sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Reminiscência do parque

Longe de tudo, de todos. É a palavra presente. A calmaria. Nenhuma relação com outra coisa. A palavra, apenas.

Reminiscência do Parque

Ah, essas vozes que teimam em se fazer ouvir. Cada coisa, cada pequeno fato, tudo o que vem à tona. E este céu que alterna a luminosidade solar e a sobriedade das nuvens...


É um parque. Estava lá para exercer sua solidão. Embora não esteja tão só: tem um bom Cortázar na bolsa e todas aquelas lembranças. Do tempo em que foi rei ou, pelo menos, sentia-se um.


Passando pelo verde e florido caminho, cenário de um antigo ritual em que as pessoas riam e se alimentavam felizes. Os melhores amigos que um rei poderia ter. Eram majestades, também. Hoje, correm buscando qualquer conforto, o que nenhum deles tinha tanto. Mas tinham outras coisas: certa alegria que não se resgata. Uma pureza incondicional. Não que tudo tenha se perdido para sempre. É que... o que divaga sente falta do sorriso da amiga, dos versos que escrevia com o amigo. Claro, tinha a ideia de que, além de seus reinos, havia algo de podre. Ainda assim, aqueles eram seus reinos. Havia esperança, talvez. Sim, havia.



Pausa.


Ali atrás, na lagoa, no cenário do que rememora, patos fazem algazarra quando alguém se aproxima da cerca. "Ah, tenho que tirar umas fotos disso", pensa.


Antes, outro palco, no mesmo nível da plateia, sob o quiosque, onde outrora exercera o papel de majestade. Estavam ali mais amigos, ouviam-no recitar os poemas belos, os poemas amargos, os de Marte, de Júpiter, de Vênus. Tudo tão igual e, no entanto, tão diferente. Era, não é mais.


Ele também quer certos confortos. Abriu mão do trono, da coroa, de tudo o que lembrava a realeza de seus domínios, para lutar em alguma arena estrangeira. Assim como a maior parte das pessoas que lhe são caras, tão distantes agora para um abraço físico. E como queria um abraço. Este é outro conforto. Isso se vende?


Nos outros dias, aqueles que resgatou em memória, aprendeu a abraçar calorosamente um abraço fraterno, sem políticas do bem-viver, sem reservas. Agora, há menos disso. Há perda. Há saudade. O melhor vinho do mundo não cura algo assim.

Resigna-se. Pega o livro na bolsa e vai ler.

É um jeito de resgatar um pouco do que era. Entre as árvores, o vento segue livre, tocando sua pele, a de todas as coisas, num fim de tarde sentimental. Então sente-se tambem livre. Entre um parágrafo e outro, pensa que, quando morrer, quer que seus restos repousem ali.



Tudo é isto, por hoje! Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: BABA ZULA - Yaþlý Aðaç > BABA ZULA & MAD PROFESSOR - Kisaltmalar.

Nenhum comentário: