quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Os tempos de Dylan


Enquanto um novo conto não chega a esta página, fico por aqui, preso a um lançamento musical que julgo essencial para o ano de 2006, até então meio fraco de grandes novidades.

Trata-se de Modern Times, de Bob Dylan. O mestre retorna após Love and Theft, lançado no dia em que as torres gêmeas caíram, portanto, após quase cinco anos. Dylan desfila sua voz rouca entre passarelas feitas de rock, jazz, blues e um tanto de country com a maestria de quem influenciou algumas gerações, o que não é pouco mesmo.

Em Modern Times, o cantor e
compositor nos lembra que nem sempre houve cidades, carros, asfalto, publicidade, poluição, fábricas, multidões engarrafadas em rotinas vazias de sentido, crises e neuroses coletivas.
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"Tempos Modernos" resume Dylan, 65,
que batizou seu 32º disco de estúdio com o mesmo título do clássico filme de
Charles Chaplin, lançado em 1936, cinco anos antes do próprio compositor nascer.
Dylan se equivale ao cineasta na tentativa de resumir seu século de criação a
partir de seu principal legado, a modernidade.
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Alexandre Matias, colaboração para a Folha de S. Paulo
30 de agosto de 2006
Enfim, reinventando-se, Dylan lança uma obra-prima... desculpem, amigos, não quero dizer mais nada. Apenas apreciar. Mas, por último, pra quem conhece pouco ou nada de Dylan, indico alguns títulos essenciais. Não é difícil encontrar por aí... eh eh eh!
CDs
The Freewheelin' Bob Dylan (63)
Bringing It All Back Home (65)
Highway 61 Revisited (65)
Blonde on Blonde (66)
Nashville Skyline (69)
Blood on the Tracks (75)
The Bootleg Series # 4: The "Royal Concert Hall" Concert (Live) (98)
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DVD
No Direction Home - A biografia de Dylan, documentário de Martin Scorsese (2004)

Beijos e abraços! Até breve!

NA MINHA VITROLA: BOB DYLAN - Beyond the Horizon > Nettie Moore.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

domingo, 20 de agosto de 2006

Lorca - 70 anos depois


70 anos antes. Espanha. Um país em estado de regressão. Naquele 19 de agosto desapareceu a maior luz do país e cada cidadão espanhol teve de conviver com a escuridão.

Hoje. Brasil. Ainda é preciso falar de Federico García Lorca. Aqui está uma matéria muito interessante àqueles que o desconhecem. Acabo de ler, no Folha Online. Leiam vocês também.

Assassinato de García Lorca ainda perturba Espanha

RAFAEL ESTEFANIA, da BBC Brasil, em Granada, Espanha

O assassinato do poeta e autor dramático Federico García Lorca por nacionalistas no dia 19 de agosto permanece como uma das feridas abertas da Espanha.

Um homem à frente de seu tempo, ele viveu em uma Espanha que estava regredindo.

O mais gitano (cigano) dos poetas - rótulo que ele detestava - Lorca também era o mais internacional. Sua evocação do folclore da Espanha deve ser entendida como uma purificação da essência do país pelos olhos de um homem que não conhecia fronteiras.

"Canto para a Espanha e sinto este país no fundo do meu ser, mas, acima de tudo, sou um homem do mundo e irmão de todos."

García Lorca nasceu no dia 5 de junho de 1898 no vilarejo de Fuente Vaqueros, na província de Granada. Quando morreu, 38 anos depois, o legado de seu trabalho e sua personalidade já tinha garantido a Lorca um lugar no panteão dos imortais.

Hotel

Visitando Granada e áreas vizinhas ainda é possível ver alguns dos elementos que inspiraram o trabalho de Lorca: a luz refletida nas casas brancas de Albaicin, o ar limpo da Sierra, idosas vestidas de preto sentadas nas entradas das casas ou indo à missa nos domingos, o silencioso religioso da hora da siesta, o som áspero dos ciganos cantando flamenco em Sacromonte.

"Até hoje Granada é um vilarejo, todos se conhecem e, neste sentido, muito da Granada onde Federico viveu não mudou", disse Federico Jimenez, gerente do Hotel Cristina, a antiga casa do poeta Luis Rosales. Neste hotel García Lorca se refugiava e neste mesmo lugar ele foi seqüestrado por Falangistas que o mataram.

"Por esta porta eles o levaram e colocaram em um caminhão com outros suspeitos políticos. As pessoas que viram isto não querem falar sobre o assunto até hoje. Idosos preferem esquecer e não reabrir velhas feridas", afirma Jimenez.

