cortar

eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu, muito bem

quis nunca te ganhar
tanto que forjei
asas nos teus pés
ondas pra levar
deixo desvendar
todos os mistérios

sei tanto te soltei
que você me quis
em todo o lugar
li em cada olhar
quanta intenção
eu vivia preso

eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu
o que eu queria o que eu fazia o que mais?
e alguma coisa a gente tem que amar
mas o que, não sei mais

os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei também
existe alguém pra me libertar


É isso, amigos viajantes... desta vez trocamos o trem por um barquinho... ou seriam dois barcos? Eh eh eh!! Mas é o seguinte... voltaremos ao trem no próximo post, sim? Beijos e abraços!!

NA MINHA VITROLA: Adivinhem... eh eh eh!!

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Sou Preto e Espelho o Mundo (de Ramon Alcântara)

Amigos viajantes, hoje eu trago a vocês uma poesia que me tocou, criação de meu amigo virtual Ramon Alcântara. Não falo muito. Deixo as palavras do autor:

"Olá, leitor, Nos últimos tempos nada mais me perturba que a minha condição pobre. A poesia não tinha como sair diferente. E falar da minha pobreza... é inevitável não trazer com ela a historicidade da minha negritude brasileira. Pois bem... espero que, apesar da semi-concretude da configuração poética, alcance-te. A licença poética permitiu-me falar em preto, já que o foco era a cor e não a etnia, espero que compreenda, a despeito de toda discussão de termos. Agradeço e abraço."

Sou Preto e Espelho o Mundo
_
sou preto espelho sujo
que preta puta cheira
a coca branca morte
da sombra preta pele
e o grito pobre escuta
os brincos surdos dele
e mesmo preto puro
a puta a pele queima
e seco sendo o injúrio
a droga mancha e fere
acorda povo burro
da guerra que elicia
e mesmo sendo caco
a coca no preto espelha
o medo mundo luto
da luta nobre preta
que pinta o branco tudo
_______________________sou preto e espelho o mundo
que a puta pobre cheira.
_
Bom, amigos viajantes, espero que tenham apreciado. Beijos e abraços. Até breve!! :-)
_
NA MINHA VITROLA: Pearl Jam - Even Flow > The Who - Substitute.

domingo, 14 de agosto de 2005

Neve Névoa Nada

Novo conto para seu deleite, amigos viajantes. Apenas espero que não detestem. Eh eh eh!!

Neve Névoa Nada

Recordação enevoada daquele colo onde teria depositado a cabeça se.

Tudo convergia para um fim de sentido, um vácuo onde nem a imaginação cabe.

Eram anos em que a presença se fazia ausente e nunca mais, nunca mais. Não foi o corvo pousado no umbral daquela casa o responsável pela expressão. Apenas as coisas eram. E não. Não havia aquela voz tampouco a própria. Preparava-se para ir trabalhar.

Já na rua. Alguém muito irritante canta música de qualidade duvidosa enquanto o cigarro queima entre dedos e/ou lábios. Entra no transporte e vê alguém que conhece mas não existe palavra. Muito, muito dentro de si mesmo e a pessoa também. Não importa.

Disfarça e brinca com a orelha, ato a ser disfarçado. Um tanto punido em ambiente familiar. Algo como lançar um míssil nuclear numa ilhazinha de dóceis habitantes.

Quem sabe?

Quem sabe é hoje que as coisas acontecem? Alguém que continua cantando música indesejável também entrou no ônibus ou apenas os versos ruins ficam ali ribombando ribombando quando era preferível o vácuo.

O vizinho de banco faz sinal da cruz avistando uma igreja. Tem um jornal sob o braço. Alguma mocinha bonita fixa olhar no rapaz bonito que entra no próximo ponto e devolve o olhar. Parecem perfeitos e vazios. Sentam-se juntos e as filas de bancos começam a se mover, porque já era hora mesmo.

Conversando, conversando. A palestra já se fazia longa como longo era o caminho.

Havia um panfleto religioso na bolsa. Já não havia memória. Não era importante, seja como for.

Ainda o gosto do almoço de ontem, porque era prazeroso. O único prazer, talvez. Mas não definia o que havia sido, de forma alguma. Não se sentia estranho por isso. Apenas era assim e pronto.

[não atenda telefonemas não atenda telefonemas não atenda telefonemas em processo de criação ignore ignore ignore]

Era impressão ou verdade que o caminho já se alongava demais.


