domingo, 30 de dezembro de 2007

2007 foi... - Parte 3: Cinema

Tarde um tanto vazia. Assim costumam ser os domingos, se me falta gente ao redor. Mas não é tão assim: mamãe e titia assistem TV e comentam as celebridades do dia. Lá fora há algum sol, mas não me animo a sair, definitivamente. Amanhã sairei como se tivesse saído durante os dois dias. Haverá o que fazer. Aqui, há assunto. E o de hoje é...

Parte 3
Cinema

2007 foi... rico. Foi o primeiro ano em que vi uma boa quantidade de filmes na Mostra Internacional de São Paulo e tive um panorama muito interessante do que se tem produzido em várias partes do mundo. Espero poder fazer isto nos anos seguintes.

Também conheci um pouco mais da obra de nomes lendários como Buñuel, Fassbinder, Herzog e outros mais. Em 2008 haverá um maior aprofundamento meu na história do cinema.

Foi também o ano de uma "invasão francesa" às salas de cinema brasileiras. Filmes como o badalado Paris Te Amo, Piaf - Um Hino ao Amor, Medos Privados em Lugares Públicos, entre outros tiveram seu espaço garantido. E, vergonha minha... tanto se fala de Piaf e ainda não o vi. O mesmo não se pode dizer do cinema italiano. Pergunto-me, então, se o cinema daquele país ainda é relevante.

Os filmes que vou destacar aqui são, na verdade, produções recentes que estiveram em cartaz durante o ano nas boas salas de cinema ou, ao menos, estiveram disponíveis na rede e não são, todos, necessariamente de 2007. São estes:








4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

Cristian Mungiu - Romênia - 2007

Parte de um projeto que propõe revisitar o período comunista na Romênia, este filme, tão ótimo quanto claustrofóbico, mostra os apuros de duas amigas em função de um aborto. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes e aplausos em muitas das salas onde foi exibido mundo afora.








O Cheiro do Ralo
Heitor Dahlia - Brasil - 2007

Lourenço é dono de uma loja que compra objetos usados e não vê nas pessoas outra coisa, a não ser a oportunidade de humilhá-las ao máximo. Mas seu mundo começa a ruir quando se apaixona por uma bunda. É o segundo filme nascido da parceria do diretor com o autor de HQs Lourenço Mutarelli. Atuação irretocável de Selton Mello, o melhor ator brasileiro de sua geração.








Crimes de Autor
Claude Lelouch - França - 2007

Intrincada e interessante trama que envolve uma "escritora" de sucesso, seu ghost writer, uma mulher emocionalmente frustrada e suspeitas de assassinatos. O diretor, um dos cultuados nomes da Nouvelle Vague, caprichou e Fanny Ardant está deslumbrante nesta película repleta de suspense.








O Inferno

Danis Tanovic - França/Itália/Bélgica/Japão - 2005
Três irmãs, um trauma de infância em comum e as diferentes conseqüências que este acarreta nas vidas delas. O não saber lidar com o passado é o verdadeiro inferno deste filme que, na verdade, é parte de uma trilogia sobre a Divina Comédia, de Dante Alighieri, idealizada por Krzysztof Kieslowski.








Longe Dela

Sarah Polley - Canadá - 2007
A estréia na direção da atriz-fetiche dos filmes de Isabel Coixet (Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das Palavras) é um sensível drama sobre mal de Alzheimer, em que um casal deve se separar em função da doença que tem a protagonista, vivida por Julie Christie. No asilo em que se interna (sim, ela é quem decide se internar), acaba conhecendo um paciente com quem acaba tendo muitos cuidados e o marido já não sabe se é importante na vida dela. Ainda assim, será capaz de grandes sacrifícios.








Meu Melhor Amigo

Patrice Leconte - França - 2006

O veterano diretor acerta a mão nesta leve comédia sobre amizade, em que o antipático antiquário interpretado por Daniel Auteuil (brilhantemente, pra variar) precisa apresentar seu melhor amigo em 10 dias para ganhar uma aposta.







Sonhando Acordado
Michel Gondry - França/Itália - 2006
Stéphane conhece Stephanie e se apaixona. Belo pretexto para os delírios visuais de Gondry, responsável por alguns dos melhores clipes de Björk e outros grandes do cenário pop alternativo, além de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Gael García Bernal, o queridinho latino do momento, e a feia charmosa Charlotte Gainsbourg ajudam a garantir a diversão.








A Vida dos Outros

Florian Henckel von Donnersmarck - Alemanha - 2006
Mais uma vez, uma produção que aborda o período comunista e os abusos relacionados. Desta vez, o palco é a Alemanha Oriental e o mote é espionagem. Um casal de artistas - ele, autor de teatro leal ao regime; ela, atriz que desperta o interesse carnal do ministro da cultura - é espionado em função do tal interesse. O espião designado para a tarefa se vê contagiado pelo estilo de vida do casal e passa a protegê-los. Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e - diga-se de passagem -, prêmio mais que merecido, a despeito de ser tratar de trabalho de um diretor estreante.

____________

É isso, amigos! Nos próximos dias voltarei com algo mais. Das próximas vezes, será sobre música - os shows e os trabalhos que foram lançados no decorrer do ano que termina amanhã. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: LOS PORONGAS - O Escudo > MOMBOJÓ - Pára-Quedas > JUAN STEWART - Angel > YO LA TENGO - My Little Corner of the World > CARIBOU - Irene.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

2007 foi... - Parte 2: Teatro

Ainda manhã, quarta-feira após Natal, entre a primeira versão de London London com mp3 danificado, que faz aquele barulhinho, e Stuck Inside the Mobile with the Memphis Blues Again - Dylan, sempre -, o Natal me deixa um pouco pra baixo, ainda bem que passa. Prefiro o Ano Novo. A barba dá coceira, mas não me animei a fazê-la. Prefiro o Ano Novo. Ali, a barba feita e a nova velha cara de sempre. Eu te conheço bem, cara estranho... eu te conheço bem.

Mãezinha (nós que nascemos pra o confronto), poderia ser o fim, né? Mas com todas as angústias e alegrias, eu não escolheria outra vida, se estivesse ali. Se estivesse ali.

Falei muito de música já, mas a palavra de hoje é outra. Então vamos lá, que hoje vou dizer a tal:

Teatro.
Quando se é outro e ainda assim, no palco, um se revela.

Parte 2
Teatro

2007 foi... farto! Vi peças boas, medianas, outras péssimas. Um tanto de Satyros, mas não sei, aquilo pode ter entrado em voga, mas me soa tão igual, sempre o choque pelo choque. Estou ficando velho.

Meu gosto de mais novo velho, talvez, acabou por eleger outro trabalho. Foi fácil - vi a peça deles em três momentos, em espaços diferentes. E sempre é fácil e suspeito eleger trabalhos de amigos. Mas é de verdade, por merecimento. É isso:

Os Náufragos da Rua Constança
Cia. Antropofágica Abaporu


Agora eles têm uma casa, um lugar para uma noite de delírios nascidos de filmes de Buñuel, na rua Turiaçu, 481, Perdizes. Quem quiser e puder, vá. Mas agora só depois do Carnaval, que eles merecem folga. Quem quiser e não puder, visite o site. Quem não quiser, de qualquer forma... perde!

_____________

É isso, amigos! Volto em breve pra mais, claro, com Memphis Blues, Sgt. Peppers, los buenos borrachos ou o que for! Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: CAETANO VELOSO - London London > BOB DYLAN - Stuck Inside the Mobile with the Memphis Blues Again > From a Buick 6 > JOAQUÍN SABINA & FITO PÁEZ - Enemigos Íntimos > AMELIA - Corriendo en Espiral.

sábado, 22 de dezembro de 2007

2007 foi... - Introdução e Parte 1: Literatura


2007 terminando logo. Não foi o ano mais feliz da minha vida, tampouco o mais infeliz. Houve muita coisa boa também. É o que pretendo dividir com vocês nesta retrospectiva que inicio aqui.

Introdução

2007 Foi...

Uma frustração: a viagem que eu faria, não farei mais.
Um ano com menos viagens, em relação ao ano anterior.

Deixarei de ver amigos importantes.
Verei outros.
Àqueles a quem devo visitas, prometo: irei fazê-las o mais breve possível.


Saí do meu emprego.
O que não foi de todo ruim, mas me limita em algumas que$tõe$.

Em compensação, freelas interessantes: no início do ano trabalhei com clientes díspares como uma igreja evangélica e uma revista pornô.
Foi por pouco tempo. Não deu pra fazer confusão.

O ano em que tentei parar de fumar, sem sucesso.
E estes são os dias em que volto a pensar no assunto.
O ano em que bebi demais.
E estes são os dias em que penso que é hora de maneirar. Consigo? Justamente nestes dias? Talvez... eu sou um pouco do contra.

Não editei o novo livro, mas um passo foi dado: o registro.
Passei tempo demais ponderando os porquês.


Ganhei pequenas responsabilidades.
E acho até que vou indo bem como moderador da maior comunidade sobre cinema europeu no Orkut.
Mas não sei se chega a ser algo de que eu possa me orgulhar.


Meu time não foi campeão de nada.
E ainda fez feio na reta final do campeonato.

Fiz amigos.
E esta foi a melhor coisa.


Parte 1
Literatura


2007 foi... renovador.

Mas antes de citar qualquer autor, quero dizer que não li muita coisa no formato livro. Algumas revistas, sim; coisas de internet... enfim, não é novidade: o formato tradicional dá espaço a novas mídias, cada vez mais.

Wislawa Szymborska no escritório da revista Zycie Literackie (Vida Literária), em janeiro de 1961.
A grande descoberta do ano, pra mim, foi a poeta polonesa Wislawa Szymborska, que teve destaque na edição de maio da revista piauí. Com seu espanto perante as pequenas coisas da vida e os fatos históricos, ela me ganhou. Aqui algumas poesias da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 1996, publicadas na revista e traduzidas por Sylvio Fraga Neto e Danuta Haczynska da Nóbrega. Ele, a partir da tradução inglesa e ela, do original polonês.

Fotografia do 11 de Setembro
Pularam dos andares em chamas -
um, dois, alguns outros,
acima, abaixo.
A fotografia os manteve em vida,
e agora os preserva
acima da terra rumo à terra.
Ainda estão completos,
cada um com o seu próprio rosto
e sangue bem guardado.
Há tempo suficiente
para cabelos voarem,
para chaves e moedas
caírem dos bolsos.
Permanecem nos domínio do ar,
na esfera de lugares
que acabam de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles -
descrever este vôo
e não acrescentar o último verso.

As Três Palavras Mais Estranhas
Quando eu falo a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando eu falo a palavra Silêncio,
eu o destruo.
Quando eu falo a palavra Nada,
crio algo que nenhum não-ser comporta.

Bem Cedo
Ainda durmo,
mas enquanto isso as coisas acontecem.
A janela embranquece,
a escuridão se acinzenta,
o quarto emerge de um espaço indefinido,
listas pálidas e instáveis buscam apoio.
Na fila, sem pressa,
pois isso é uma cerimônia,
amanhecem as superfícies do teto e das paredes,
as formas se destacam
umas das outras,
as da esquerda das da direita.
As distâncias entre os objetos vibram,
as primeiras luzes cintilam
no copo, na maçaneta.
As coisas deixam de ser impressões, já existem,
como o que ontem foi deslocado,
o que caiu no chão
e o que está contido nas molduras.
Apenas os detalhes continuam invisíveis.
Mas atenção, atenção, atenção
tudo indica que as cores estão retornando
e mesmo a mínima coisa recebe de volta sua matiz,
acompanhada de uma ponta de sombra.
Raramente isso me surpreende, mas deveria.
Normalmente eu acordo, testemunha atrasada,
o milagre finalizado,
o dia definido
e a aurora magistralmente transformada em manhã.

__________

Bom, pessoal, nos próximos dias deverei retornar com outros destaques. Espero que tenham desfrutado da poesia da Szymborska. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: AIMEE MANN - Clean Up for Christmas > AU REVOIR SIMONE - And Sleep al Mar > CAETANO VELOSO - Vampiro > COIFFEUR - Como Decirlo... Yo También > BADLY DRAWN BOY - You Were Right.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Em breve...

Em breve, muito em breve. Expectativas boas. Um sorriso (s)urge.

Mais beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: RADIOHEAD - House of Cards.

"O livro" e outros textos, meus e não-meus

Humm... antes isso que a insônia... será?


O Livro

É nisto que o homem pensa, deitado em sua cama, virando as páginas do livro que não lê: a dinâmica dos dias, tudo sempre tão perto, tão longe.

Tudo tão rápido.

Aproximação e afastamento. O desejo daquela mão acariciando os cabelos, mas que não há mais no próximo momento. Ou há. Ou não se admite isto. O que acontece com estas pessoas?

Assim, há de passar desejo após desejo, cada vez menos intensos, cada vez menos belos. Porque há algo de belo em pessoas apaixonadas, assim como há algo de belo em pessoas tristes.

Tenebroso, este mundo. Cinza demais para quaisquer olhos. Só a metrópole, assassinando sonhos. Só a metrópole.

Só, o homem não percebe, mas já dorme. E com um movimento involuntário de mão, fecha o caderno em que escreverá seu próximo livro.

Bom, a verdade é que acordei cedo demais para o meu padrão recente. Não que eu devesse reclamar. A maioria das pessoas... bem, o comentário é dispensável e tudo que quero é ficar de bem com o dia.

Mas já que falei em insônia lááááá no comecinho do post, encontrei pela manhã essa breve lucubração do Sr. Ramón Alcântara:

Insônia Existencial

não dormi
e não acordei
de olhos abertos
meu pesadelo só eu sei

Então senti-me inclinado a respondê-lo e aconteceu isto:

acordar de um pesadelo a cada manhã
acordar para um pesadelo a cada...
acordar num pesadelo e ainda

ter poesia

quem me dera simplesmente bastasse!

Querem saber? Vou fazer meu dia ser bom. Façam o mesmo! Beijos e abraços, amigos!

NA MINHA VITROLA: RADIOHEAD - Reckoner.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Faces de uma Argentina musical

O coletivo Si No Puedo Bailar, No Es Mi Revolución traz a Sampa duas das faces de uma Argentina contemporânea e musical. As apresentações serão no Sesc Vila Mariana, nos dias 13 e 14 de dezembro.


Coiffeur e Modular trazem folk e indiepop vintage a São Paulo
Música independente argentina tem destaque em mostra promovida pelo Sesc Vila Mariana

Recentemente incluídos na coletâneia Porque Este Océano Es el Tuyo, Es el Mío (Si No Puedo Bailar, No Es Mi Revolución/Midsummer Madness, 2007), Coiffeur e Modular estarão no ciclo Além Tango, promovido pelo Sesc Vila Mariana entre 11 e 14 de dezembro de 2007.

Guillermo Alonso, o Coiffeur, mostrará o folk-punk de No Es (Estamos Felices, 2006), um dos melhores discos da nova geração da canción argentina, segundo a Rolling Stone local. Heranças de personagens como os irmãos Parra e Caetano acomodam-se, num castelhano marcado, ao lado da escola folk contemporânea de Elliott Smith e José González. Em São Paulo, estará acompanhado de Juan Stewart e Mariano Esain.

Mariana Badaracco e Pablo Dahy formaram o Modular em meados de 2000, no boêmio bairro de San Telmo, em Buenos Aires. A dupla, que tem três álbuns lançados,
La Fecundidad del Cosmos (2003), Viaje por el Planeta del Pasto (2004) e El Triángulo de las Bermudas (2005), retoma elementos da chanson française, da bossa nova e da eletrônica vintage em temas para fãs de Stereolab, Club 8 e Mutantes.

Discos de novos artistas latino-americanos estarão à venda nos dias das apresentações.


Serviço

Coiffeur
myspace.com/noescoiffeur
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=77621&mode=0
http://www.coiffeurclub.com.ar
13 de dezembro de 2007, às 20h30
Auditório do Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141)
R$ 12, R$ 6 e R$ 3.

Modular
myspace.com/modulantes
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=77625&mode=0
http://www.modular.com.ar
14 de dezembro de 2007, às 20h30
Auditório do Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141)
R$ 12, R$ 6 e R$ 3.


Para quem quer saber o que há de novo na produção musical latina e alternativa, imperdível! Para quem quer saber de música boa, independente de qualquer rótulo, também!

Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: COIFFEUR - Que Mala Suerte! > MODULAR - Cinemascope.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

República do vazio lírico

É, pessoal... independente de qualquer governo, não consigo ver o país de um jeito melhor. Infelizmente, não consigo.