O corpo de Lorca ainda não foi encontrado.

Objetos pessoais

A terra natal do poeta, Fuente Vaqueros, fica a menos de 40 minutos de carro de Granada.Atualmente a casa onde García Lorca nasceu é um pequeno museu onde objetos pessoais e partes da vida do poeta estão preservados. Um velho gramofone toca algumas das composições de Lorca.

O museu exibe o berço, fotografias de escola e o atestado de óbito assinado pelos pais do poeta.

"Eles não tiveram escolha. O corpo nunca foi encontrado, mas eles tiveram que assinar pois foi a única forma de oficializar a morte de Federico", afirma Paco, o curador do museu.

Em um aparelho de televisão no museu podemos ver Lorca nas únicas imagens gravadas do poeta. A imagem é em preto e branco e Lorca aparece sempre sorrindo, ajudando na colocação de cenários ou representando para a câmera, um homem cheio de energia.

Outro poeta e amigo de Lorca, Jorge Guillen, costumava dizer que quando Lorca estava por perto, o clima nunca era quente ou frio, era um clima "Federico". "Tamanho era o estado de intoxicação causado por sua presença, até fazia com que você se esquecesse da temperatura."
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Vanguarda

García Lorca estava à frente de seu tempo, era um viajante, homossexual, vanguardista.

Ele viveu em Nova York num tempo em que nenhum espanhol costumava viajar. Na cidade americana ele escreveu Poeta em Nova York. Lorca foi à Argentina e passou um tempo em Cuba.

"Católico, comunista, anarquista, libertário, tradicionalista, monarquista" foi como o poeta se descreveu. García Lorca nunca pertenceu a uma corrente política definida, o que é uma das razões para muitos acreditarem que sua morte ocorreu devido a motivos pessoais.

"A inveja é um fator importante na morte de Lorca. Ele era invejado por seu talento, tinha dinheiro e sucesso. Quando os militares assumiram o poder, sua execução era apenas uma questão de tempo. Um liberal, homossexual de sucesso não poderia ser tolerado na Espanha do ditador Franco", afirma Ian Gibson, biógrafo de Lorca.

O poeta foi morto a poucos quilômetros de Fuentes Vaqueros, entre Viznar e Alfacar.

Um morador local, de 80 anos, se lembra daqueles tempos.

"Muitos caminhões chegavam aqui com prisioneiros para serem executados e enterrados nas proximidades daquele barranco. Um tiro na nuca e eles iam para a cova", afirmou.

Em um destes caminhões estava García Lorca, um professor e dois banderilleros, que participavam de touradas. Acredita-se que os quatro tenham sido baleados e jogados em uma vala comum.

Mistério

Francisco Galadi e Nieves Galindo, netos dos banderilleros, entraram com um recurso na Justiça da Espanha para conseguir permissão para exumar os corpos, numa tentativa de identificar seus avós, que estariam no Parque Federico García Lorca, próximos a uma oliveira.

A família de Lorca é contra a exumação.

"Ele está enterrado lá, estas foram circunstâncias terríveis. Hoje, para nós, este lugar é um cemitério onde ele descansa junto com centenas de outros que, como ele, foram assassinados", disse Laura Lorca, sobrinha do poeta e diretora da Associação García Lorca.

"Queremos que as circunstâncias de sua morte sejam respeitadas e este lugar seja protegido de especulação comercial e curiosidade mórbida."

Mas a especulação continua. Alguns afirmam que o corpo do poeta não está mais no parque, que a família exumou o corpo e o sepultou em Granada.

Setenta anos depois de sua morte, a voz de Lorca ainda está viva como na noite de 19 de agosto de 1936, quando balas tentaram silenciar o poeta.


Um pouco de Lorca pra vocês:

La Casada Infiel

A Lydia Cabrera y a su negrita


Y que yo me la llevé al río
creyendo que era mozuela,
pero tenía marido.

Fue la noche de Santiago
y casi por compromiso.

Se apagaron los faroles
y se encendieron los grillos.

En las últimas esquinas
toqué sus pechos dormidos,
y se me abrieron de pronto
como ramos de jacintos.

El almidón de su enagua
me sonaba en el oído,
como una pieza de seda
rasgada por diez cuchillos.

Sin luz de plata en sus copas
los árboles han crecido
y un horizonte de perros
ladra muy lejos del río.

Pasadas las zarzamoras,
los juncos y los espinos,
bajo su mata de pelo
hice un hoyo sobre el limo.

Yo me quité la corbata.
Ella se quitó el vestido.
Yo el cinturón con revólver.
Ella sus cuatro corpiños.

Ni nardos ni caracolas
tienen el cutis tan fino,
ni los cristales con luna
relumbran con ese brillo.
Sus muslos se me escapaban
como peces sorprendidos,
la mitad llenos de lumbre,
la mitad llenos de frío.

Aquella noche corrí
el mejor de los caminos,
montado en potra de nácar
sin bridas y sin estribos.

No quiero decir, por hombre,
las cosas que ella me dijo.
La luz del entendimiento
me hace ser muy comedido.

Sucia de besos y arena
yo me la llevé del río.
Con el aire se batían
las espadas de los lirios.

Me porté como quién soy.
Como un gitano legítimo.
La regalé un costurero
grande, de raso pajizo,
y no quise enamorarme
porque teniendo marido
me dijo que era mozuela
cuando la llevaba al río.

De Romancero Gitano (1924-1927)


Ruina
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A Regino Sainz de la Maza
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Sin encontrarse.
Viajero por su propio torso blanco.
Así iba el aire.
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Pronto se vio que la luna
era una calavera de caballo
y el aire una manzana oscura.
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Detrás de la ventana,
con látigos y luces, se sentía
la lucha de la arena con el agua.
_
Yo vi llegar las hierbas
y les eché un cordero que balaba
bajo sus dientecillos y lancetas.
_
Volaba dentro de una gota
la cáscara de pluma y celuloide
de la primer paloma.
_
Las nubes, en manada,
se quedaron dormidas contemplando
el duelo de las rocas con el alba.
_
Vienen las hierbas, hijo;
ya suenan sus espadas de saliva
por el cielo vacío.
_
Mi mano, amor. ¡Las hierbas!
Por los cristales rotos de la casa
la sangre desató sus cabelleras.
_
Tú solo y yo quedamos;
prepara tu esqueleto para el aire.
Yo solo y tú quedamos.
_
Prepara tu esqueleto;
hay que buscar de prisa, amor, de prisa,
nuestro perfil sin sueño.
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De Poeta en Nueva York, VI. Introducción a la Muerte (1929-1930)
_
Tarde
_
¿Estaba mi Lucía con los pies en el arroyo?
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Tres álamos inmensos
y una estrella.
_
El silencio mordido
por las ranas, semeja
una gasa pintada
con lunaritos verdes.
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En el río,
un árbol seco,
ha florecido en círculos
concéntricos.
_
Y he soñado sobre las aguas
a la morenita de Granada.
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De Canciones (1921-1924)
_
Isso é tudo, meus amigos. Espero que tenham gostado do que leram e viram sobre García Lorca. Eu mesmo preciso conhecer muito mais. Beijos e abraços a todos.
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NO MEU HD CRANIANO: Uma enorme preguiça e vontade de ver uns filmes.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Isso não é real


Praça da Paz, Parque do Ibirapuera, aproximadamente 21h30 da noite.

Estava ali, sentado na frente do Homem-Pássaro do cearense Mestre Nino, querendo apenas ver de longe a performance do Cordel do Fogo Encantado. Um evento desses que eu não sabia bem o que era*, mas havia todos aqueles bonecos do Nordeste, as barracas de artigos típicos e sabia que havia apresentações de teatro de marionetes. Cheguei lá com os amigos, mas naquele momento estava sozinho.

Ouvia ao longe uma polca que era a trilha de algum espetáculo de bonecos. Tudo isto, aliado à iluminação noturna do lugar, dava a impressão de um grande cenário surreal. Cheguei a pensar que era personagem de um filme de Fellini, de verdade (ok, vocês estão se cansando da brincadeira... eh eh eh!).

Mas eu e todo meu povo, estávamos lá pelo show do Cordel. E como ando um pouco sem fôlego para ficar no meio do grande público, preferi ficar ali atrás. Afinal, havia os telões, também. Não seria impossível ver e, mesmo ao longe, se via o palco. Foi assim que nos separamos. A maioria foi para o meio da massa. Outros procuravam os tais banheiros químicos, além da própria cerveja. Eu mesmo fui o da segunda turma.

Então liguei. Apenas para combinar o ponto de encontro. "Ei, Júnior, estou ao lado do Homem-Pássaro. A gente se encontra aqui depois do show." Ele estava perto e apareceu por lá. O Mafra e a Ale também apareceram e decidiram fixar-se ali também. Conversávamos enquanto não havia o show.

Pois bem, a banda adentrou o palco. O clima surreal se intensificou mais, como num "Glauber meets Fellini". Havia cerveja - adquirida com dificuldade, diga-se de passagem -, chocolates e as conversas com os amigos. O todo era oniricamente perfeito.

Então me desconectei do todo, porque o todo já era a matéria. Comecei a escrever em meio às invocações de chuvas que não viriam. Sim, o serviço de previsão de tempo estava correto. Não haveria chuvas.


Em algum momento, as latinhas de cerveja começam a fazer efeito e eu desejei um banheiro químico. Mas ao contrário do que se pode imaginar: desejei um banheiro químico que, quando a porta fosse aberta, se revelasse uma geladeira repleta de mais e mais latinhas de cerveja.

Viagem demais, né? Ok, vou deixá-los satisfeitos. Guardei a caderneta e a caneta. Ainda havia cerveja na mochila, porém quase quente. Mafra e Ale tiravam fotos. Juntei-me a eles, curti a conversa, o show. No outro dia, acordaria e descobriria que tudo aquilo não era real?

Não. Era real. Cordel foi muito bom e, mais que isso, estar lá foi melhor ainda.

Beijos e abraços, amigos!

Fonte da Foto: http://www.entrecantos.com

NA MINHA VITROLA: VIVE LA FETE - Touche pas.

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* SESI Bonecos do Brasil

Então me recordo...

Não muito tempo atrás, disse que escreveria sobre Fellini. Pois bem, amigos, hoje é o dia. Falarei especificamente de uma de suas obras-primas:



Amarcord - referência à tradução fonética das palavras "mi recordo", usada na região de Emilia-Romagna, na Itália, onde o diretor nasceu. Lançado em 1973, sobre Amarcord, Fellini nega que se trate de um filme autobiográfico, mas admite que há episódios que se passam ali que se parecem com alguns de sua infância.

A história, que não contarei exatemente de acordo com a cronologia e, grosso modo, é esta:

O vento traz os flocos de neve e este é um sinal de que o inverno se vai, para dar lugar à primavera. A cidade está eufórica, festeja. A queima de um boneco de uma bruxa velha é um rito de passagem da estação.

Desfilam os personagens, como a bela e coquete Gradisca, o acordeonista cego, o resmungão Aurélio e sua família, a louca Volpina, o advogado que nos narra a história e que tem um "admirador" que está sempre a avacalhá-lo, entre outros.

É delicioso contemplar as travessuras juvenis e os excêntricos professores. Ainda que tudo se passe em tempos politicamente difíceis, onde o fascismo dá o tom. Na ocasião de uma visita de Mussolini, Aurélio - que é contra o regime - é suspeito de ser o responsável pela ousada execução da Internacional e paga o pato.

A religiosidade está presente. Durante a confissão, o padre diz a Titta, o garoto que depois iria se encantar com a fartura dos seios da dona da tabacaria, que "os anjos choram quando você se masturba".

Entre as recordações mágicas de um mundo que não existe mais, o lunático Teo carrega pedras no bolso, e no dia em que seus familiares o levam para um passeio, sobe em uma árvore e clama por uma mulher. Eis a imagem da desolação. Revolta-se contra a família, que quer que ele desça da árvore e atira pedras contra todos. Após 5 horas, a equipe do sanatório onde ele está internado chega e uma freira anã consegue fazê-lo descer.

O maltrapilho Biscein se dá bem com as 30 concubinas de um emir gorducho que se hospeda no Grand Hotel da cidade. No cinema, Gradisca sonha com Gary Cooper. Titta sonha com Gradisca (aliás, todos sonham com ela...) e depois com Lucia, a da tabacaria. Seu amigo Ciccio sonha com Aldina, que sonha com outro garoto...

Mesmo os dias de nevoeiro têm sua beleza nostálgica... e uma corrida tem lugar. E mais festa!

Mas nem sempre... Miranda, que é esposa de Aurélio e mãe de Titta, fica doente durante o período de nevasca. Dá conselhos ao filhos, sabe que não vai viver muito tempo. E, de fato... no dia de seu funeral, já não neva.

Gradisca enfim encontra num soldado seu Gary Cooper. Casa-se e vai viver com ele em outra cidade. Tem lugar uma festa de despedida num cenário bastante bucólico. Chove. Sol e chuva, casamento de viúva. O acordeonista cego toca o tema do filme. Recomeça a neve. A molecada corre pela paisagem campestre...

Em contraponto com amargura do personagem Marcelo Rubini, em A Doce Vida, Amarcord é a celebração da vida simples, ingênua mesmo, dos habitantes daquele lugar, cujo nome não é revelado. Não há explosões hollywoodianas, que ninguém precisa disto ali. Quem dera a existência fosse um sonho, quem dera eu tivesse nascido num filme de Fellini. Não que viver na maior metrópole sul-americana seja absolutamente ruim. Há momentos ótimos - inclusive contarei, na próxima postagem, um episódio interessante e quase onírico que se deu no último sábado. É que o universo de Amarcord leva a isto... a desejar estes dias jamais vivemos. Ou podemos vivê-los, de alguma forma?

Seja como for, beijos e abraços pra vocês!

Fonte das fotos: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/amarcord/amarcord.htm

NO MEU HD CRANIANO: A música-tema de Amarcord, composta por Nino Rota.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Pequenos espaços e coisas grandes

Um pouco da boa e velha palavra para vocês. Confiram!



Pequenos Espaços e Coisas Grandes

Um verso seu que não cabe no compasso. Aperta, apara, tira daqui e dali. Quem sabe algo fique? Ao menos nas entrelinhas. Mas fica algo que não se sabe o quê...

Já não cabe amor nos roteiros de filme e a boa vontade de imaginar é morta, assim como a rima é improvável.

Há um sabor de amargo nas bocas do mundo, que só percebe quem já sorveu o veneno.

Sente seu corpo em choque com as paredes, enquanto a terra treme e não há tempo para praguejar contra os homens que não preveram o abalo.

É assim que acontece, as falhas na camada se alargam e a garganta seca. Não que seja o fim, mas é assim que se caminha para um.

Há pequenos espaços aonde pode ir e refugiar-se. A rachadura da parede onde você pode olhar e talvez encontrar algo que desperte uma curiosidade de tempos de infância.

Talvez você encontre um pouco de beleza ali. E um grande e incrível sorriso possa surgir.

Um retrato velho e sem graça. Uma certa apreensão. Um pouco de esperança. A vida de cada um de nós. Enfim, a receita para isto aqui acima.

Mas... adivinhem? Está incompleto!

Por isso, quem se sentir à vontade, que ajude a completar de alguma forma. Sim, quero que vocês participem dessa construção e sejam co-autores da poesia.

Depois de alguns dias, mostro a vocês como terá ficado o texto.

Então é isso: vamos olhar juntos pela rachadura na parede. Boa sorte!

E, claro, beijos e abraços!

Fonte da foto: http://www.eclectica.info/index.php?id=99

NA MINHA VITROLA: SONIC YOUTH - Or > RON SEXSMITH - From Now on.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Impossibilidades, surrealismos e quixotismos

Hoje recebi a edição 52 da revista virtual de cultura Agulha, dos poetas Floriano Martins e Claudio Willer. Fiquei interessado, de prima, nas matérias sobre cinema. A primeira, uma análise de Rodrigo Petronio sobre 2046, de Wong Kai War. Mais do que isso, uma análise sobre a impossibilidade de amor nestes tempos. Vale a pena conferir.

Assim como vale também a matéria de Wanderson Lima sobre o cinema de Buñuel - como vocês sabem, recém-visitado por mim (Esse Obscuro Objeto do Desejo).

Deixo aqui os links das matérias. Espero que se divirtam!

- 2046, de Wong Kar Wai: era uma vez o amor, por Rodrigo Petronio




- Surrealismo e quixotismo no cinema de Luis Buñuel, por Wanderson Lima





Beijos e abraços, amigos!

NA MINHA VITROLA: DIRE STRAITS - Brothers in Arms > Money for Nothing > Walk of Life.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Um que parte + alguma poesia

Um pouco triste. Hoje morreu o escritor, crítico e professor João Alexandre Barbosa. Na nota do Folha Online não há nada sobre as razões da morte, ao menos até as 17h. Eu troquei algumas palavras com ele, em duas oportunidades. Era uma pessoa extremamente simpática e só não digo que jamais deveria partir porque seria uma ingratidão condená-lo à eternidade. Paul Valéry perdeu um admirador e estudioso.

Bom, mas tudo deve prosseguir. Então vamos com alguma poesia. Sim, vamos:


Recriando-me

Tão bom é recriar o mundo nestas linhas... exagerar-lhe as neuras ou extirpar-lhe as rugas. Nada ou ninguém é tão bom quanto isto.

É o que me leva a um paraíso.
Até prova em contrário, o único possível.
Pois nestas linhas, sou o criador.

Posso levar um filho aos céus, torturar almas perdidas ou fazer uma orgia com as virgens de Allah.

Mas só aqui.

Nestas linhas, sou deus e sou livre.
Por isso, lembro-me do pai de Werther e digo:

Não preciso de outra coisa.

E isto é tudo, amigos. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: LATUYA - Perdoa > Eis o Tal > MUSE - Starlight.