terça-feira, 3 de novembro de 2009

O tempo mirrado

Ah, não me dei conta. Digo, até que sim, mas foi quando as coisas passam pela cabeça, num momento em que não se poderia fazer. E, quando se pode, se esquece.

Pois é. Foi em outubro, no começo do terceiro terço do mês agora acabado, que este espaço completou cinco anos. Mas isso é mesmo relevante? Que o espaço exista, tão somente. E sou mesmo ruim de datas, se não me avisam.

Celebremos melhor agora, que a poesia veio espontânea.


O Tempo Mirrado

Porque andamos todos com pressa e,
na pressa, perdemos o pique.

Já não se usa poesia.
Já não se vê além do concreto.
E é por isso que gostei de Brasília,
havia concreto, mas havia mais
céu
e as cigarras acolhiam.

Eis a poesia da pocilga,
a do Pasolini, inclusive.
Consumo,
consumo-me e deixo consumirem.
Antes de sumir, antes de dormir.


Insisto em não morrer.
Entre latas vazias de cerveja
que já devia ter jogado fora
e contas que ainda não pude pagar.

Ou não quis.

Mirror, mirror... o que fez com o tempo?

Na parede, um quadro
com foto de criança
que os amigos insistem em
transformar em motivo de
esculhambação.

Eles têm razão.
Mas também não.

Porque há saudade da inocência.

Mas se quer uma vida selvagem,
venha para a cidade.

Conheça a mulher-fragmento.
Na verdade, conheço algumas
da espécie.
E não há perigo de extinção.
Feras que não devoram.

Como estas linhas,
a poesia-fragmento.

Gosto do meu ritmo,
do que faço.
Ou da falta de.
Mas é que me rendo.
Aceito.
Assino o contrato.

Nos deram espelhos...
e já vimos um mundo saudável,
porque a doença
faz parte de nós.

Mirror, mirror... o que é feito de nós?

Hoje é isso. Amanhã, que não significa o exato dia, tem mais. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: DAVID BOWIE - Joe the Lion.

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