sexta-feira, 29 de junho de 2007

A minha música

Esta é a história de um amigo. Ele existe. A mãe, esquecida, não o buscava na escola. Ele ficava ali no portão, sozinho. Quase ninguém prestando atenção à sua solidão, até que...


A Minha Música

Ei, quem é você? Porque me olha com essa cara de dó? Nunca viu um cara triste sentado na calçada? O que você quer saber de mim? Quer saber quem eu sou, né?

Pois eu digo.


Sou o que sou, o que fui e serei.

É que eu choro, ontem criança, na porta da escola. Hoje eles me esquecerão outra vez.
- O que foi, menino?
- Mamãe... ela não v-veio me buscar...
Bom que eu aprendo sozinho o caminho. Mas carinho, amparo, proteção... nada disso é demais quando se é pequeno.

Uma vez eu me olhei no espelho e me vi grande, 20 anos, com minha sombra cantando aquela música. E olhando de novo, com 20 anos, enxergando o garoto de seis no espelho, verei que você me abandonava, me esquecia mais uma vez. Só que você já será outra pessoa.

Eu sou o que sou, o que fui e serei. Tudo ao mesmo tempo. Porque não muda. Porque carregarei comigo a dor que não pude negar.

E vivi marcado por isso.


Mas eu marquei o caminho de volta. Não precisarei mais do amparo dos que deviam me amar, na verdade, tão ausentes. Sou gente grande e posso mudar tudo. E se no fim nada der certo, ao menos o menino continuou a ter sua música.


Então eu também o vejo, fazendo o velho caminho da escola para a casa. São outros tempos - ele canta a música, baixinho, para si mesmo (é, o personagem recorrente!)...

E, à propósito, a música da vez é Galapagos, do Smashing Pumpkins. No mais, idéias fluem. Apenas não prometo que poderei executá-las. Mas tomara que sim.

Beijos e abraços, pessoal!


sábado, 23 de junho de 2007

Talvez e certeza

Notícias da busca de todos os dias por sentido. Este texto nasceu de uma audição de O Velho e o Moço, de Los Hermanos. Confiram, pessoal:


Talvez e Certeza

Noutro tempo, o primeiro... a casualidade de ter estado no lugar onde aquelas pessoas estiveram... elas buscando respostas, ele as carregando na mochila - ainda que não fossem as respostas definitivas. Ou eram o erro absoluto?

Não sabe muito bem o porquê. No sofá da sala onde existe o aniversário da amiga, um universo de pensamentos o atordoa, junto àquelas amáveis pessoas tão mais cheias de vitalidade que ele - afinal, há o violão, a música e a vontade de comemorar. Gosta de estar, mas o ritmo é outro.

Interno. Canta baixinho, repetindo a canção e oferecendo-a aos próprios ouvidos, no exercício de re-buscar-se ali, refletindo na letra da música, puro cristal.

O exercício é também tentativa de eliminar a interrogação do texto que o martela na mente a cada dia. Começar a envelhecer não é do jeito que pensava. Percebe o risco. Um começo de fim por adaptar-se às regras do jogo? O que importa menos, quando se sabe que é possível sabotar o regulamento. Se seguir o caminho certo, está bom. Mas... quão bom pode estar? E que caminho, afinal?

Por isso, anda com os mais jovens e de espírito contestador. Os que ainda não são massa sem reação e reacionária. Os que estão nos coletivos, como quaisquer outros, mas que não exibem a face sem expressão, como a maioria. Os que não têm as respostas, mas que têm em seus olhares o brilho do puro cristal. "Então, que busquemos juntos", pensa. Assim, não lhe parece que o mundo possa ir tão mal.

Talvez a busca não esteja sendo feita da forma correta - e ele já não é mais tão jovem para erros. Ou talvez seja um vampiro involuntário da juventude alheia, sugando sem se dar conta a energia de quem está ao redor.

Seja qual for o talvez que se tornará certeza, se é que haverá a certeza, ele gosta de estar ali, com aquelas pessoas, os ditos amigos. São poucos, mas bons.