República do Vazio Lírico

votam impostos

e as crianças têm de sair às ruas
vendem doces e salgados para poder comer
o pai não trabalha mais

o homem de terno e gravata tão empreendedor, tão orgulho-da-mamãe, não vê
nem mesmo eu (me) vejo, às vezes

há distribuição de presentes no morro
mais uns a distribuir balas em algum lugar

em qualquer lugar

ninguém com alma e
com tempo
para sentir a vida e
saber que pode ser diferente


carnaval, novela, futebol...
o transporte lotado, o sol na cabeça...
o sorriso sem dentes no eme-esse-ene
o breve flerte no barzinho
vão sortear a mega-sena
temo que meu amigo ganhe e acabe assassinado
pela esposa


lugares comuns...

lugar comum, minha queixa também
a poesia (contida aqui?) não vai mudar o mundo

e, pelo meu, já fez o que pôde
mas no final, nada sobra

talvez as palavras perdidas em folhas amarelas
ou lugares que ninguém visita

um limiar nos alcança
a barreira do suportável já é bem clara


quem enxerga?

a terra será vermelha mais uma vez
e ninguém poderá chorar
porque o que poderia ter sido feito
não foi

este é o nosso lugar
de belezas descomunais

de todas as cores do arco-íris

esta é a nossa bandeira
a ser hasteada a meio-pau

esta é a nossa república do vazio lírico


Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: BOB DYLAN - Rainy Day Woman # 12 & 35 > INDOCHINE - D'ici Mon Amour > MOMBOJÓ - Singular > THE BEATLES - Your Mother Should Know > Misery.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A vida secreta das trilhas sonoras

Fim de novembro, uma dessas noites sem sono, estou na minha cama, a do quarto de vídeo, e coloco o disquinho no aparelho, que está com algum problema, por isso vejo o filme em preto e branco, o que pode ser um ultraje para alguns. Mas vejo ainda assim. O filme é A Vida Secreta das Palavras, da catalã Isabel Coixet.

Vejo e ouço. O que não sabia é eu ouviria aquela canção, Hope There's Someone, de Antony and the Johnsons, embalando a solidão de Sarah Polley, Tim Robbins e dos outros trabalhadores daquela plataforma de petróleo. E é linda, linda para aquele momento do filme, para o meu momento também. Então me vejo nestes últimos dias devorando como nunca devorara antes I'm a Bird Now, de 2005, o CD que contém a musiquinha em questão.

O mais recente registro que ouvi de Antony, que não é Johnson, mas Hegarty, é sua participação no novo da Björk, Volta, em que fazem dueto em duas canções: The Dull Flame of Desire e My Juvenile. Duetos não são novidades para ela. Por exemplo, há a inesquecível cena da linha de trem em Dançando no Escuro, filme de Lars von Trier, embalada pela bela-e-triste I've Seen It All. Thom Yorke, do Radiohead, foi o parceiro de Björk nesta ocasião.

Outro filme do polêmico diretor dinamarquês faz-nos voltar à categoria "filmes sobre pessoas que se acidentam em plataformas de petróleo". Este, mais antigo, de 96. É Ondas do Destino, marcado por belas canções dos anos 60/70, boa parte delas marcando cada "capítulo" do drama protagonizado por Emily Watson. Só do Elton John, há Love Lies Bleeding, Your Song e Goodbye Yellow Brick Road; há também Deep Purple, com Child in time; Jethro Tull, com Cross-Eyed Mary; Procol Harum, com A Whiter Shade of Pale; Leonard Cohen, com Suzanne... como se o filme por si só já não fosse bom o suficiente!

Também o filme "sobre morrer" de Denys Arcand, As Invasões Bárbaras, tem na trilha sonora um quê de vintage, e ali há L'Amitie, de Françoise Hardy, embalando a "morte do mundo" que é refletida num episódio sobre a decadência e conseqüente morte de um homem de meia-idade, personagem de um filme anterior do mesmo diretor, O Declínio do Império Americano.

Já em Vanilla Sky, de Cameron Crowe (refilmagem do espanhol Abre los Ojos), outro filme em que a morte tem grande relevância, somos premiados com Svefn-G-Englar, dos islandeses compatriotas de Björk, do Sigur Rós. Toda uma vida e todas as ilusões desta mesma vida rememoradas no momento do grande "atirar-se no vazio".

Se a mim parece que Penélope Cruz está horrenda no papel de interesse amoroso de Tom Cruise em Vanilla Sky (ela não me convence atuando em inglês...), em Volver, do laureado Pedro Almodóvar, está maravilhosa. Nesta celebração à vida e às mulheres fortes, Penélope está tão perfeita que aos incautos é capaz de passar despercebido que não é ela quem canta aquela pérola do cancioneiro latino, Volver (a música), mas sim a espanhola Estrella Morente.

Por sinal, Pedro e seu irmão Agustín, co-produziram A Vida Secreta das Palavras, assim como outro filme de Coixet, Minha Vida sem Mim. Volvimos al principio de todo. Hora de fechar. Temo ter embaralhado um tanto as suas cabeças, amigos. Mas também espero que tenham gostado deste embaralhamento de clipes, trailers e todas essas elações entre músicas e filmes. As possibilidades são infinitas e ainda me vieram outras músicas, outros filmes à cabeça. Por ora, o que temos aqui é o suficiente. E, claro, logo estarei pronto pra mais, seja o que for este mais.

Beijos e abraços!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ele sonhava

Um breve conto com sabor de poesia, ou uma breve poesia com cara de prosa. De guitarras imaginárias.


Ele Sonhava

Pegou sua guitarra e fez o som de sua vida.

Pegou a guitarra e fez o som. E foi agressivo, ao modo de seus ídolos de capa de revista.

Foi o tal.

Num palco de brinquedo para um público de sonho. Lotou estádios, vendeu discos. Os outros meninos, que vieram depois, copiaram-no.

E repassavam os mp3 entre si.


Depois, era ele mesmo nas capas de revista e nos sites descolados.

O tempo passou e ele virou lenda. Mas não sabia um fá...


Ele sonhava!


Beijos e abraços, povo meu!

Baseado neste som aqui:

Megadeth - Train of Consequences


Nossa, fazia tempo que não escutava isso... eh eh eh!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

No contenido

É, pessoal... o cotidiano, este cotidiano... pra quem será?



No Contenido

temor de deixar de ser quem é
a aproximação do lugar comum
do deixar-se levar pela mão
a armadilha pronta
quando cessa a última força


a última?

não, não permitirá

há muitas cores para apenas um pacote de 100 gramas
sons demais para somente um litro
e sensações que não devem escoar pia abaixo

Logo voltarei com mais! Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA:
THANOS MIKROYTSIKOS & RITA ANTWNOPOYLOY -
Sintarta.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

You know... there's something happening here, but you don't know what it is...



Olá, pessoal!

Esta música de Bob Dylan está no disco Highway 61 Revisited (1965), que marca uma virada na carreira do músico, pois ele abandona o violãozinho folk e monta uma banda de rock, algo que boa parte de seus fãs e da imprensa de então não entendeu muito bem, chamando-o de "vendido", entre diversos impropérios não-publicáveis, durante os shows e em todas as ocasiões possíveis.

Nem tanto pela mudança musical. Talvez mais porque Dylan representasse o músico popular engajado. Suas letras da fase folk tinham forte enfoque social, muitas vezes retratando as agruras do trabalhador do campo, assim como as do trabalhador dos grandes centros. Mas ele abandona tudo isto para se dedicar a questionamentos mais universais.

Com seu violão e gaita ou com sua banda de rock, Dylan foi e é grande. E esta é uma das lendas da música pop do século passado que quis hoje compartilhar com vocês. Não é a primeira vez que falo dele aqui, mas também não creio que seja demais.

Filmografia Recomendada
  • No Direction Home, documentário de Martin Scorsese.
  • I'm Not There, filme de Todd Haynes. Aqui, vários atores interpretam Dylan em vários momentos de sua vida. Entre eles estão Christian Bale, Richard Gere, Ben Whishaw, Heath Ledger, o menino negro Marcus Carl Fraklin e, pasmem, Cate Blanchett. Creio que estará em circuito comercial apenas no ano que vem, mas já fica a dica.
Beijos e abraços, amigos!

sábado, 10 de novembro de 2007

O amigo da vizinhança

Spider-Man, Spider-Man,
Does whatever a spider can
Spins a web, any size,
Catches thieves just like flies
Look out!
Here comes the Spider-Man.


É com a musiquinha do Spider-Man que inicio este post, porque fiquei besta quando minha mãe contou a história. Eu tinha quer vir aqui e postar. Não duvido que muitos de vocês tenham sabido do ocorrido, mas eis aqui o que, depois de uma pequena pesquisa, tenho a lhes mostrar:


Menino de 5 anos salva bebê em incêndio em SC

Mãe de menina de 1 ano e 10 meses não conseguiu entrar na casa para pegar a filha. Segundo bombeiros, garoto vestido de Homem-Aranha resgatou a criança, em Palmeira.




Um menino de 5 anos, vestido de Homem-Aranha, resgatou um bebê de 1 ano e 10 meses de uma casa em chamas em Palmeira, Santa Catarina, na tarde de quinta-feira (8). O soldado do Corpo de Bombeiros Giovanni da Cunha disse ao
G1 que Riquelme Wesley dos Santos brincava em um pátio em frente à casa dos vizinhos, quando o incêndio começou.

A mãe do bebê, Lucilene dos Santos, afirmou aos bombeiros que tentou entrar na casa para resgatar a filha, Andrielle, mas não conseguiu. "Ele disse que não era para eu gritar e chorar que ele iria salvar a menina", disse Lucilene.


Segundo os bombeiros, Riquelme gritou que era o Homem-Aranha, entrou correndo na casa, pegou Andrielle e conseguiu levá-la para fora antes que o berço onde estava fosse atingido pelas chamas.


"Estava saindo fumaça do quarto. Eu pulei lá dentro e peguei ela", disse Riquelme.

Questionado se era o Homem-Aranha, ele falou que era "filho do Homem-Aranha".
De acordo com Cunha, que realizou a perícia no imóvel na manhã desta sexta-feira (9), o incêndio destruiu 80% da residência e a causa provável foi um curto-circuito.

O Sargento José Macedo disse que o menino agiu por impulso. "Por ser uma criança, não tem noção do perigo e poderia ser mais uma vítima", diz. "É preciso equipamentos especiais para entrar em ambientes confinados."


O grande barato deste episódio é como o garotinho com nome de craque da seleção argentina de futebol encarnou, ainda que sem consciência disso, o heroísmo do personagem de HQs e do cinema. Claro que houve um grande perigo e alguns pais poderiam estar se lamentando agora. Fico pensando se este fato vai significar algo pro Riquelme ali na frente. Nosso pequeno herói vai se tornar um salvador de vidas? Ou vai deixar isto subir a cabeça e estragar a própria. Não sabemos. A única coisa que posso afirmar é que foi algo perigoso... e, pra quem está muito de longe, um fato curioso e engraçado.

Beijos e abraços, amigos!

Fontes: Texto - G1 > Foto - Terra

NA MINHA VITROLA: MARILLION - Kayleigh.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Notas da Mostra - Final

Agora apresento a vocês os 5 filmes que vi na Mostra e que me causaram melhor impressão:

A Vida dos Outros
Florian Henckel von Donnersmarck - Alemanha - 2006


Longe Dela
Sarah Polley - Canadá - 2006


Lust, Caution
Ang Lee - EUA/China - 2007


A Casa das Belas Adormecidas
Vadim Glowna - Alemanha - 2006


Control
Anton Corbijn - Inglaterra/EUA - 2007

Com este post, teminei de dizer tudo o que queria dizer sobre a Mostra deste ano. Em breve, este blog voltará à sua programação normal... eh eh eh! Beijos e abraços, meus amigos!

NA MINHA VITROLA: SUBURBAN KIDS WITH BIBLICAL NAMES - Parakit > NORMA - Discos > RUFUS WAINWRIGHT - Going to a Town.

Notas da Mostra - Parte 6

Passaram-se sete dias, uma semana. A Mostra acaba hoje em sua fase retrospectiva, que não acompanhei. Não estava disposto às amplas filas que imagino terem se formado. Tinha compromissos com o mundo e, sobretudo, comigo mesmo. E 14 dias foram o suficiente. Quero crer que sim.

Apenas não contava é com as tempestades e com minha maldita falta de precaução. Tive problemas com a máquina e precisei usar um dinheiro no qual não pretendia mexer. Paciência! Mas agora tudo está em paz e posso, à vontade, postar minhas opiniões sobre os filmes dos últimos dias da fase "principal" da Mostra. Aí vai:

Dia 30

Os Solitários/A Bela Face da Tristeza
Jean-Paul Civeyrac - França - 2000

A sessão foi aberta com a exibição do curta A Bela Face da Tristeza, em que o mito de Orfeu e Eurídice é transposto para os nossos dias. Bonito e singelo, nisto difere completamente de Os Solitários, a amarga história de pessoas tão solitárias. Estão ali o viúvo que se culpa pela morte da esposa e tem visões com ela, o irmão mulherengo e abandonado pela esposa. Esta, a mulher insegura, mas que resolve reconquistar o marido. E há também a mulher atenciosa e apaixonada que cuida do primeiro homem, sem esperanças de ser correspondida em seus desejos. E ainda há o desejo carnal mútuo entre os dois irmãos. Retrato cru de gente solitária, não é um filme otimista.

Brand upon the Brain!
Guy Maddin - Canadá/EUA - 2006
Interessante aventura que lembra a estética do cinema mudo, mas com narração em off. De verdade, durante suas sessões na Mostra, ocorreram ao vivo narração, música e sonoplastia, mas isto não ocorreu desta vez. Talvez por ter sido uma sessão extra, que substituía a exibição do francês Après Lui (aliás, a única vez em que houve alteração na programação, na parte da Mostra que me coube). Fiquei curioso pra saber como as coisas teriam sido ao vivo, mas esta exibição já foi de bom tamanho para a apreciação do filme.

A França
Serge Bozon - França - 2007
Mescla de filme de guerra e musical - nada tão inédito. O filme talvez pretenda refletir sobre o que é o cidadão francês médio através de um episódio passado durante a 1ª Guerra Mundial, em que uma esposa decide ir atrás do marido no front. Pra isso, encontra um grupo de desertores e assume a identidade de um soldado. De verdade, não é pra ser levado muito a sério.


Dia 31

Caixas
Jane Birkin - França - 2007
Mulher sozinha se muda para uma grande casa no interior da França, onde relembra seus momentos com os homens de sua vida, as filhas, seus pais, além de outras pessoas que encontrou em sua trajetória. Não chega a ser ruim, mas é um pouco cansativo.



Todas as Belas Promessas
Jean-Paul Civeyrac - França - 2003

Jovem apaixonada e desprezada descobre que o falecido pai tinha uma amante. Quando a encontra, um processo de descobertas sobre si mesma tem início. Assim que retorna de sua viagem, estará muito mais preparada para lidar com as dores que o amor pode trazer. Civeyrac, claramente herdeiro da Nouvelle Vague, foi-nos trazido durante esta Mostra e é um diretor no qual os brasileiros apreciadores do bom cinema deveriam prestar mais atenção.

Os Otimistas
Goran Paskaljevic - Sérvia - 2006
Cinco histórias em que os elementos principais são o otimismo e conformismo com que os personagens encaram situações extremamente ruins. Ou seja, estão na merda (literalmente, na quinta e derradeira história). Às vezes, parece Brasil...




Dia 1º

Lust, Caution
Ang Lee - EUA/China - 2007

Sempre fui reticente com o cinema de Ang Lee. O cara já fez um pouco de tudo: adaptação de obra literária de Jane Austen em Razão e Sensibilidade (chatíssimo, a meu ver, mas talvez merecendo uma segunda chance agora); aventura oriental cheia de efeitos em O Tigre e o Dragão; até blockbuster com personagem da Marvel Comics, em Hulk. Após isto, ele reapareceu com o oscarizado O Segredo de Brokeback Mountain, que ganhou notoriedade por retratar o relacionamento entre dois cowboys apaixonados um pelo outro (como se a temática gay fosse novidade na história do cinema...). Ok, o filme foi sensível e bom o suficiente pra chamar minha atenção. E este Lust, Caution, novíssimo projeto do diretor chinês, me ganhou. Não é um filme que gerará polêmica entre nós, tão ocidentais, mas certamente as polêmicas existem no extremo oriente, uma vez havendo o histórico ódio entre Japão e China. Veneza reconheceu isto e agraciou o filme com o Leão de Ouro. Tem um tanto de Hollywood. Possivelmente estará concorrendo aos Oscar. O enredo nos revela uma rebelde chinesa que mantém um caso com um funcionário do governo colaboracionista chinês durante a ocupação japonesa. Com suas idas em vindas, durante suas quase três horas, prende. E a beleza de Wei Tang ajuda.

Caótica Ana
Julio Medem - Espanha - 2007
Os filmes de Julio Medem se caracterizam mesmo pelos enredos atípicos. Não é diferente em Caótica Ana, seu novo filme. A jovem artista Ana vive em Ibiza, numa caverna em que as paredes tem pinturas de portas que não se abrem. Para abri-las, a protagonista encontra uma mecenas que a leva a Madri, onde faz amigos, conhece o amor e encara desertos de outras vidas. Viaja de barco para os EUA, ganha a vida em Nova Iorque, foge de vidas passadas no Arizona e, de volta à grande maçã, encara o desafio de tantas vidas, encarnado num político corrupto, o que assegura algum teor político à história. Quem encara?

