Eu sei que, já que pegaram este trem, estão interessados em tudo que possa ser contado, afinal, nossa viagem é ao âmago das palavras. Pois eu lhes digo:
A última noite foi uma noite de amor. Sim, apaixonei-me por Scarlett O’Hara. Foi um amor distante, de mão única, jamais retribuído. Ela provavelmente nem percebeu a minha presença, pois estava do outro lado da tela. Mas eu a amei, platonicamente, e foi bom. Agora vocês podem conferir o que gerou esta paixão:
Scarlett O’Hara Visita o Jardim de Concreto de Loucobardo
Scarlett, ó rara!
Ouça quem lhe fala, um pobre loucobardo
Fuja comigo para longe desta guerra terrível
Você, que é a estrela de minhas lucubrações
Fuja comigo, mas somente comigo
Abandone suas paixões, seus caprichos
Aí onde vive não há mais nada
Bem sei que tem ganhado força
Tem visto a dor e o sangue que escorre
Mas aqui já é outro lugar
Não estamos bem, maravilhosamente bem, assim separados...
Sei também que não sou o cara adequado
Sou apenas mais um latino-americano
Mais ao sul, mais ao sul que seu sul
É verdade que eu e os meus não vivemos maravilhosamente bem aqui, minha musa
Aqui há uma guerra de outra natureza
Diferentemente suja do que a de seu lugar, no seu tempo
Ainda que não aceite minha proposta, ao menos reflita
Venha para meu jardim de concreto e eu lhe farei feliz, tanto quanto é possível
Scarlett, aqui deveria ser seu lugar
Onde aprenderia um outro viver
Talvez melhor, talvez pior
Onde aprenderia um outro amar
Quem sabe como? Quem sabe porquê?
Aqui escorrem sangues outros
E o tempo transcorre, tragicamente
Mas é tão sutil a tragédia...
Seria ainda mais rara estrela, nesta terra
Seria ainda mais bela
E quando as rugas teimarem em surgir
Eu permitirei que retorne ao seu lugar, sim
Porque terá merecido esvair-se em seu solo
Será doce sua partida
Eu lamentarei e, sobretudo, lembrarei dos momentos bucólicos
Nós dois deitados numa rede, entrelaçados, talvez contando estrelas
Você contando histórias da infância na velha Geórgia
Das traquinagens e de como deveriam satisfazer-lhe a vontade
Eu chegando cansado, você servindo-me chá, tirando-me os sapatos e massageando-me os pés Scarlett, eu me lembrarei de tudo, de tudo...
Do calor de nossa paixão
Mas devo esquecer... é uma pena!
Você jamais faria massagens em meus pés
Ademais, Scarlett, rara Scarlett, você não existe
Simplesmente você não existe...
Escarlate, Escarlate como a Vida
Scarlett de vermelho
Scarlett triste e sozinha
Somente acompanhada de cicatrizes profundas
Mas esperançosa
Vá, Scarlett, volte para sua terra
Mas volte você, como é, que é sua terra
Ele voltará ou não
Vá para a sua cultura de algodão
Vá para o que você era
E espera...
Não mais triste e sozinha
Risonha e cercada de gente
Seus pais, aquela juventude orgulhosa de antes da guerra
Todos os seus pretendentes e as moçoilas invejosas
Os escravos, e todos, todos ao seu redor, de alguma forma
Não esqueça os pesadelos dos combates, a miséria, a desgraça toda
Tudo aquilo a torna forte
Vá, Scarlett escarlate
Vá sem puderes, mulher!
Você jamais foi uma dama
Jamais se prenderia a algo ou alguém que representasse uma forte ilusão
Ou pelo menos a um homem mais forte que aquela tamanha quimera
Mas você é um colosso todo vermelho, vivo
Paixão, Scarlett, puramente paixão é sua essência
Errou, e errou muito... nem por isso seria gentil condená-la
Apenas é um caso de uma mulher que não traiu sua natureza
Vermelho-vivo, o sangue passeia por veias e artérias
Então vá, Scarlett
Ergue a cabeça, sorri e toma seu destino em suas mãos
Sua terra, vermelha e viva, a espera
Quem sabe ele irá encontrá-la?
Pois você é vida, e ele precisa disso
Você existe
Tão somente existe
Meus bons amigos, espero que tenham gostado desta etapa de nossa viagem. Agora vamos seguir em frente, que há muito mais pelo caminho! Abraços e beijos a todos!!! Até breve!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário