sábado, 30 de janeiro de 2010

O retorno do poeta

Esta poesia é um pouco um mea culpa por meu desaparecimento.

Poderia dizer que tirei férias do blog. Não é verdade. Embora esteja vivendo ainda "com alma", não houve possibilidades de trazer pra cá algo que eu tivesse feito "com alma". E não pretendo mentir a vocês, porque são espertos, entendem tudo. Ou, ao menos, é o que suponho, acreditando também que alguém ainda visita este canto esquecido da net.

Às vezes - muitas vezes, aliás - um cara, um poeta, tem mil possibilidades de comunicar-se, de expressar o que sente, o que há. Mas o mundo tem um ritmo avassalador - vocês sabem bem - e esse cara pode simplesmente se acomodar, deixar-se levar sem nada produzir. Mesmo quando ele é um poeta. São milhares, milhões de sensações que vêm e que vão embora, se é permitido que elas não aflorem numa folha. Ou num monitor.

Mas aqui estou. De volta ao lar. De volta ao sentido de existir. Porque posso assumir tantos e tantos papéis. Mas isto aqui é o que sou. Acompanhem.

Fotografia originalmente publicada aqui.

O Retorno do Poeta

Sou poeta.
Sou poeta até quando não estou poeta.
Quando a velocidade do mundo tira o fôlego.
Quando percebo o detalhe na esquina horrenda.
Em qualquer metrópole.
Em qualquer trem suburbano.
O brilho dos olhos da menina.
A minha, dos olhos, é a poesia.
Mesmo a não escrita, a jamais publicada.
A que não se lê nem se vê.
Vive-se. Sente-se e leia. Ou sente-se apenas.

Poesia não é bula de remédio.
Nem número de telefone.
Não se decora, guarda-se na alma.
Na memória, mesmo traduzível só em sensação.

Ser poeta é não estar morto.
Embora se deva homenagear os que vieram antes.
De Cesário, o Verde, a Drummond.
De Leminski a Valèry. La mer, la mer, toujours recommencée ou
Florbela que brota sempre, sempre.

O poeta pode até não rimar, mas não pode morrer.
Pode ser ridicularizado, deixado pra trás.
Considerado anacrônico.
Ele precisa da dor, do desprezo.
Assim como do deleite. Dos pequenos belos gestos de simpatia.
E há tudo de sobra.
Como não ser poeta, não recolher todas as ações e reações?
Como não carregar tudo pela vida adentro?
Simplesmente existir como um fogo-fátuo? Ah, a não existência...

Não, um poeta é de carne e osso.
E sentimento. E memória.
Um catalogador de pessoas. De lugares.
Do que não é comumente catalogável.

Ainda que não se escreva um verso por dia.
As ondas afastam-se, apenas para retornarem.
Fracamente, fortemente.
Verdadeiramente.
Quem nasce poeta, assim permanece.
Assim existo. Sou poeta.


Pretendo retornar ainda neste fim de semana. Há mais poesia. E há algumas pequenas listas que, publicadas tradicionalmente ao fim/início de um ano, estou devendo.

Beijos e abraços, pessoal.

NA MINHA VITROLA