quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Vamos ver o alvorecer

Olá, senhores passageiros. Prosseguimos nestes últimos dias com notícias pouco interessantes? Que nada! Se pelo mundo afora o Arafat está morrendo (já morreu, aliás?) e se o Bushinho ganhou por mais quatro anos o trono no paço imperial White House, por aqui eu devo dizer que muito em breve haverá reedição do Palavra Atômica, aquele meu livrinho de poesias, sabem? Também tenho trabalhado no layout de meus novos livros, que devem ser lançados em 2006, se tudo ocorrer de acordo com meus planos. Quando for o momento falarei mais sobre o assunto.
As coisas andam bem, sabem? Tenho feito umas jornadas interessantes e ontem (digo, anteontem) estive ao SESI Paulista, para ver Violeta de Outono e Orquestra. Foi um ótimo show onde Fábio Golfetti e seus parceiros mostraram porque são reverenciados até hoje pela galera que viveu os anos 80, indo o mais longe possível na viagem psicodélica-progressiva a la Floyd dos primeiros dias, aliando a isto a força de uma orquestra dirigida pelo maestro Juliano Suzuki, da Orquestra Sinfônica da USP. E hoje (digo, ontem) estive na biblioteca Mário de Andrade, para assistir uma palestra sobre Paul Valéry, um grande poeta francês do início do século passado, que trilhou o caminho dos grandes Baudelaire e Mallarmé (como se fosse só isso o que ele fez... eh eh eh!!!), ministrada pelo ótimo João Alexandre Barbosa. Em, ocasiões como esta, raramente conseguem arrancar aplausos sinceros de mim. Pois Barbosa conseguiu, fiquei babando e assim que terminar de postar, pesquisarei sobre Valéry na net.
Enfim, a vida começa a me sorrir novamente. E poderei ver o alvorecer. Vamos vê-lo juntos? Como a viagem para mim anda tão boa, tão proveitosa, quero que seja o mesmo para vocês, por isso deixo aqui alguns poemas novíssimos. Espero com eles atingir meu intento de proporcionar alguma satisfação. Leiam só:

Eu a Quero

em são paulo você nunca está sozinho
no meio de toda sua solidão
uma cidade tão bonita e tão concreta
vícios na esquina da contravenção
na sombra aguardam o vagabundo o presidente
outdoors prédios e camelôs
toda a sujeira das ruas as direitas os sujeitos
o povo ensandecido nos metrôs
são paulo é tão sexy quanto sardinhas em lata
na marmita do peão famélico
são paulo é tão casta quanto um estuprador
que depois lhe salva como um médico
são paulo são seus rios malcheirosos que me matam
é sua periferia inculta que me atrasa
o seu centro me atordoa de trânsito e caos
são paulo é feia e me faz mal
e eu ainda quero esta puta
como a uma suspirante donzela


Olhos Sujos

os olhos sujos, meu filho, os olhos sujos...
lave-os bem, pequeno canalha
acorde, mas acorde de verdade
acorde e grite, grite bem alto
que lhe ouçam em Saragoça
quiça mais além, em Nova Délhi
e, por falar em acordes,
refaça os mal-feitos desta sinfonia bizarra
sim, refaça-os para que alguém queira ouvi-lo
em Vancouver ou na Central do Brasil
vamos, seu imundo, imbecil!
vamos que os atletas de Nairóbi o ultrapassam
mas, se não puder cantar e gritar e correr e viver de verdade
se não tem vontade alguma
é porque nasceu para obedecer
então obedeça à minha ordem:

levante-se e lave estes malditos olhos sujos!!!
gambiarra
João Bobo

em todo lugar que eu vou é assim...

sempre há um bobo
disposto

a estragar tudo

bing
bang
bong,
gambiarra
joão bobo

com um dedo
eu o derrubo
gambiarra
Ensolarada Califórnia

Dois mil caças apontando seus mísseis
Para um alvo de inocência/culpa discutível

Sim, dois mil... algo mais ou algo menos

Se seus pilotos pudessem relaxar
Conversariam sobre baseball ou basketball
Desejariam aquelas mulheres de peitos inflados como balões

Se pudessem estar em casa
Engordariam ao ritmo de batatas fritas e hard rock
Mas não podem...

Dois mil deles, apenas aguardando o momento exato
Bem-vindo será o sangue inimigo?
Não, sim... nada pessoal
Eles preparam o caos para os que estão em terra saquearem,
Estuprarem, gozarem do choro de suas vítimas
Toda aquela orgíaca balbúrdia conhecida de uma guerra

Pouco importa, entretanto...
Querem voltar logo às batatas fritas e às suas mulheres e crianças gordas
E então? Hora de eclipsar o sol?
Ah... quem saberá?
gambiarra
Na Beira da Estrada

na beira da estrada
eu vi
a vida acontecer - no bar da esquina
na terra do fogo
gambiarra
no banco da praça
eu vi
um jovem casal - o passeio dos velhos
das crianças o brinquedo
gambiarra
na hora do jogo
eu vi
a copa do mundo - nos olhos o desejo
do homem a força
gambiarra
na era de ouro
eu vi
o feio no belo - da moeda o reverso
no verso o amor
gambiarra
no templo do oráculo
eu vi
o futuro ser - do berço da vida
ao leito de morte
gambiarra
nada era tão acre
diria até doce

há quem queira manter o povo longe da cidade

não faz mal...
a festa se dá na beira da estrada
gambiarra
Bom, isso é tudo por hoje, senhores passageiros. Hora de pernoitar, para vocês. Eu vou fazer umas pesquisas, como disse antes. Beijos e abraços, meus caros. Até breve, em mais um trecho desta viagem que pretendo que seja longa.