quinta-feira, 8 de março de 2007

Emperor's coming!

Temos visitas na cidade. Temos um singelo diálogo neste singelo espaço. Confiram:


O Empréstimo

H1 E agora? O imperador do mundo virá!

H2 Sério? Ele virá?

H1 Sim. Porque você tem essa expressão feliz? Você não percebe?

H2 Não, apenas estou feliz porque ele olha para nós.

H1 Eis a questão... precisamos fazer alguma coisa para agradá-lo.

H2 Sim, um presente luxuoso. Mas isto não será problema.

H1 Parece que você não enxerga, né? Há apenas miséria fora de nossa redoma. É preciso fazer algo. E urgente.

H2 Pensando bem, o que temos de mais valioso aqui?

H1 Estou pensando, estou pensando...

H2 Podemos ceder uma de nossas virgens...

H1 Não diga asneiras! Elas estão repletas de doenças. Pensa que ele vai aceitar uma doce jovenzinha que tenha uma mínima cárie?

H2 É. Você está certo...

H1 Cuidado com o que pensa. Você pode ser punido com o pior dos castigos: o escárnio público.

H2 Mas eu não sou livre pra pensar e expressar o que penso?

H1 Você é quem pensa. Em todo caso, vamos dando corda.

H2 Mas, afinal... o que podemos fazer pra agradar o chefe?

H1 Aaaaaaaahh... agora gostei. Seja objetivo. Pensemos no que realmente importa. Isso de liberdades fica em segundo plano. Temos que causar boa impressão.

H2 Ei, estou tendo uma idé...

H1 Bingo! Seja lá qual idéia você tenha tido, a minha é melhor. Ouça, ouça!

H2 Ouço...

H1 Pois bem, a sua esposa, a quantas anda?

H2 Anda um pouco triste, a coitada. Não tem mais o mesmo vigor, a mesma juventude de outras décadas...

H1 Mas o que acontece, homem? Não sabe cuidar bem de sua mulher?

H2 Não é este o caso. As coisas simplesmente acontecem... e o tempo é o que mais acontece.

H1 Pois eu me lembro como sua mulher era bela. Ainda noutro dia estávamos em festas e ela se destacava das demais de tal forma que...

H2 Mas... o que você está pensando?

H1 Que posso resolver duas questões em apenas um ato.

H2 Explica isso melhor?

H1 Bom, eu quero que você traga sua esposa aqui amanhã. Depois poderei explicar o que tenho em mente.

H2 Não sei se estou gostando disso...

H1 Calma, não será nada ruim. É até algo honroso.

No dia seguinte, H2 leva sua esposa para que H1 a veja. Realmente ela trazia consigo uma fisionomia, um ar de beleza exausta, de quem já havia se consumido nos inúmeros prazeres da vida e de repente começava a pagar o preço. De todas as coisas que havia perdido, a mais grave era a habilidade da fala.

H1 Mas... até outro dia ela falava pelos cotovelos... e era divertida, o brilho das festas. E já foi bem mais bonita, é verdade. Mas o que você tem feito dela, homem?

H2 Eu, nada. O tempo, tudo.

H1 Ainda assim, ela é a melhor pessoa para o que tenho em mente...

H2 É mesmo?

H1 Sim.

H2 Eu não entendo...

H1 Calma. Faça apenas o que eu lhe indicar.

H2 Bom, eu confio em você.

H1 Leve-a à clínica médica. Lá, ela receberá o tratamento adequado.

H2 Tratamento adequado?

H1 Sim, homem! Pequenas intervenções cirúrgicas e aplicação de alguns elementos farão de sua mulher tão radiante quanto nos tempos em que éramos todos muito jovens e nos encantávamos com a visão dela.

H2 Realmente não sei se estou gostando disso.

H1 Você não terá de pagar nada. O governo se encarregará de tudo.

H2 Mas e eu com isso? Não estou entendendo nem gostando.

H1 Calma, agora vou lhe explicar tudo.

H2 É o que eu quero.

H1 Não sei o que você pode querer nesta situação. Mas o imperador está chegando. Não temos nada valioso para oferecer a ele. A não ser... bom, você já ouviu falar em empréstimo?

Para uma cidade que pára para o imperador passar, eu não paro e nem reparo. Para meus amigos, beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: GEORGE HARRISON - Let It Down.

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