Andava em círculos. Talvez.

Somente não havia o que fazer. Todo o caminho tinha de ser trilhado. Era deixar-se levar.

Ou havia a rachadura que permitiria a fuga? Nunca se sabe. É preciso observar bem, muito bem. Enquanto a estória era mal-contada entre o recém-casal no banco da frente. Era desinteressante, porque nenhum preenchia a lacuna, o quebra-cabeças permanecia quase intacto e as idéias atiradas ao ar incompletamente. Atingiam ouvidos surdos e os que podiam ouvir desejavam a rachadura na parede da prisão. Por que não se calam? Por quê? E o verso voltava insatisfazendo. Mesmo o almoço do outro dia já começava a dançar no interior. Não havia o que fazer. Não havia mesmo.


Caminhar a pé. Sim. Sim.

Havia.

Aquele tempo era uma promessa de solidão e gritos de socorro que jamais seriam emitidos. Alguém já disse e o autor repete. Só muda o gênero e a personagem. Ele não sabe gritar. Fantástico! Excepcional! Merecerá prêmios de operário do ano ou de aluno bem-comportado. Fará sensação na sala de estar. Um sorriso, meu deus, um cigarro, qualquer coisa... abra a janela. Batidas na porta. O motorista não ouviu o sinal. Ninguém ouve nada que deveria ser ouvido. Ah... então esquece. O jato de esperma que invadiu aquela vagina nunca foi tão amaldiçoado.

Bendito seja o amor. Sobretudo porque não há amor.

Quem sabe é hoje que as coisas acontecem? Abre o jornal, o vizinho.

[não abra a porta não abra a porta não abra a porta pois você tem de terminar isto ignore ignore ignore]

Lembra quando era criança e havia um ídolo. Ele saberia sair daquela situação. Livrar-se-ia dos futuros amantes, dos versos teimosos e do enjôo que se fazia presente. Aquela não, sempre ausente, embora por um momento presente. Determinante tal momento, ou as palavras não fariam sentido. Não se lembra do colo onde haveria deitado se.


Revolução mais porca! Antes sempre se sabe criticar o modelo existente. Depois repete-se o ciclo e cai-se no ridículo. Na mentira. No vazio.

Já não era. Inferno! O pirata de tapa-olho e papagaio no ombro adentra o coletivo. Não é carnaval. Que é aquilo? Entra cantando aqueles versos. O reverso do gozo.

O gosto popular. A fraude. O colo que já não existe mas que insiste como se existisse. Talvez.
_
Quem sabe é hoje que as coisas acontecem?

O gol do título não foi comemorado de acordo, por isso o jogador acabou expulso e que bom que sempre se pode esticar o pescoço e ler o jornal do vizinho de banco. Um consolo, ao menos.

Não há fim, não há fim... caramba, hoje ele não trabalha...

Por que não se tem o bom senso de dar o sinal e simplesmente descer?

Ah, sim... todos estão surdos. Cegos também.

Apenas aquele ouve a tóxica e insistente música, quando começam contra a sua vontade os jatos de vômito do almoço do dia anterior. Pena... havia sido tão bom...

Não cabe a exigência de uma citação literária aqui. Por que teria de ser feito o mesmo em todos os fragmentos?

Força a memória, maldito!

[o que eu disse sobre telefones e batidas na porta? não basta? não basta? apenas deixem o cadáver apodrecer em paz! família família papai mamãe titia e algum ícone pop]

Não houve escapatória. Os jatos existem por existir.


Tantos os de esperma como os de vômito. Frêmito. Alguém alcança o gozo e nada disso importa mais. Os amantes de amanhã agora vazios saberão disso? Se ao menos houvesse mesmo algo a dizer...

Não diga! Então você também gosta daquele filme? Não é da hora?

Não. Não é. Apenas alguma coisa sobre cadáveres que voltam a ameaçar alguns personagens bonitinhos na tela. Alguém precisa salvar a mocinha. Alguém precisa salvar o mocinho. Aquele sinal da cruz talvez. Ah ah ah!! Perfeitos e vazios. Feitos à jato para fabricarem jatos. Mas tudo isso é muito cansativo.

Sobe no coletivo um garoto de roupas rotas e engraçadas vendendo balas. O corriqueiro persiste.
_
Circulação falha. Um vaso entope e alguma coisa acontece. Para o hospital. Tudo muito branco, muito branco, muito branc...

Abrindo os olhos. Formas gentis passam de um lado a outro. Um colo e outro. Percebe-se tudo. Uma injeção. Vão abri-lo sem dor. Adormece. Volta. Não, não volta. É preciso algum tipo de choque. Volta. Não, não volta.

Volta.

O odor é adocicado e parece de maçã. Parece que todos sorriem ao redor. O clima é de sorrisos ao menos. Bom sucesso. Sem noção. Mas também não vê mais nada. Não precisa. E é melhor assim. Também não ouve mais. Para quê?

Não faz bem e apenas causaria transtorno. A máquina não pode emperrar. A peça consertada, lubrificada a contento.

Numa prisão da Sibéria, ele se sente feliz ou.







[hoje nada mais precisa acontecer]

***

[
começa a nevar em são paulo
pela primeira vez na história conhecida
será preciso muito vinho quente para passar este junho insólito
]

***

[
vem de novo o time do corinthians
quase 24 do primeiro tempo
1 a 0 timão
a ponte está retraída
e o atacante tem de sair da área pra buscar jogo
em belo horizonte
atlético mineiro e vasco da gama 0 a 0
vai o avante corinthiano invadindo a área
dribla um, dribla dois...
a zaga da ponte cai sentada!!
o goleiro sai...
o atacante dá um toque genial por cima do goleiro
mas a bola passa rente a trave,
pra fora...
que pecado...
mas a torcida aplaude!!
]


Creio que tudo já esteja dito aqui, amigos. Beijos e abraços!! Até!!

NA MINHA VITROLA: Caetano Veloso - A Little More Blue > London, London > Maria Bethania.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Os Johnnies e as Notas Fiscais

Um continho engraçado para vocês, vai...

Os Johnnies e as Notas Fiscais

"O mundo não é perfeito. Se fosse, eu não estaria aqui enfurnado neste escritório. No mínimo, eu teria sido um Beatle. Sim, porque eu sou bom demais. Mas a minha modéstia me impede de seguir em frente. No mínimo, o quinto Beatle... que tal? O que haveria de mais nisso?

O problema está nesses meus atrasos... droga...

E tem essa maldita mania de estar nos lugares errados... infelizmente, John Lennon foi mais esperto. Tinha um senso de localização bem melhor que o meu.

E mais... ele chegou cedo...

Droga... John Lennon roubou o lugar que seria meu por direito! Bom, ao menos, ele morreu no meu lugar. Mas convenhamos – não é uma vantagem... afinal, aqui estou eu, com essa merreca no bolso, enquanto ele é cultuado no mundo inteiro, mesmo morto... a glória que poderia ser minha.

Tudo bem, tudo bem... o problema é que sempre alguém chega na minha frente. Eu poderia ter sido o ícone do movimento punk, mas quando cheguei lá, já havia tanta gente... Iggy Pop, Johnny Ramone, Johnny Rotten, Jello Biafra... malditos Johnnies, Iggies e Jelloes! Mas ainda terei meu lugar."

O chefe do departamento entra na sala, olha para o divagante Marquinhos e diz:

"- Moleque, acorda e vá arquivar aquelas notas fiscais, seu merda!"


Beijos e abraços, amigos viajantes!!

NA MINHA VITROLA: Deep Purple - Burn. (Ah, eu poderia tocar guitarra no Purple, mas o puto do Blackmore chegou primeiro... sniff...)

A Verdade sobre o Tédio

Amigos viajantes... mais uma poesia. Ou uma prosa poética, como é mais acertado definir. Pelo título, talvez vocês decidam não fazer esta viagem... bom, fica a critério de vocês. Os corajosos que me sigam ao abismo das palavras!!

A Verdade sobre o Tédio

Nunca se sabe...
O tédio ronda algumas idéias
e tudo parece não ter razão.
Precisa-se urgentemente de um fato insano,
de um ato sem medida de conseqüências,
mas não há nada que motive, ao menos na aparência.
Não, não é o início da decadência...
esta seria razoavelmente um impulso.
É apenas a constatação:
Se ao menos existisse uma divindade
a quem se pudesse lançar as culpas,
a quem se pudesse responsabilizar por todos os medos...
Faz frio nesta noite.
Os dentes doem sob a falta parcial de tratamento,
os planos todos permanecem sob este gelo de Terra do Fogo.
Poderia ser qualquer lugar ou tempo.
Poderia ser sob qualquer condição.
Ou é apenas mentira, confusão de qualquer espécie.
Talvez seja necessário um trago,
um corpo quente de mulher-musa para poetas lancinantemente subjugados.
Mas tudo que se vê pela frente é uma adaga
que se apresenta perfeita para perfurações na pele...
o sangue escorrendo para a alimentação do solo infértil.
Haverá saída? Dizem as placas no Metrô que sim.
O que é oferecido não é opção à melancolia.
Há umas peças que não se encaixam ao quebra-cabeças
e este mundo veio com defeito.
Não há garantia de trocas.
É preciso viver, apesar disto.
Sim, o tédio é inerente
e não há como fugir, definitivamente. Não o tempo todo.
A verdade sobre o tédio, se alguém quiser saber...
não, não se encontra neste texto. É preciso encará-lo.
E isto é tudo, não sendo tudo.

Agora, leitor, abra um sorriso, mesmo acanhado.

Bom, amigos viajantes, isto é realmente tudo, sem ser tudo. Beijos e abraços.

NA MINHA VITROLA: The Decemberists - The Infanta > We Both Go Down Together > Eli, the Barrow Boy > The Sporting Life > The Bagman's Gambit.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Diferentes Sóis

Voltando ao campo da criação poética, aqui estamos, amigos viajantes. Estamos cada vez mais próximos do âmago da palavra. Ou não, o que só torna mais prazerosa a nossa jornada. Continuem alimentando-se destas paisagens. Aí vai mais uma:

Diferentes Sóis

Permaneça com os olhos fechados, por favor.
O sol que ilumina
não pode fazê-lo a todos ao mesmo tempo.
Quando acorda, eu durmo.
Sim, você em outro lado do mundo, fazendo planos...
Talvez em sonhos. Eu aqui neste vagão, um vagão qualquer
Traço também uns planos. E ouso...
Ouso pensar que não serão planos natimortos
Talvez tanto quanto "você-do-outro-lado"
As condições certamente são um pouco diferentes
Não melhores nem piores.
Diferentes.
Gostaria de ver sua face. Haverá uma?
É que às vezes o sol nasce encoberto
Devo haver esquecido meus óculos em algum canto.
Impossível discernir, então.
Eu não a reconheço, de qualquer forma.
Não a reconheço desde a última vez em que me matei.
Apenas para reconstruir-me. Tentando ser mais forte...
Bobagem...
Continuo sendo o mesmo. Mil vezes morto, mil vezes nascido
da mesma mãe, trazido pelas mesmíssimas mãos
no mesmo local distante dos locais onde tudo acontece.
Livre de ser atacado por fundamentalistas islâmicos
mas trajando como roupa alguma dor fundamental.
Aqui a primavera já se faz próxima, enquanto você sabe que nada restará.
A não ser folhas caídas sob seu chão.
Afinal, é sempre assim... tudo converge para a terra
quando almejamos o ar.
Este sol tão diferente e tão semelhante não nos acordará ao mesmo tempo.
Abra os olhos, anda!!
Mas eu já tenho tanto sono...

Bom, meus amigos, isso é tudo por ora. Espero que tenham apreciado mais esta etapa de nossa viagem. Em breve, haverá mais. Beijos e abraços!!

NA MINHA VITROLA: British Sea Power - It Ended on an Oily Stage > Be Gone > The Mission - Severina > New Model Army - 51st State.

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Verbo Correr

Meus amigos viajantes de sempre... aqui vai algo sobre o que se passa com cada um de nós... não deixa de soar triste, como já é costume... bom, tirem vocês suas próprias conclusões sobre esta paisagem...

Verbo Correr

Desista de tudo o que você é, do que quer
É um pouco triste, mas necessário, o sacrifício
Imole sua liberdade e seu tempo
Em troca de algo que poderia lhe ajudar
Algum papel... garantias de conforto
Conforto? Quando o tempo não basta pra isso?
Haveria oportunidade para a livre expressão
Se não houvesse o compromisso
Mas não... é preciso algo diferente disso
Pois os vampiros estão à espreita
Você troca sua alma, agora morta
Por coloridos pedaços de papel
Na ilusão de que estes irão garantir
Que você seja alguém e consiga o que queira
No entanto, os vampiros tomam-lhe tudo
Sugam seu sangue, sua vontade, seu tempo
O que há de melhor em você
Mesmo seu gozo e sua tosse já não são seus

A dicotomia injusta...