São poucos, mas bons. Aqui poderia caber tantos de vocês... beijos e abraços!


terça-feira, 12 de junho de 2007

A música, outro ritmo

Depois de um intervalo de tempo, um conto sobre o tempo, baseado em Oração ao Tempo, do Caetano Veloso, que é uma composição do tempo em que mesmo as contradições dele eram mais interessantes.

Salvador Dalí, A Persistência da Memória (1931)

A Música, Outro Ritmo


Saudade do tempo em que o tempo não precisava ser conquistado. Simplesmente estava lá, para nós.

Era uma quimera...

É que sempre há o momento em que ele se rebela - ou será a vida? Sim, a vida é que se torna outra e fazemos qualquer coisa com o tempo, sem percebermos. E ele vai embora, sem percebermos.
O tempo que volta. O tempo dos apaixonados, dos que querem mudar o mundo.
Houve um tempo, Miriam, em que o poeta escrevia pra você, mas jamais mostrava. Você não pode se lembrar, porque só agora eu lhe digo.

Quando percebe, você se assusta. Vejo agora em sua fisionomia. Vi anos atrás, também. Você me faz querer rezar. Mas é justamente o que não faço. Posso, no máximo, desejar sem esforço que o tempo se torne novamente seu aliado. Apenas isto, porque, de qualquer forma, o tempo me mata. E é melhor o desejo sem esforço porque qualquer esforço é inglório.

É, com o passar dos anos... eu comecei a duvidar de sua relação com o tempo. E a dúvida cresceu até virar certeza do fracasso. Esta é a verdade.

Eu nem sei porque falo. Tudo continua como antes: ouvíamos a mesma música, mas não marcávamos o mesmo ritmo, com os pés.

O poeta, meu bem, aquele poeta que escreveu pra você... está morto. Eu o matei anos atrás, mas você não soube de nada. Matei-o da forma mais óbvia, sabendo que você não poderia saber. Fiquei ao seu lado, e isto você sabe bem.
O tempo que trai. O tempo do último leito... haverá a chance de dizer adeus?
Não podemos caminhar juntos agora, por causa de nossos ritmos, que são outros para cada um. Não somos capazes de dobrar o deus inflexível e caprichoso aos olhos de quem não entende. Mas ele... ele, sim, nos junta ou nos afasta. E mudar isto, ah... mudar isto...

Como, se não conseguimos entender a nós mesmos?

Neste clipe aqui, é a Rita Ribeiro quem canta:



Espero que disponham de algum tempo para perceber a vida que passa, pessoal. Ainda que talvez não ocorra a percepção, beijos e abraços!

sábado, 9 de junho de 2007

Funny Little Frog

Demonstrando pra pra um amigo como se coloca vídeo num blog.



Mas é tão bom, que vai ficar. :-)

Beijos e abraços, pessoal!

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A vida que começa

Aqui está, amigos, o conto que deu início ao meu atual projeto de pequenos contos com base em músicas. Não o publiquei antes porque estava participando de um concurso. Justamente com este texto.

Tempo passado, prêmio (sim!) e mais alguns dias, agora me sinto à vontade para postá-lo sem me preocupar com regulamentos.

E, já que sexta-feira foi o aniversário nº 40 de Sgt. Peppers...

She's leaving home. Do you know?

A Vida que Começa

Primeiro dia de 2007. Acordo quando todos acabam de ir para a cama. “Indisposição”, disse, sem pensar na desfeita a parentes e amigos. Algum comprimido e não me dei conta dos fogos, a não ser por aqueles do mundo dos sonhos que poderia percorrer.

Tenho a chave do carro sobre a escrivaninha e a mochila arrumada em silêncio no dia anterior. Uma música quarentona toca em minha mente. Sempre dizem que devemos começar um ano de forma diferente. Então pensei: “desta vez, vai.”

Antes de sair do quarto os músculos param. Esforço além do humano, mas sigo. Levanto sorrateira e confirmo: ninguém acordado. Melhor, pois olhar para o rosto de mamãe me faria desistir. Bilhete passando pelo vão da porta. O que sonham esses dois que deixo?

Saio e o sol do primeiro dia da vida é lindo. Sorrio.

E vou.


É isso, hoje. Beijos e abraços, pessoal!