sábado, 21 de agosto de 2010

De flores

Poema de poesias. Daqueles que dizem nada e... tudo.


De flores

escrevo poesias para rosas
é isto que faço e sou
um sol
uma noite fria
sucintamente
penetrante
nos corações vazios

nos ouvidos mudos
já fui também coisa
para quem não tem olhos

ou boca
a tarde na praia
ou a lua constante
faço isto para ninguém
e para mim

escrevo prosas para marias


Beijos e abraços, pessoal!

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Verbo e homem

Vulnerável, quer a invulnerabilidade. E isto apenas torna mais humano. Não é incrível que haja ainda poesia em todas essas criaturinhas que se chocam buscando um espaço no metrô de uma cidade grande?

Ou isso está somente no poeta? Ah ah ah!

Bom, vamos à próxima!


Verbo e homem

Quis ser um verso de poesia.
Poemas e seus versos,

eles só provocam.

Não são afetados por coisa alguma.

Mas não era.


Carneosso. Sentimento.


Pode morrer por dentro,

mas o verso fica.


Ou era?

Era sua paixão, seu ciúme.

Era aquela briga
e reconciliação.

Dedo apontado na cara,

olhar perdido

e encontrado.

Beijo molhado,

incendiário.
Mil juras.

Amor imaginado

e consumado.

Voz no telefone,

tensão do primeiro papo. Tesão.


Presente mais lindo do mundo.

Embrulho, desembrulho.

Satisfação e sono e acordar e encontrar e mais mais mais...


E verso também.


Verbo quer ser homem,

carneosso. Sentir.

E viver.


Cada um quer um pouco mais do que tem. Alguns já nem se lembram disso e a "coisa" fica ali, escondida. Mas há.

Beijos e abraços, pessoal!

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tindersticks no Festival Sudoeste 2008, Portugal

Show dos ingleses do Tindersticks em 8 de agosto de 2008, no Festival Sudoeste, em Zambujeira do Mar, Portugal. A banda é "classuda", seu repertório, pra quem não conhece, é uma mescla cheia de sensualidade, tristeza e delicadeza. Seus arranjos são de uma de uma suntuosidade à beira da perfeição. Tomara que gostem.



Formação
Stuart Ashton Staples - voz, guitarra
Neil Timothy Fraser - guitarra, vibrafone
David Leonard Boulter - teclados, percussão


E aí, gostaram? Espero que sim. Beijos e abraços, pessoal!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Insumopoema

Leiam. A oferta é imperdível.

Variação minha sobre The supermarket lady,
de
Duane Hanson (EUA), 1969.
Insumopoema

Eu consumo, você sabe.
Eu sei, você também.
A soma de nossos consumos
gera algum alívio?
Ou alienação garantida?

Sem seu dinheiro de volta.

Não li metade dos livros
nem metade dos filmes eu vi.

Passeio patético
por vitrines que nem queria
ver de verdade.

Assumo minha vontade
de sumir.
Com uma companheira
apaixonada e apaixonante.
Sem cifrões. Cartões. Talões.
O diabo que a parta, suciedad.

Sem documentos
nem nomes. Ou números.

Informação é poder,
mas qual delas vale a pena
quando se está preso
no labirinto do centro de compras?

Pouco importa.
Consuma-me enquanto permito.
Velozmente
enquanto não sumo
entre as nuvens
de produtos
e a saudade
das velhas máquinas de escrever.

Leve 3, pague 2 poemas. Arrivederci. Beijos e abraços, pessoal!

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sábado, 7 de agosto de 2010

Alva Iracema

Uma fragata que afunda, um dia com céu mais limpo, uma dose de conhaque, o porco gordo que vomita dinheiro alheio, mil noites de solidão e TV ligada.

Tudo isso e muito mais é tema de poesias. Mas nada foi tão falado em poesia, como o amor. Mesmo que seja um amor torto, de meleca no nariz e unhas encravadas.

Pois é. Hoje, pessoas, entrego-lhes um poema de amor. Um entre tantos. Um.


Alva Iracema

Houve um poeta na noite,
andando borracho pelas calçadas,
ziguezagueante e
não com muito destino,
apenas nevoeiro demasiado,
tropeçando em pedras nas vias.
Nada havia à sua frente
que o pudesse inspirar.

Vazia, então, era a poesia.

Com suas folhas em branco
a se perder a conta.

Todas as garrafas por ele esvaziadas
registravam sua história de nadas e nadas.
Miserável, ele observava
o nada que era existir.

O que havia de dormido em si
era algo calado que ele esperava
que talvez ainda emergisse.
Mas não, já não esperava
com todo ardor.

Até que num dia desses,
um desses dias de pouca ou nenhuma esperança –,
ou nenhuma ou pouca dor –
uma voz o chamou.
E ele a ouviu.

“Diabos, era uma voz sedutora.” – disse ele,
rendendo-se ao magnetismo.
Desfez-se do estado de torpor.

Alguma coisa ali se acendera.

Era Vênus quem portava aquele litro
e vinha em sua direção.
Um trago de paixão insana...
e o poeta enxergava, enfim, sua pequena.

Tempestade e ímpeto.
Ele irá ao seu encontro.

Atirou rua abaixo suas defesas
e gritou que ainda havia amor.
Passou a haver.
Feliz fatualidade da vida.

Shelley e os outros caras estavam, em parte, certos.

De todos os poetas largados do mundo –
e trata-se de um numeroso grupo –,
agora é o mais feliz
e, também, às vezes, atormentado
quando a visão lhe falta.
Sobretudo quando lhe falta o toque.

Jamais desapareça, ser tão venerado.
Nunca mais torne o poeta
a sentir desesperança.
Brota a flor cerca o esterco dos animais.
Ainda assim, a mais sublime
figura de amor que já não esperava.

Agora existe.

Guarda em teu seio a mensagem.
Com ímpeto e sob a tempestade, o poeta
vencerá concreto e distância,
atravessará rios e montanhas.

Ele irá ao seu encontro, alva Iracema.

Juntos, então, serão felizes.
Haverá sorrisos de parte a parte.
Olhosnosolhos,
carnenacarne.
Nesta terra.

Que lhes inspire, pessoal. Beijos e abraços!

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