Eduart
Angeliki Antoniou - Grécia/Alemanha - 2006

Jovem albanês que fracassa na tentativa de se tornar astro de rock comete um assassinato em Atenas. Após voltar para a casa dos pais, é preso e lá conhece um médico alemão que o ajuda a enfrentar sua culpa em meio ao caos das agitações políticas na Albânia. Mas... não é um filme para ser lembrado...

38 filmes em 14 dias. Para alguns, é muito. Para outros, é "fichinha". Claro, deixei de ver muitos outros filmes interessantes, até porque minha programação mudou tantas e tantas vezes, mas considero-me satisfeito por ter contato com culturas tão diferentes. Agora, adeus correrias, adeus amizades circunstanciais nas filas e nas salas, adeus sonhos e pesadelos do mundo da sétima arte...

Pra valer?

Não... os filmes sempre estarão por perto. Sempre há muito a ser visto. E ano que vem tem mais Mostra. Querem saber? Paro tudo o que estiver fazendo, peço licença no trabalho (se houver um), alego problemas de família em Marte, seja o que for, mas não quero estar fora.

Bom, daqui a pouco voltarei com meu Top 5 de filmes, ok? Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: BOB DYLAN - Idiot Wind > ARETHA FRANKLIN - The Letter > LUDOV - Rubi > JOY DIVISION - New Dawn Fades > RIDE - Unfamiliar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Notas da Mostra - Parte 5

Pois é, o sábado veio. E com ele, o sol, mas também a chuva. Uma beleza atravessar a Paulista pra chegar ao Reserva Cultural todo molhado e assistir O Mundo, por exemplo. Tudo bem, eu não era o único, sobrevivi e todo mundo sobreviveu, creio.

Muitas filas também. O que é inevitável, sobretudo no final de semana. Domingo parecia que todos queriam assistir I'm Not There, no CineSesc. Mas o filme a roubar a cena foi outro.

Destes dias que vou relatar neste post, era de se esperar, segunda foi o dia menos tumultuado, bem menos que o Oriente Médio retratado por Amos Gitai em A Retirada.

Bom, partamos do geral ao específico - que não é tão específico assim, eu sei. Mas vamos lá:

Dia 27
Tudo Isso pra Isso?
Claude Lelouch - França - 1993
Comédia de um dos principais representantes da Nouvelle Vague. Ok, você ri um bocado, mas há um tanto de gratuito e bobo em toda escroqueria que é mostrada ali. Como é o primeiro do Lelouch que vejo, acho que comecei mal.



O Mundo
Jia Zhang-Ke - China - 2004
Sim, O Mundo é um parque de Pequim. Nele, há réplicas de monumentos de todo o planeta, como a Torre Eiffel, as pirâmides do Egito e o Big Ben, entre outros. Mas não há réplicas para o vazio, a falta de perspectivas de um grupo de pessoas que vive em torno do Mundo - melhor dizendo, da China vista pelas lentes de Jia Zhang-Ke. É um tanto cansativo, mas válido.

Em Paris
Christophe Honoré - França - 2006
Terminar uma relação e lidar com isto. Um homem que cai, uma família sem estrutura para lidar com a situação. Bom filme. Mas não mais que isto.






Dia 28

I'm Not There
Todd Haynes - EUA - 2007
Todos os Dylans e todos os nomes. Seis atores para interpretá-lo. Fiquei com medo. Fui conferir. Todd Haynes não consegue dar explicação para todos esses Dylans. E quem conseguiria? Ainda assim, vale! Gostei das interpretações, principalmente de Christian Bale, Cate Blanchett e do menino Marcus Carl Franklin.



Tabu
F. W. Murnau - EUA/Alemanha - 1931

Último filme de Murnau, antes que um acidente de carro lhe tirasse a vida. Vemos aqui mais romantismo com cara de Hollywood que expressionismo alemão (aliás, esqueçam Nosferatu, por exemplo). Não é ruim, mas também não empolga. Nem a trilha sonora, executada ao vivo. Esperava mais da experiência...

A Vida dos Outros
Florian Henckel von Donnersmarck - Alemanha - 2006
Este eu já conhecia. O que eu não sabia é que ganharia ainda mais na telona do cinema. Tudo o que eu falar será pouco. Apenas digo que, ao final da sessão, tiveram lugar os aplausos mais efusivos que presenciei até o momento durante a Mostra. E, desta vez, eu era um dos que aplaudiam.




Dia 29


Across the Universe
Julie Taymor - EUA - 2007
Ok, houve alguns exageros em termos de efeitos e as músicas não ficaram tão legais (é difícil mexer com repertório dos Beatles, certo?). Mas, deixando o aspecto crítico, deixei-me levar pela história, que não é ruim, não. Dose é ouvir o Bono Vox estragando I'm the Walrus - e ele ainda quer "salvar o mundo"...



A Casa das Belas Adormecidas
Vadim Glowna - Alemanha - 2006

Um velho solitário conhece uma casa misteriosa, onde pessoas como ele dormem com jovens lindas e "adormecidas" (leia-se drogadas por uma sinistra cafetina). Ali, ele reflete sobre solidão, velhice, juventude, amor e sexo. Um destes filmes que você escolhe por uma rápida lida na sinopse porque quer preencher o horário livre, mas acaba tendo uma grata surpresa.

A Retirada
Amos Gitai - Israel/França/Alemanha/Itália - 2007

Num ambiente brutalizado, onde se dá o conflito entre israelenses e palestinos, não há espaço para a construção de laços. Há apenas tempo para a retirada. Mais uma vez, lembrei que é tão mais fácil destruir que construir. Trabalho perturbador e necessário de Amos Gitai.



Bom, pessoal, até o final da semana retorno com mais Notas da Mostra, relatando os nove últimos filmes vistos. Aqui deixo pra vocês beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: TOM VERLAINE - The Grip of Love > YO LA TENGO - We Are an American Band > BELLE & SEBASTIAN - The Boy Done Wrong Again > AMELIA - Adiós > STEREOLAB - Sudden Stars.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Notas da Mostra - Parte 4

Dia mais tranquilo, sem grandes correrias. Aliás, o último dia em que vejo apenas dois filmes. Daqui por diante, serão três por dia, a não ser que alguma emergência me atrapalhe.

Bom, vamos lá. Hoje foi assim:

Dia 26

Balada Branca

Stefano Odoardo - Itália - 2007

Belo filme sobre o ocaso da vida. Ela vai morrer, ele aguarda ao lado. Cada pequeno gesto tem seu sentido definitivo. Lembranças, enquanto a morte espreita o casal idoso. Dos filmes que vi até agora, é o que mais me lembra um tipo de cinema que não se produz mais. Penso que tem ecos de Bergman e de Cocteau. Talvez sejam influências importantes ao diretor.


O Passado
Hector Babenco - Argentina/Brasil - 2007
Após a separação, mulher persegue ex-marido e todas as tentativas de ele reconstruir sua vida vão por água abaixo. Bom filme, mas pareceu-me que algumas pontas ficaram soltas... Gael García Bernal gravou cenas na estação da Luz e no Pavilhão da Bienal, aqui em Sampa.



Bom, hoje é isso! Um final de semana repleto de cinema vem aí. Aguardem novidades, pessoal. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: FITO PÁEZ - Polaroid de Locura Ordinária.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Notas da Mostra - Parte 3

A noite de ontem foi terrível, pois a sessão de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias já começaria muito tarde, às 22h. Isto na teoria, porque houve um atraso de 20 minutos. Pequeno até... e eu juro que tinha lido num dos guias publicados sobre a Mostra por algum jornal que o filme durava 100 minutos. Bom, na verdade dura mais uma dezena de minutos.

Foi o suficiente para eu perder o último Metrô da noite. E eu, que sou anti-carro convicto (às vezes dá vontade de mudar de idéia, mas é só em ocasiões como estas...), tive que depender do ônibus que me levaria até o Terminal Pq. Dom Pedro. Por sinal, quase uma hora no ponto, não veio. Nem viria mais.

Mais de uma da madruga e cansado o suficiente pra não querer descer a Consolação à pé, chamei um táxi. Encontrei um hotelzinho ali perto da Pça. Roosevelt e foi lá que demorei uma hora a dormir, pra acordar às 5h e voltar pra casa, trocar de roupa, ver a cara da velhinha, essas coisas... e, depois, maratona de novo. Ou seja, umas três horinhas de sono no hotel.

Bom, mesmo quando estou muito cansado, quando chego em casa, dou uma fuçadinha na net. Em vez de dormir, empolguei-me e escrevi a Parte 2 das Notas da Mostra. Até formatar tudo como queria... e como sou teimoso quando quero! Resultado: dormi mais uma miserável hora antes de correr pelo asfalto molhado pelas garoas insistentes de Sampa.

Mas, como eu disse, sou teimoso. E o resultado é este:

Dia 25

Para Ler Depois de Eu Morrer

Morgan Dews - EUA/Espanha - 2007
Uma colcha de retalhos. Isto é que é este filme. Ou pior: uma série de depoimentos em áudio e vídeo que a avó do diretor guardou para que fossem revistos apenas após a sua morte. Tudo acerca da relação conflituosa com o marido e os quatro filhos. O problema é que tudo é muito chato. Não há ninguém com carisma naquele grupo de pessoas comuns tornadas personagens. Não ajudam as condições de áudio/vídeo, pois o material é antigo demais e de alguma forma se deteriorou; assim como não ajuda a trilha sonora equivocada, que mais caberia num filme tosco de horror. Pode ser que este filme tenha alguma relevância para a família norte-americana média, para que se lembrem que a instituição família estava em xeque já nos anos 60. Sei lá... talvez nem isso. Se por acaso este filme entrar em circuito comercial e, por engano, alguém entrar na sala que o estiver exibindo, fica o aviso pra sair rapidinho, antes que morra de tédio... ou de irritação. Foi o que fiz: saí.

Atrizes
Valeria Bruni-Tedeschi - França - 2007

Deliciosa e típica comédia francesa, que não deixa de ter seu quê de drama. Marcelline é atriz de teatro e tem problemas para interpretar sua personagem no Turgenev que seu grupo encena. Ela está completando 40 anos e, embora os homens ao redor se interessem por ela, não consegue escolher um que possa fazer-lhe um filho. Vê e conversa com o pai morto e negocia com a Virgem. Nada ao som de Glenn Miller e nada muda em sua vida. Valeria Bruni-Tedeschi acertou a mão tanto na direção como na atuação. Espero que entre em circuito comercial. Dá vontade de assistir seguidamente.

Aspecto bom: gato escaldado que sou, troquei todos os ingressos de filmes que começavam muito tarde (o espanhol El Orfanato e o japonês Sukiyaki Western Django) por ingressos de outros filmes em outros horários - e nos meus planos entraram o norte-americano Paranoid Park, de Gus van Sant (na verdade, voltou aos planos), e o francês Caixas, de Jane Birkin.

Descansando um bocadinho mais hoje, amanhã vou estar mais inteirão para os filmes. E domingo tem Tabu, o último filme de F.W. Murnau, de 1931, com direito a orquestra interagindo ao vivo, como nos tempos de cinema mudo. Nem meu pai tinha nascido ainda. Mas eu estarei lá!

NA MINHA VITROLA: NORMA - Educación > NY > PC.