Lá fora há sol e jardins e bancos de praça
Flores multicores esperando o brilho da primavera vindoura
E os pássaros já entoam doces canções eternizadas
Nem por isso menos extasiantes

Seja como for, você tem de correr, sempre...
E o êxtase não acontece


E enquanto o êxtase não acontece, trabalha-se para pagar contas, eliminar dívidas... e alguém, em algum lugar movimenta rios de dinheiro, graças ao esforço daqueles que já não conseguem ser... bom, eu não posso mudar isso, vocês não podem... não vejo muita possibilidade de que as coisas sejam diferentes. Alguma resignação é necessária e o sacrifício é a norma.
Ainda assim, meu grito é esta poesia, que será lida por poucos, mas é o meu grito. É o que ainda tenho.
Que os vampiros de Brasília ou de qualquer outro lugar continuem fazendo o que fazem... não creio que sejam pessoas melhores que eu. Apenas tiveram alguma oportunidade e lá estão. Minha sorte é de outra natureza. A comparação não é válida então. Aliás, hoje nem escrevo por mim... entristeço-me por dores outras.
Seja como for, beijos e abraços, meus amigos!! Até sempre!!


NA MINHA VITROLA: New Order - Bizarre Love Triangle > Regret > Shellshock > Touched by the Hand of God > World in Motion.

Ah, sim... estou testando algumas mudanças em termos de tipologia... eh eh eh!!

terça-feira, 2 de agosto de 2005

O Camarada Napoleão

hoje, na minha vitrola...

... o velho conhecido cinismo de alguns... um país ainda o mesmo de antes... horror, horror... ouço alguém muito arrogante... nega clara e classicamente, para um político, certas denúncias... 16h52... não era para ser assim... confiei nessa gente... a maioria de nós confiou... combateriam mentiras... conseguiram reproduzi-las... digam o que disserem... que a imprensa manipula... ou qualquer argumento... não creio em político algum... aliás, nunca cri muito mesmo...

não, não é possível mais ser inocente... não esconderei meu descontentamento... não voltarei a sonhar com dias melhores... que os patriotas me chamem de "descrente de merda"... que me sufoquem com suas bandeiras... pra mim, brasil é um conceito apodrecido... acabou...

orwell... é verdade... o camarada napoleão tem sempre razão* ... creio que não terei crises de consciência quando vierem as próximas eleições e eu fizer o que deve ser feito...

amigos viajantes... beijos e abraços!! apesar de tudo...

* que leia "a revolução dos bichos" quem não tiver entendido.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Música para Balzacos

Amigos viajantes, uma boa nova: Alessandro de Paula volta aos textos inéditos!! Confiram o novíssimo...

Música para Balzacos

Dá-me um pouco mais daquele solo de jazz
O trompete em surdina, um rumo perdido
Um beijo e uma entrada para o show de amanhã
Talvez um copo de gin
Puro como a estrela no céu que nada diz, dizendo tudo
Escuta a música do dia-a-dia, mas vê como cansa de tão falsa
Então vai para o quarto e escuta o que lhe dá vontade
A voz se eleva de uma caixa preta
Que registrou todo o seu desastre
A música que escuta é algo cruel, mas verdadeira
E ela diz
não quero você,
não se iluda com meia-dúzia de palavras
Ou algo assim
Sai e dança, sai e cansa da mesmice
Seus amigos são ok e vocês conversam e tomam umas e outras
Enquanto a percussão dá o ritmo
Viver é bom, e há o suficiente para quem souber enxergar
Embora tantos tenham tanta neblina pela frente
Prossigamos ao som daquele piano, eis a valsa da vida
ou talvez um ritmo mais acelerado seria preferido pelo leitor?
E façamos o coro dos canalhas e dos balzacos
De qualquer forma, a vida flui

Amigos viajantes, andei pensando muito nestes dias. Pensei que talvez já tivesse dito tudo e era hora de parar. Bom, agora eu retorno. E me repito... não pouco. De qualquer forma, isto de escrever é vital a mim. Seria uma automutilação se eu parasse e nunca mais o fizesse. Não, não me cabe verter este sangue meu. Portanto, continuem acompanhando esta viagem, meus amigos. Por ora, beijos e abraços!! Até sempre!!

NA MINHA VITROLA: Natalie Merchant - This Is on Fire > Motherland > Saint Judas > Put the Law on You > The Beatles - Here Comes the Sun > The Cure - Lovecats.