quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Edifício dos Amores Jamais Vividos - Parte 1: Portas

Olá, amigos viajantes. Neste primeiro post de 2005, quero apresentar-lhes a primeira parte de meu novo conto.Divirtam-se!


Edifício dos Amores Jamais Vividos

Parte 1 - Portas

Abri os olhos e vi que minha mãe olhava da porta de meu quarto eu chutar a parede, sonhodespertando.

Antes, era muito simples, eu sempre passava pela sujiscura rua. Jamais havia visto parada ali tal mulher. Seu vestido tinha as primeiras flores da primavera. Tinha uma boca de promessas e eu enxerguei o sabor de raro vinho. Vi olhos negros como o brilho da última madrugada antes que o sol virasse supernova. E eles me convidavam. Profundos, profundos... pensei... "tenho que ter esta morena". Havia nela um tal componente de Beatrice que imaginei-me Dante, mas não... ela era o antimodelo da pureza e do amor mais simplório. E isto eu também percebi, afinal, era apenas o encanto de uma rameira. Apenas um encanto de rameira... Quando seus cabelos se fizeram fugidios adentrando o portal daquele prédio cinzadecadente, eu a segui e a perdi. Já o interior era vasticheio de luzes, eram ares de shopping center. Eu diante dos elevadores. O ambiente vazio, não fosse minha presença e a de duas ruivadivas que se desfaziam aos beijos. Fiz algum gracejo e recebi xingamentos, ao que chegou o elevador. Entrei, calaram-se vitupérios, fechou-se a porta e, sem saber exatamente, apertei o botão de algum andar.

Ao sair do elevador, vi três portas. A esquerda-primeira, uma porta rosada e de onde se ouviam convidativos apelos. Eu sabia que ali encontraria minha antiBeatrice. Uma vez que meus pés me levaram ao interior do apartamento, vi que era apenas uma peça. Estava lá uma garota, anjamulata de faceira, infernal o corpo. Nua, de quatro, masturbava-se e me esperava. Mas não, não era ela. "Onde encontro a garota que me chamou?". "Ah... ela está no último quarto à direita... você não vem?". "Não, não é você quem eu quero."

Diria, à primeira vista, que era uma porta negra a da direita-terceira, mas vi-a tornar-se em tons de cinza, chegar ao branco e voltar ao negro. Demorei-me um momento de eternidade, apenas observando o ininterrupto fenômeno. Era o maravilhamento e a indecisão de adentrar o quartinho. Passada a eternidade, tomei fôlego e abri a porta. Teso pelo desejo, fui tomado pela surpresa. Era ela. Mas não como eu esperava. Estavam ali também todas as senhoras do mundo, todas as vovós. Elas acariciavam um rosto que eu não via mas sabia que era o dela. Como as senhoras se sucediam nos afagos e nas docipalavras, não conseguia distingui-la, no máximo tinha a noção de que era ela sentada numa cadeira no fundiquarto. Só não enxergava mais o sabor de vinho, mas melodias de musicaixas. Olhei para uma beliche e vi dois corpos inertes. Entendi porque chorava a divaminha. Na cama inferior, uma mulher aparentava Cleópatra vitimada pela áspide. No leito acima, um senhor austero-aparente. Era um tipo caucasiano, de cabelos grisalhos. O bigode igualmente gris multiplicava a expressão de inerte austeridade. Ao examinar-lhe o rosto, os olhos abriram-se com chispas odiosas. Assustei-me e finalmente volvi-me para a criatura que me encantara. Tristeza. Minha diva tornara-se uma garotinha de anjiface e eu só pude soltar uma exclamação: "Inferno!". À minha descoberta, as senhoras voltaram-se para mim e me expulsaram com seus olhares. Despedi-me calado dos sons de caixa de música e dos sustos.

Bom, espero que tenham se divertido... eh eh eh!!! Em breve, publicarei a próxima parte! Abraços e beijos! Até breve!

Nenhum comentário: