terça-feira, 29 de abril de 2008

Alívio

Não, não quero adiantar o que é, mas o próximo maio deverá ser um bom mês para mim. Que aconteça e que eu faça acontecer o melhor! E que mais portas sejam abertas!

Um pouco de cuidado é necessário, mas estou a ponto de dizer que a palavra alívio faz algum sentido.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: STEPHEN MALKMUS & THE MILLION DOLLAR BASHERS - Ballad of a Thin Man.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Virada Cultural, o decorrer e o depois

Esta foi a quarta edição da Virada Cultural.

Nas duas primeiras, eu estava envolvido em alguns saraus. Na terceira, eu não estava na cidade. Nesta última, aqui estava eu, não envolvido em eventos, a não ser como público. E foi, para mim, a edição mais intensa, mais repleta de loucura, de paixão pela vida e de... percorrer limiares.

Engraçado eu não ter me envolvido tanto nas outras em que participei mais ativamente... talvez eu simplesmente não estivesse no espírito. A primeira foi até num aniversário meu, num sarau na Casa das Rosas, lembro-me bem. No entanto, sobre a última noite eu não me lembro tanta coisa, mas... o que eu me lembro é o suficiente pra guardar até o último movimento.

Comecei seguindo meu roteiro, sim. Fui pra São João e vi o show de Cesária Évora. Primeiro vislumbre da Beleza. Sua música me atingiu por ser tão simples, tão orgânica, tão... música! Lembro-me até dos tímidos movimentos meus. Eu, que nunca danço.

Ao mesmo tempo, havia movimentos suspensos. A bailarina com o bambolê - ou algo assim. Estava ela tão concentrada que não percebia, provavelmente não percebia que o paraíso existia ali, onde toda aquela gente já começava a se esbarrar demais. Ou ela tinha seu próprio paraíso ou... nada disso!

Ok, Cesária já foi. Eu achava que daria tempo de chegar ao palco das bandas alternativas ver Vanguart, quebrando a sequência que havia idealizado antes, no Páteo do Colégio - total equívoco: não deu tempo. No caminho, os primeiros encontros. O Mário, a Marcinha, o Cláudio, a Letícia, a Isa, a Lívia, o Fábio... enfim... sempre bom vê-los, todos, cada um com seu caminho. Nalguns casos, breves passagens; noutros, um pouco de companhia.

Sei lá quanto tempo fiquei ali conversando com o Mário. Depois fomos pra Roosevelt. Parlapatões. Era pra ver o Barba. Mas eu não. Não consegui o ingresso - digo, consegui um, mas como eu já conhecia a peça, preferi que o Mário visse. Enquanto um ia de teatro, outro ia de rua.

Foi quando eu parei numa esquina e sentei num canto. Foi quando eu comecei a conversar com aquele cara, o que pedia dinheiro pra todos que passavam no farol. Já de idade, negro, não lembro o nome. Carioca, botafoguense e bicho solto no mundo. Bom papo. Sabe da vida, apesar dos pesares. Fui à lanchonete em frente e fiz um lanche. Deixei o troco pra ele. Mário voltava. Mais um pouco de papo, antes de eu decidir voltar pra casa. Mas o melhor - que adveio do que talvez muitos considerem o "pior" - ainda estava por vir.

Álcool tem dessas. Dependendo da situação, você fica um bagaço muito rápido. Eu fui pro Metrô. Apaguei.

Surpresa! O que eu fazia ali na saída da estação Vila Matilde, dormindo, em pé, não sei. Os óculos escuros disfarçavam bem. Talvez eu apenas parecesse um tótem, imóvel.

Alguém colocou alguma coisa na minha bebida. Deve ter sido isto.

Acordei quando o Bruno, com a namorada, me chamava. Mais tarde, no msn, ele disse que eu estava falando sobre Timothy Leary. Mas o que eu poderia falar? Não sei, não lembro.

É, realmente acordei. Eu queria ir pra cama e ali não era a minha. Metrô novamente. Mas... cama? Qual o quê! Sete horas da manhã e eu voltei pro Centro, isso sim! Sabe-se lá qual força me movia!

Praça da Sé. Malucos se chocavam em acrobacias bêbadas. Não há foto que traduza. A Fontana de Trevi era ali e também tinha direito a Anita Ekberg. Na verdade, não tanto. Menos, beeeeeeem menos! Era uma menina com cara de índia e camiseta preta do Iron Maiden. Perdera-se dos amigos, estava sem dinheiro. Acompanhei-a um pouco, até a estação São Bento. Um canto eletrônico. Com cara de Amsterdã. Era isso, naquela hora. Deixei a mocinha com dinheiro pra voltar pra casa. Bora andar, vagabundo!

Então, de novo sozinho, o Vale do Anhangabaú era todo meu. E era todo magia. As barracas de lanches, os cheiros, o sol a pino. Oito da manhã... quem sabe? Era de novo um filme do Fellini. E eu era o Mastroianni tupi, cínico e maravilhado (novamente, Alessandro: menos, bem meeeeeeenos!). Mais à frente, um palco. Um quarteto dilacerava o ouvido da manhã explodindo jazz. Ou não, bem mais suave. Era apenas vida. Uma vida única.

Finalmente, senti-me muito bem.

Vi cadeiras na área mais reservada, frente ao palco. Não estavam ocupadas, a maioria. Pedi a alguém da organização para sentar-me ali. - Sim, pode ir.

E eu fui.

Fiquei ali registrando o momento. Era pra sempre. Menos de uma hora.

- Nossa, tem workshop de yoga hoje. Tenho que voltar!

Um suco de laranja e regresso. Passo por Amsterdã novamente, sem parar. Não era o caso. Mesmo. Ao fundo, os sinos do mosteiro. Pra casa!

Na lotação, quase vazia, o motorista liga na F1 - muito alto para o meu descanso. Massa em segundo, 10 voltas para o final. Pelo menos não era o Galvão. Era rádio. Em casa... capoto!

Acordei 15 minutos antes do workshop começar. 15 minutos era o tamanho do caminho, se eu saísse naquela hora. Tentei. Mas tinha de tomar banho, trocar de roupa... e o cheiro do vinho barato e vagabundo da noite anterior não saía. Cama, de novo.

Futebol, com atraso. O gol saiu quando eu ia abrir a porta do quartinho de vídeo. Uma quase certeza: Palmeiras campeão. Ok!

Outra certeza: eu era o campeão da vida, de mim mesmo. Céu e inferno no caminho e, embora não tenha encontrado Beatrice - ou sim, encontrei: era Sampa, bela, surpreendente aos olhos (uma beleza que não se repetirá quando todos estiverem em seus veículos ou nos coletivos, na rotina semanal) -, aqui estou, inteiro pra contar isto pra vocês.

Toda descrição é tão carregada de sensações... no entanto, diante da variedade de tudo o que ocorreu, muito foi perdido, muito não foi visto. Este foi apenas um breve e honesto relato. Haverá outros. Que sejam mais tranqüilos; se não, que sejam tão intensos quanto os fatos. Agora, só me resta retornar ao lugar comum e esconder-me no anonimato do dia após dia. Mas vocês me conhecem e sabem que eu não partiria antes de deixar-lhes...

... beijos e abraços. Até muito breve!

PS O material sobre a Virada Cultural é muito vasto, mas infelizmente estou tendo dificuldades para conseguir fotos dos eventos que presenciei (raios, preciso de uma máquina urgente!), mas tentarei colocar as melhores fotos assim que for possível.

NA MINHA VITROLA: EL MATÓ A UN POLICÍA MOTORIZADO - Viejo Ébrio y Perdido > PLACEBO & DAVID BOWIE - Without You I'm Nothing.

sábado, 26 de abril de 2008

Virada musical

Hoje é dia de Virada Cultural. Quero curtir o máximo que puder, pois não estava em Sampa quando aconteceu a última - embora tudo estivesse muito bem em Ubatuba na ocasião (saudade do pessoal de lá...). Mas hoje meu lugar é na esquina da São Jõao com a Aurora, o coração da antiga boca do lixo paulistana.

O menu é este:

Cesária Évora
A cantora cabo-verdiana que já fez parceria com Marisa Monte e outros cantores brasileiros vem para abrir a Virada Cultural com sua mescla de sons que inclui algo de ritmos de seu país, samba e muito, muito fado. Espero gostar dela ao vivo como eu já gosto nos CDs.

Gal Costa
A ex-musa da Tropicália não deve me atrair tanto. Lembro que já a vi numa apresentação com o finado Madredeus no Ibirapuera e... não foi tão bom. Os tempos são outros. Espero que me surpreenda. Difícil... em todo caso, pode ser o tempo de conversar mais com os amigos, dar uma volta, tomar umas cervejas, coisas assim...

Zé Ramalho
Já tive meu tempo de ouvi-lo absurdamente. Num show no Sesc Itaquera, o encanto passou. Percebia-se certa má vontade do artista no palco e a decepção foi grande. Mas hoje é outro dia, outra história. Quem sabe?

Os Mutantes
É verdade, não é a formação original, não há mais o frescor e a rebeldia da juventude e a coisa toda toma ares de "supergrupo". Mas vamos lá, quem sabe, se não estiver derrubado, possa me divertir com velhas canções?

Independente de qualquer coisa, será um dia divertido, de rever amigos que estiveram distantes por um tempo. E isso vale muito! Mas... espero ter pique pra tudo, senão... o tiozão aqui simplesmente volta pra casa... eh eh eh!

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: OS MUTANTES - Baby > Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Meu Rock 'n' Roll.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Porque te amo deverias ao menos te deter um instante...

Passado o momento de maior intensidade esportiva, voltemos nossas atenções à poesia. E Hilda Hilst prossegue aqui. Vamos lá:
Foto da série Kennitta, de Jim Guzel (EUA).
Ode Descontínua para Flauta e Oboé
De Ariana para Dionísio

IV


Porque te amo
Deverias ao menos te deter
Um instante

Como as pessoas fazem
Quando vêem a petúnia
Ou a chuva de granizo.

Porque te amo
Deveria a teus olhos parecer
Uma outra Ariana

Não esta que te louva

A cada verso
Mas outra

Reverso de sua própria placidez
Escudo e crueldade a cada gesto.

Porque te amo, Dionísio
É que me faço assim tão simultânea
Madura, adolescente

E por isso talvez
Te aborreças de mim

Volto para mais, em breve. Aguardem, pessoal! Beijos e abraços!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Alma lavada, sim!

Ok, hoje vou falar de futebol, assunto pouco familiar a este blog e que geralmente não traz espécie alguma de comentário da parte dos leitores, que buscam aqui alguma forma de arte.

Pois bem, eu afirmo: eu tinha muita raiva!

Sim, porque, ganhando limpamente ou não, o Palmeiras vinha sendo o "freguês" preferido de um determinado time. Houve partidas absurdas nos últimos anos em que o Palmeiras, que muitos sabem, é o meu time, vinha sendo prejudicado por arbitragens, de uma forma ou de outra. Ou era a bola que batia no juiz, de forma a armar o contra-ataque fatal do time adversário (ok, neste caso, um acidente), era a regra do futebol sendo modificada a ponto de eu pensar que meu time teria que treinar voleibol durante esta semana, era um simples gol anulado que seria a favor do meu time (esta é relativamente recente: segunda partida entre as equipes no Brasileirão do ano passado - a mesma em que o goleiro reserva deles tentou armar contra o meu time, fingindo ser agredido... ainda bem que ninguém caiu nessa!). Tudo bem, erros acontecem, mas eram erros demais a favor de um time e contra outro, nos últimos anos. Dá até pra suspeitar. Isso sem levar em conta algumas sutis decisões de arbitragem...

Não tiro o mérito de grandeza do outro time, porque em alguns momentos nestes últimos anos, realmente foram superiores a qualquer outra equipe do país. Mas agora, como em outros tempos, precisam aprender a "dividir o bolo", como quando um grande mestre (este merece o nome citado: Telê Santana) dirigia aquela equipe e um outro mestre, com sobrenome de um pequeno país europeu, surgia dirigindo o plantel alviverde. Sim, é tempo de "dividir o bolo". Futebol, como tudo na vida, é cíclico.

Mas a mim, particularmente, enervava o fato de meu time ser eliminado seguidamente por aquele outro time, nem sempre de maneira justa.

Hoje, por mais que o Campeonato Paulista seja o menos importante dos campeonatos importantes, sinto-me de alma lavada.

E o que falar da perda de compostura do goleiro-líder-de-postura-politicamente-correta (e minha mãe o adoooora...) acertando um tapa no nosso grande ídolo e, sim, provocador, mas craque, Valdívia?

Eu nem vi o jogo ao vivo, infelizmente ou felizmente. Estava a caminho de um evento de teatro, o mesmo que citei dois posts atrás. Mas acompanhei tudo o que acontecia pelo rádio do meu aparelho de mp3 e, ainda, tive a alegria de ver ao vivo, num boteco no meio do caminho, o gol que selou o caixão do time que em 1942, ano em que minha mãe nasceu, foi o causador da mudança de nome do meu time, de Palestra Itália para Palmeiras, em função de alguns decretos anti-países-do-eixo durante a Segunda Guerra. E, sim, eles simplesmente não tinham motivos patriotas para tentar tomar o patrimônio do Palestra Itália/Palmeiras (a quem não sabe, o Parque Antártica - o estádio deles não existia ainda), mas tinham uma gana de time muito ambicioso e audacioso, de formar patrimônio rápido - era um clube novo, formado à base de anexar outros pequenos times da década de 1930, de pequenas colônias, como o Germânia, ou com problemas financeiros, como o Paulistano.

A quem não sabe, naquela ocasião, o Palestra Itália morreu líder daquele Campeonato Paulista e o Palmeiras nasceu campeão. E qual era a equipe contra a qual nos sagramos campeões, senão eles? Pois bem... o jogo estava 3 a 1 para o Palmeiras e o juiz da partida marcou um pênalti a nosso favor... no entanto, eles, inconformados com a marcação, abandonaram o campo de jogo, permitindo ao Palmeiras comemorar o primeiro título de sua história com este nome, no primeiro jogo de sua existência com o novo nome.

Ok, nunca ganhamos uma partida de Libertadores dos adversários de ontem (e foram oito partidas no decorrer da história...). Mas isto acontecerá, num momento decisivo, muito em breve, no ano que vem. Porque acredito que o Palmeiras está num processo de revitalização de sua grandeza. Com isso, os adversários, todos eles, terão de nos respeitar mais do que acontecia nos últimos anos. A fila está acabando!

Amigos e amigas torcedores de tal time, não levem tão a mal, mas a minha bronca em relação ao time pelo qual vocês torcem é muito grande e justificada. As provocações, mais ou menos sutis no decorrer dos anos, alimentaram uma antipatia que só é comparada à antipatia que sinto por uma certa equipe que veste uniforme azul em Minas Gerais. Não digo que vocês, mas digo que a equipe pela qual torcem foi merecedora da derrota. Contra o gol de "manchete", talvez valha um genérico de gás de pimenta, embora o poder de um gol validado seja muito maior que o poder de um ato de molecagem de alguns.

E, agora, que venha a "macáquina" (a quem não sabe, a Ponte Preta, a outra equipe classificada para a Final), como diria um amigo meu.

Claro, um videozinho essencial:


Beijos e abraços aos torcedores de qualquer time! Também aos que não se interessam por nada disto!

NA MINHA VITROLA: Nada, mas poderia ser o hino do Palmeiras, com muito orgulho.

domingo, 20 de abril de 2008

Faz tempo

Acordei. E tinha de transformar sonho em arte de alguma espécie. Quando vou perder este hábito? Eh eh eh...


Faz Tempo

eu era o garoto que se perdeu da excursão

que tinha nas mãos uma playboy
com a musa do verão


chovia e estava frio
quem dera me encontrar
eu não contava com a falta

e que podiam me buscar


tinha fome e medo

mas alguma coragem

girar por aquelas ruas
era o único a fazer

sem conhecer o lugar

parei na lanchonete para perguntar
com aparente dó de mim

um mendigo pagou um lanche

e quis arranjar um canto pra eu dormir...
com ele

eu tinha sonho e sorte
ele pensou e pensou

deixou-me ir

antes de ser

voltei pra rua e chuva
querendo me encontrar
não tinha mais revista

mas eu tinha eu
e a alegria quando vi aquelas grades do lugar
onde estavam todos
os amigos saudosos
mas nada...
tudo que encontrava era nada


beijei uma menina que estava lá
e ela sorria
mas isso foi antes
de perder-me

tinha uma mochila pra reencontrar

com lanches deliciosos que mamãe fez

eu tava tão faminto

mas era certo
os amigos maldosos pegaram todos

e ninguém se importou em me buscar

eu vi, eu vi... jogavam handebol
e todos sorriam e suavam

mas isso foi antes
de eu partir

eu tinha uma magia
e um caminho estranho a trilhar
dentro do sonho

e fora, sim...


agora eu também tenho que
acordar


não tenho mais 10 anos. e isto faz tempo.

É, agora sigo sonhando acordado. Sonho imprescindível. Mas não, não estou perdido. Embora os caminhos sejam estranhos, sei de uma coisa: tenho objetivos.

E vocês... vocês têm a poesia! Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: MADREDEUS - O Sonho.

sábado, 19 de abril de 2008

Uni-vos, antropófagos!

E eu estarei lá. Cliquem sobre a imagem para saber mais.

Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: BRITISH SEA POWER - Atom.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

E minha boca se faz fonte de prata...

Bom, depois de todos estes dias agitados e que, consequentemente, geraram algum enfado, volto à carga. E volto com Hilda Hilst e o Canto III de sua Ode Descontínua...
Foto de Stanko Abadžic (Croácia).

Ode Descontínua para Flauta e Oboé
De Ariana para Dionísio

III

A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavras
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.


A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada

E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?


Bom, por hoje é isso, pessoal. Logo volto com mais. Beijos e abraços!

domingo, 13 de abril de 2008

Sarau, observações e uma poesia de nome Poesia

Bom, estou cansado. O sarau me exauriu não em sua realização, mas sim durante a semana, em termos de pequenas coisas a fazer e preocupações quanto ao sucesso do evento. Pois eu lhes digo: foi um fracasso estrondoso e divertido! Claro, divertido para os pouquíssimos que compareceram.

Fracasso porque praticamente não houve público, a não ser a galera do Cafofo e alguns gatos e gatas pingadas (estas, as lesbiquinhas, segundo o Marco... eh eh eh!) que, ao que me parece, nem estavam lá pelo que estava acontecendo.

Fiquei triste com a falta de interesse e compromisso dos Prophanos, com exceção do já citado Marco, do Mafra e da Ale, que estava simplesmente deslumbrante - com todo respeito ao Mafra! Agradeço por terem ainda nas veias a grande vontade de arte.

Mas se houve o que me entristecesse, também fiquei alegre com o empenho e a boa vontade da turma do lugar: Luiz, Caio, Lu, Xica e o menino da segurança, cujo nome esqueci, muito obrigado!

Mas o que faz um poeta prosseguir, ainda que haja tantas pedras no meio do caminho, tanta gente tão campeã em tudo, apontando o dedo e ridicularizando a arte? E há os que a querem, mas são arrebatados para longe do caminho, por mil motivos.

O que me leva a prosseguir é a certeza de que sei do que sou capaz e que serei capaz de mais. Sei também que não é à toa o caminho que escolhi. Pode o mundo desabar, tenho um refúgio, uma realidade, um prazer: a palavra.

Posso já ter sido derrubado, posso ter permitido que acontecesse. Mas nunca levarão isto de mim. Desânimo é apenas uma idéia que hoje passa longe.

Não importa onde, quando, como... tenho a arte. E será um crime contra mim e, talvez, contra o mundo, se não carregar esta que é minha única bandeira.

Reconhecimento? Tenho o meu. Tenho o de vocês, poucos e fiéis. Se houver mais, o tempo é vasto e sou paciente, embora realmente não espere tanto.

Vamos ver o que acontece. Ontem houve poesia. E hoje há, também.

Poesia

tenho mil palavras doces para abrandar
os corações dos leões
e também sei atirar pedras para agredir
gigantes imbatidos.

embora eles não sintam,
eles sentirão.


tenho uma arte
e você não tem.
tenho uma arte
e você, não.


é uma parte da história que ninguém leu,
um pouco de sombra.

é o oásis onde descanso e me refresco,
também areia escaldante.


embora o sol seja tão quente,
eu sinto que...

tenho uma força

e você não tem.

tenho uma força
e você, não.

as ruas estão desertas,
o caminho é perigoso,

dizem que é bom não se distrair.
apesar disso, ainda há uma beleza no parque:
uma primavera e um verão,
enquanto admiram o cinza e o frio
eu vejo e sinto
e carrego na pupila
e
na memória
o que tão poucos preservam.


tenho uma chance... e você, não sei.

É sobre como viver a vida, não? É sobre como alguém pode ser "bem-sucedido", ganhar muito dinheiro, adquirir algum conforto, mas não conseguir sentir o simples prazer das coisas. A despeito de tudo isto, será que no final haverá sentido? A poesia é sobre estes, mas não para estes.

Poesia, beijos e abraços em suas vidas, poucos e bons amigos!

NA MINHA VITROLA: BELLE & SEBASTIAN - Seeing Other People > INTERPOL - Heinrich Maneuver > ARCADE FIRE - Intervention > ONE FOR JUDE - Litanie > DAVID BOWIE - Ashes to Ashes.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Heima

Heima. Vem do islandês. Significa, em português, "em casa". Este é o documentário que estava vendo ontem, que mostra o final da turnê dos CD Takk, com diversos trechos de apresentações gratuitas que a banda islandesa Sigur Rós fez, parando em diversas cidades da Islândia, belo país - por sinal, um belo e frio país... brrrr, de ver as imagens já se sentia a temperatura cair.

As imagens são realmente espantosas de tão bonitas, em cada lugar que a banda passa, apresentando suas composições recheadas de camadas de sonoridades, das mais singelas às grandiosas.

Tudo é coroado com uma apresentação poderosa em Reykjavik, a capital do país, quando nos é trazido um trecho intenso de Untitled VIII, música que encerra o disco anterior da banda, ( ). Em seguida, os últimos comentários do vocalista, Jón þór Birgisson, e os créditos finais, ao som de Untitled III.

Espero que um dia retornem às terras tropicais, visto que eles já tocaram por aqui em 2001, no Free Jazz, no mesmo dia que o Belle & Sebastian. Ocasião esta em que tive o prazer de ouvir falar de Sigur Rós pela primeira vez, na televisão.

Fiquem com o trailer de Heima. Beijos e abraços, pessoal!

Heima - trailer

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Porque tu sabes que é de poesia minha vida secreta...

Bom, as tristezas... há o suficiente delas no mundo. O anime do qual falei agora há pouco me levou a lembrar do caso do pequena Isabela, caso este tão revoltante, assim como é capaz de causar indignação todo o abuso da imprensa, esta sede vampiresca pelas grandes coberturas. Horrível, horrível...

Até porque já se fala o suficiente do caso, vou calar aqui minha não-aceitação. Ao mundo faz falta um pouco da beleza das poesias. E tenho aqui um pouco mais disso - sigamos com o canto II da Ode Descontínua.
Foto de Dave Rudin (EUA).
Ode Descontínua para Flauta e Oboé
De Ariana para Dionísio

II

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu.

Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.


Bom, é isto por hoje, pessoal. Hora de ir pra cama - passou da hora, até. Mas já é tão comum para mim... mas... beijos e abraços!

O túmulo dos vagalumes

Nunca pensei que um anime poderia ser tão triste.

Mas pode. Assim é O Túmulo dos Vagalumes, um conto de fadas de guerra.

Guerra. Tema que me cansou há algum tempo. Tampouco sou fã de anime, mas rendo-me a este. Não é qualquer coisa. O estilo e os traços simples da animação, aliado à narrativa sentimental e poderosa sobre dois órfãos que têm de se virar num Japão sob ataque americano prende e comove.

O adolescente Seita e sua pequena irmã Setsuko, de 4 anos, são forçados a sair de casa quando os bombardeios começam. Durante o ataque, a mãe é seriamente ferida e acaba morrendo. Então eles procuram uma velha tia, irmã de seu pai que deveria estar no front (não, ele não está, não mais... por isso as cartas de Seita não são respondidas). Mas a mulher não é necessariamente uma pessoa sensível - e ninguém é, ninguém olha para os irmãos perdidos perante as dificuldades de sobrevivência. O básico faz falta.

E, sim, ali estão eles no mais hostil dos mundos, onde a visão das casas e corpos queimando e dos impiedosos aviões enviando a morte não lhes é poupada, ao mesmo tempo que há uma leveza muito lúdica, pueril - a última chama de inocência.

Após saírem da casa da tia, os irmãos encontram um abrigo abandonado, onde as condições de vida não são exatamente as melhores, mas eles vão se virando como podem. Não poderão por muito tempo...

Setsuko fica muito doente e Seita entra em desespero. Quando tudo parece começar a se resolver, a solução simples já não adianta. E a tragédia, anunciada desde o início, tem seu lugar.

Num dado momento, Setsuko pergunta ao irmão "por que os vagalumes tem de morrer tão depressa?". Ninguém sabe, Setsuko, ninguém sabe.

Grande realização de Isao Takahata, O Túmulo dos Vagalumes data de 1988 e é considerado um clássico entre os aficionados. Não é pra menos. Vocês duvidam? Então vamos de trailer:

O Túmulo dos Vagalumes - Isao Takahata


Isto não é tudo por hoje. Daqui a pouco, posto o canto II da Ode Descontínua..., da Hilda Hilst. Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: PORTISHEAD - Silence > Hunter > Nylon Smile > The Rip.

sábado, 5 de abril de 2008

Um pouco de humanidade, pra variar

É, pessoal, o próximo dia 11 vai ser pra ficar na memória! Um pouco de humanidade, pra variar!

Sim, humanidade, o grande mote! Com tudo que isto pode trazer de bom ou ruim. É isso que os Prophanos vão revelar em mais uma noite inesquecível!

Quem quiser e puder, não perde!

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: VAMPYROS LESBOS - Droge CX 9 > The Lions and the Cucumber.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

E o verso a cada noite se fazendo de tua sábia ausência...

Foto da série Landscape of Body/Krajina Těla
de
Aleš Rajský (Rep. Tcheca).

É noite lá fora. Enquanto os amantes se encontram ou se desencontram, enquanto os times de futebol se alinham para as partidas, é hora de postar o primeiro canto da Ode Descontínua... de Hilda Hilst. Deleitem-se:

Ode Descontínua para Flauta e Oboé
De Ariana para Dionísio

I

É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria

O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza

E sorver reconquista a cada noite

Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:

A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

Se há uma divindade, ela se esconde nestes versos, amigos. Não me cansarei por estes dias. Beijos e abraços!

terça-feira, 1 de abril de 2008

E o que tu dizes nem pode ser cantado...

Foto de Bernd Mayr (Alemanha).

Estava aqui, à noite, só, gastando meus dedos no teclado em alguma pesquisa e os ouvidos com alguma música, quando me deparo com alguns mp3 que havia baixado a algum tempo.

Como sempre estou conseguindo muita música pela web afora, é tarefa hercúlea ouvir tudo o que chega. Mas vez por outra, no shuffle do meu Winamp, tocava alguma daquelas canções. Eu já gostava e dizia "um dia vou ouvir isso inteiro". Pois bem, quando houve o deparar-me com os tais arquivos, nesta noite, não pude mais recuar.

E, sim, digo que fui cativado. Creio que já é a quarta vez, neste momento, que só escuto essas músicas.

Trata-se do Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio, ou melhor, a versão musicada da poesia da desbocada e lírica Hilda Hilst por Zeca Baleiro.

Zeca e Hilda durante o processo de composição, em
2003 - portanto, um ano antes da morte da poeta.
O resultado? Ora, se não fosse algo impressionante e belo, eu não estaria aqui, ouvindo tantas vezes as mesmas músicas sobre o amor impossível entre Ariana e Dionísio. E não estaria aqui, escrevendo sobre este trabalho.

O compositor maranhense se encarregou dos arranjos, com o aval da poeta paulista. Teve a grande sacada de convidar algumas das melhores intérpretes da música brasileira para os 10 cantos da Ode Descontínua.... A saber: Rita Ribeiro, Verônica Sabino, Maria Bethânia (cujo vídeo vocês verão aqui abaixo), Jussara Silveira, Ângela Rô Rô (a "culpada" pelo melhor momento do trabalho), Ná Ozzetti, Zélia Duncan, Olívia Byington, Mônica Salmaso e, finalmente, Ângela Maria.

Hoje, deixo vocês com o clipe e um link para uma entrevista com Zeca Baleiro. A partir de amanhã, postarei os versos da Ode Descontínua...

Termino este post dizendo apenas que devem procurar o CD. Comprem, roubem, baixem, aluguem, emprestem... mas ouçam! Quem gosta da boa música, quem busca a beleza em todas as formas não pode passar sem a experiência.

Beijos e abraços, povo!

Entrevista com Zeca Baleiro para o site Overmundo

Zeca Baleiro e Maria Bethânia - Canção III