Sou você e você é o que sou. Tudo vai, tudo retorna. Não é kardecismo, talvez seja Nietzsche. Os processos da vida... em que nos misturamos e compartilhamos as mesmas histórias. Porque o que muda é um detalhe ou outro, um contexto. As histórias, porém, são universais. Por isso você é eu e eu sou o que você é.
Um poema universal, abaixo:
De tantas mortes minhas
Morto.
Um rombo no peito.
Era o estado em que me encontrava.
Embora marinheiro com uma mulher em cada porto,
potencialmente,
só via aquela que extraíra de mim as forças
quando cortou meus cabelos.
Vi o sol de muito perto
após ter pego emprestada as asas derretidas
do rapaz Ícaro.
Depois, fui levado escravo à Mesopotâmia,
mas eu sabia, era filho daquele sem nome,
seria liberto.
Rápido eu fui. Rápido demais: bati meu carro em Ímola.
Não sobrevivi.
Já tive morte de cinema. Já fui Ferdinand.
E, literalmente, explodi.
Já fui assassinado por alguém que lia
O Apanhador no Campo de Centeio.
Em meio a tudo,
tive a glória, fui ovacionado
e já me lincharam num ato que foi transmitido
pelas TVs em nível mundial.
Também já morri sentindo o frio glacial,
numa rua movimentada da metrópole.
Nem repararam.
Choraram frente a meu túmulo,
mas os vermes não me roeram,
pois deu-se um cordial desenlace com a morte.
Ganhei a partida de xadrez,
e pude outra vez retornar.
Sempre retorno. A cada dia, mês, ano.
A cada retorno meu,
vibram de satisfação em todo o globo.
Sou reconhecido
pelo pequeno remelento na porta do barraco,
embarco nos sonhos da fina dama em trajes íntimos
que aguarda o amante.
Sou reconhecido pelos feirantes
e moradores de rua,
também pelos estilistas
e revisores de texto.
Conhecem meu trajeto,
ainda que não se deem conta
que incógnito vou
fazendo meu caminho de mil óbitos
e outros mil ressurgimentos.
É que sou cada um deles.
Desapareço no fundo do mar
para emergir com ar renovado.
Todos no mundo conhecem esta minha qualidade,
mas não sabem que, a cada dia,
também vão e retornam.
Assim seguirá acontecendo enquanto o sertão não virar mar,
enquanto o mar seguir estampando antigos cartões postais.
Sou cada um desses tais.
E cada um deles vive em mim.
As ruas andam em mim enquanto ando pelas ruas.
Penso em versos de poemas sem rima nem métrica.
A cabeça erguida,
um sorriso emudecido, porém constante,
entre a multidão que caminha de acordo com os horários marcados.
O estado em que me encontro novamente.
Beijos e abraços, pessoal!
NO VIDEOCASSETE
Um dia de céu limpo, uma dose de conhaque, o porco engravatado que rumina dinheiro alheio, as noites solitárias, as crianças fazendo algazarra, amores possíveis e impossíveis. Tudo o que há sob o sol (e além do sol) é a matéria da poesia. Este blog é um livro inconcluso com páginas abertas para que você encontre textos escritos com verdade, sentimento e, principalmente, com ALMA. Uma viagem que nunca termina. Por Alessandro de Paula. Contatos em palavratomica@gmail.com
terça-feira, 20 de setembro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
Apenas
Poema de solidão.
De medo. De palavras que não se dizem mais, fora de moda que estão.
Pensamentos afastados, fora de questão. Poema de nosso tempo.
Fora de nosso tempo.
Apenas
Um poema meu, com base na trilogia do silêncio de Deus, por Ingmar Bergman.
Ela ergueu os olhos para o céu,
eu vi,
eu a vi esperar por uma resposta.
Mas encontrou apenas o vazio.
Não há nada acima ou abaixo.
Nada lá fora.
Apenas o corpo abandonado
e algum pensamento.
Que logo é afastado.
Faz-se necessário sorrir.
E sorri.
Há o consolo da esperança
na mais absoluta solidão.
Sinto que ela volta a fazer de conta,
é tão fácil perceber.
Há um deus-aranha esperando por cada um.
Carinho, medo da guerra, apego, palavra, sexo, morte, angústia, esquizofrenia, "que imagem ridícula", "Deus é amor e amor é Deus", silêncio... apenas.
A palavra...
A palavra parte
de si
e se perde no ar,
apenas um eco tímido.
Ela pegou suas muletas e partiu.
Deixou-me só com o vento gélido
e meus pensamentos anacrônicos.
Apenas.
A cena abaixo é do filme O Silêncio, de Ingmar Bergman, de 1963.
Isso é tudo por hoje, pessoal!
NO VIDEOCASSETE
De medo. De palavras que não se dizem mais, fora de moda que estão.
Pensamentos afastados, fora de questão. Poema de nosso tempo.
Fora de nosso tempo.
Cena de Através de um Espelho, filme de Ingmar Bergman, de 1961.
Um poema meu, com base na trilogia do silêncio de Deus, por Ingmar Bergman.
Ela ergueu os olhos para o céu,
eu vi,
eu a vi esperar por uma resposta.
Mas encontrou apenas o vazio.
Não há nada acima ou abaixo.
Nada lá fora.
Apenas o corpo abandonado
e algum pensamento.
Que logo é afastado.
Faz-se necessário sorrir.
E sorri.
Há o consolo da esperança
na mais absoluta solidão.
Sinto que ela volta a fazer de conta,
é tão fácil perceber.
Há um deus-aranha esperando por cada um.
Carinho, medo da guerra, apego, palavra, sexo, morte, angústia, esquizofrenia, "que imagem ridícula", "Deus é amor e amor é Deus", silêncio... apenas.
A palavra...
A palavra parte
de si
e se perde no ar,
apenas um eco tímido.
Ela pegou suas muletas e partiu.
Deixou-me só com o vento gélido
e meus pensamentos anacrônicos.
Apenas.
A cena abaixo é do filme O Silêncio, de Ingmar Bergman, de 1963.
Isso é tudo por hoje, pessoal!
NO VIDEOCASSETE
Assinar:
Postagens (Atom)