quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Em 2008, eu pirei com... (4)

Ontem, a partir de um certo ponto da noite, eu era um ser cheio de despeito. É raro eu admitir isso, porque é raro que eu me sinta assim. Ou o primeiro período é honesto e o segundo não é. O fato é que eu naveguei pela internet, conversei com amigos. Todos tinham um plano. Eu não. Também, me fazem falta os recursos, nesse momento.

Ok, é choro de barriga cheia. Eu fiz tanto neste ano, diverti-me pacas (parte da ilusão ou só diversão mesmo?). Talvez tenha sido um dos anos mais divertidos. Então porque eu mantenho o gosto amargo na boca? Vício? Ah... eu tenho vários. E eu fiquei tão vagabundo que nem fui capaz de escrever uma série de contos sobre vícios. Eu vinha planejando algo assim. Vamos ver. Se fluir, acontece no ano que vem. Não é uma promessa.

Não que eu deva deixar a diversão no ano que termina daqui a algumas horas. Mas tenho de fazer coisas. E quero garantir que o final de 2009 seja um final realmente feliz. Não que este não possa ser, mas estou reavaliando tantas coisas...

Ok, por um instante, é hora de parar de reavaliar as tais coisas e dizer o que me deixou pirado nas salas de cinema e no aparelho de DVD.

Eu pirei com...
Cinema

Foi um ano de muitas aquisições e descobertas. De Ozu a Cronenberg (este, uma redescoberta); Rohmer foi um grande achado e tive maior contato com o cinema de Godard e Truffaut. Nunca vi tanta coisa da nouvelle vague como neste ano. Re-encontrei Chabrol, diretor admirado por anos, mas que vinha esquecendo. E falta muito pra ver. Só comecei a cavar nesse sítio.

Ajudou muito o fato de estar na equipe do Depois Daquele Filme. Graças ao DDF, pude fazer um levantamento razoável da história do cinema japonês, por exemplo. Herzog foi elevado, por mim e pra mim, ao status de "deus do cinema". Estou descobrindo, nesses últimos dias, o cinema de Manoel de Oliveira, diretor que neste mês completou 100 anos de idade. O mais velho diretor em atividade. Mesmo. Há pelo menos dois projetos previstos para o ano que vem - um deles é Singularidades de uma Rapariga Loira, baseado em conto de Eça de Quierós - e não parece que ele está disposto a parar.

Entre os lançamentos deste ano, destaco quatro:

Batman, o Cavaleiro das Trevas -
Christopher Nolan - EUA

É uma grande aventura em que a figura do homem-morcego cede espaço para o caótico Coringa e o dualismo de Harvey Dent/Duas Caras. Tanto que eu costumo dizer pros meus amigos que este foi um filme do Coringa, não do Batman. Achei que houve um equilíbrio interessante entre ação e reflexão. Uma surpresa muito boa, apesar de eu ser admirador do cinema de Christopher Nolan desde antes de ele pensar em estar ligado ao universo "super".

Do Outro Lado - Fatih Akin - Alemanha/Turquia
O mais engraçado sobre esse filme é que eu tinha visto na Mostra daqui de Sampa em 2007. E não havia me empolgado muito. Bom, um dia em que eu quis ir ao cinema e não tinha gostado das opções, eu resolvi revê-lo. E descobri a grandeza do filme. Desencontros, diferenças culturais, questões políticas de imigração - num momento, um caixão vindo da Alemanha desembarca no aeroporto de Istambul; noutro, um segundo caixão é embarcado no mesmo aeroporto e o destino é a Alemanha. Grandes buscas, grandes destinos.

O Silêncio de Lorna - Jean-Pierre & Luc Dardenne - Bélgica/Inglaterra/França/Itália/Alemanha
Um drama sobre imigração. O desejo de estar num status mais alto e a necessidade de usar um ser humano, tirar vantagem de seu vício e deixá-lo morrer. Mas o que acontece quando não se pode lidar com isso e a única coisa a fazer é romper o silêncio?





Uma Garota Dividida em Dois - Claude Chabrol - França/Alemanha
Moça do tempo de uma TV francesa se envolve com um escritor famoso. Ao mesmo tempo, um típico almofadinha a corteja e realmente se mostra apaixonado, obsessivo. Ela faz de tudo - a ponto de se humilhar - pra agradar ao amante escritor, mas casa-se com o outro. A resolução do caso não é a mais feliz para os personagens. A história é clichê puro, mas só por ser conduzida por um Chabrol, resulta num filme quase perfeito. Uma ressalva para o final, que não me agradou.

Fico devendo algo de cinema nacional. Mas tenho engatilhado, pra ver, Estômago, Mutum e mais algumas coisas. Marquei bobeira: deveria ter visto Linha de Passe. Entre Lençóis parece uma cópia descarada do chileno Na Cama. Ainda Orangotangos é um filme interessante, a despeito da sua irregularidade. Ensaio sobre a Cegueira eu gostei de cara, apenas para depois me deparar, graças a comentários de amigos, com a questão estética: o "rímel para a miséria" de Meirelles me incomoda.

Ano que vem eu volto com o que falta: a Música!

Façam de 2009 um ano melhor! Se este ano já foi bom pra vocês, que o próximo seja melhor ainda! Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: ANTONY & THE JOHNSONS - You Are My Sister.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Em 2008, eu pirei com... (3)

Retorno. Depois de mais um desentendimento familiar, desta vez por algo significativo. Há coisas que nos magoam mais que nos deveriam. Eu queria ser forte e passar por cima disto. Sinto-me muito sozinho pra lutar e às vezes simplesmente sou derrotado dentro da minha própria casa.

Quero reunir força e mudar essa situação. Meu futuro, mesmo meu presente, dependem disto. Não quero mais ser o cara que, vez por outra, fica sombrio e cabisbaixo quando todos ao redor estão felizes. Acredito que neste ano até consegui, em alguns momentos, ser algo diferente disso. Quero conseguir mais. Quero conseguir mais.

Eu não tenho que dar o poder de as pessoas me machucarem. Não tenho que dar o poder a essa pessoa que me machuca desde sempre. E é uma pessoa que eu amo. Mas, mais que tudo, tenho que valorizar a mim mesmo e tentar lidar com as carências dessa pessoa, que não posso simplesmente deixar.

Ok, aposto que vocês estão adorando estas reflexões, mas estão mais interessados mesmo no que me fez pirar no ano quase passado. Pois vamos lá:

Eu pirei com...
Literatura

Foi um ano de poucas leituras, assim como tem sido de 2004 pra cá. São poucas, mas boas.

Valem citar Viagem ao Fim da Noite, do francês Louis-Ferdinand Céline, uma viagem sombria à "noite da alma humana". Texto pesado, mas daqueles que você quer ir até o fim. Céline foi, de certa forma, um "antiProust", estilisticamente falando. E também ficou famoso por ser antissemita, o que o levou a uma condição deplorável. Os sinais de antissemitismo não são evidentes neste livro, que foi o primeiro dele, mas apareceram em alguns manifestos e ele realmente pagou caro. Nada a ver com o talento demonstrado em suas obras. A questão é desvincular o homem da obra, o que muito se discute. O mesmo se dá quando se fala de Leni Riefenstahl, que foi a propagandista oficial do regime nazista, mas que também trouxe avanços consideráveis à técnica de documentários. Ou de Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura, porta-voz da consciência alemã no pós-guerra, que recentemente admitiu ter se envolvido com o nazismo durante a juventude.

Mas deixemos esse clima europeu de guerra e falemos de intelectuais latino-americanos radicados na França. Porque esse é o mote de O Jogo da Amarelinha (Rayuela), de Julio Cortazar, um dos meus escritores prediletos. Há todo um clima jazzy nos encontros do Club de las Serpientes. Entre os amigos, encontros e desencontros, milhares de citações e a gente fica meio perdido às vezes, mas o mais interessante é ir absorvendo isso tudo e aprender. Graças a uma escrita "labiríntica", há várias ordens diferentes de ler o livro. É uma leitura em andamento, mas que se faz muito interessante.

Por último, uma viagem a Machu Picchu em forma de livro. Uma edição caprichada da Sudamericana com fotos belíssimas, de Barry Brukoff, com poesia de Pablo Neruda e uma introdução digna do livro, de Isabel Allende. Deixo aqui o link para que vocês saibam mais no site da Amazon, onde há uns recursos interessantes de visualização.

Bom, isso é tudo por hoje. Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: CHARLY GARCÍA - Bancate Ese Defecto.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Em 2008, eu pirei com... (2)

Aqui estou, entre maços de cigarros que se acabam, festas, reaproximações, desentendimentos familiares por nada, filmes, seriados e músicas. Aqui estou pra dizer mais a vocês sobre o ano que se esgota. Pra dizer pra vocês que em 2008...

Eu pirei com...
Teatro

Ao entrar na sala, um estranhamento. Então todos vamos assistir à peça sentados em pufes espalhados no palco? Não, não era a primeira vez que vivenciava uma relação pouco tradicional de interação plateia/espetáculo, mas eu não estava tão disposto. Ok, estávamos lá e, diabos, foi excepcional.

Um Dia de Ulysses, do grupo Teatro de Narradores, era a peça. Dividida em dois módulos - Cabaré Paulista: do Manifesto contra o Trabalho, em que a relação entre trabalho e individualidade é avaliada de modo irreverente. Não sobra pedra sobre pedra. Notícias da Cidade é uma radiografia da vida no centro da cidade, onde surgem personagens diversos: um ex-presidiário que volta pra casa, uma costureira boliviana cativa de um comerciante coreano, um travesti que lê cartas de tarô, entre outros.

Ambos os módulos contam com intervenções de vídeo, como o depoimento de uma idosa moradora de rua. A rua... é onde tudo termina. Somos conduzidos para fora do teatro, apenas (eu disse apenas?) para ouvirmos um relato sobre a invasão e posterior retirada de pessoas "sem-teto" de um determinado prédio.

Ok, eu não vi tanta coisa em teatro assim, mas essa foi das experiências mais interessantes não apenas neste ano, mas nos últimos anos.

Bom, eu não devo demorar a voltar. Talvez à noite, talvez amanhã pela manhã. Há muito a ser dito. O cigarro acabou, então vou ali comprar mais.

Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: BON IVER - The Wolves (Acts I & II) > Blindsided > Creature Fear > Team > For Emma.

Em 2008, eu pirei com... (1)

2008 foi... esquisito. Eu já falei algo sobre isso recentemente. Um ano de mentira. Hoje, reavaliando algumas situações, eu diria que também foi um ano de confusões.

Até o momento, não consigo avaliar exatamente o que se deu comigo em pelo menos duas ocasiões muito estranhas. Cabe trabalhar pra que 2009 não seja mais do mesmo e talvez eu procure ajuda especializada. Cabe trabalhar. Porque um cara como eu gosta de viver num nível razoável e quer manter esse nível. Porque um cara como eu precisa encontrar uma identidade e ser reconhecido a partir dela.

Sei. Sou um escritor e não tenho vergonha disto. Muito ao contrário. Se há algo que eu ame em mim, é justamente isso: a forma como eu sinto as coisas, os fatos da vida e como eu os transformo no papel. Isso por si só já é uma terapia. É um estilo de vida. Sim, eu tenho estilo.

Há o fato de conviver em sociedade. E isso remete a algumas necessidades. A sociedade cobra. E tenho de ser alguém pra ela. Mais pra mim do que pra ela, porque o reconhecimento por ser o responsável por algo bem feito é... inebriante. Então não nego meu orgulho e minha necessidade de que isso aconteça.

Tenho uma ideia de onde quero estar em 2009 e não vou medir esforços pra estar lá.

Seja como for, através do sofrimento fui capaz de crescer. Estou crescendo. Continuo, apesar de parecer parado. Mas continuarei num ritmo melhor no ano que vem.

Bom, mas mais que tudo, é hora de dizer o que me fez pirar em 2008 na coisa de artes. Então vamos lá.

Eu pirei com...
Exposições

Foi uma exposição supercompleta sobre os 50 anos da bossa nova, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Havia de tudo um pouco: a história do gênero e de diversos nomes, fotos, figurinos, arquitetura da época, design, vídeos e, claro, muita música. Tudo o que eu poderia dizer não fará jus à sensação das horas que passei lá. Simplesmente fodido!

Claro, é totalmente irrelevante, mas... ainda levei um souvenir: uma caneca que uso direto. De estimação mesmo. Pensem em Alessandro sorrindo enquanto toma sua vitamina de banana com aveia, parte do seu ritual matutino.

Beijos e abraços, pessoal. Não demoro a aparecer. Talvez ainda hoje.

NA MINHA VITROLA:
THE ARCADE FIRE -
Windowsill.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O último sarau do ano

Ei, ninguém vai querer perder isso, né? Eh eh eh!

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: R.E.M. - Losing My Religion.

Sombra e sol

Breve poesia, amigos:

Joseph Cotten em A Sombra de uma Dúvida, de Alfred Hitchcock (1943).

Sombra e Sol
entre o sol e a sombra,
muitas dúvidas

e

uma certeza:

o que fazer
para
prosseguir.

Beijos e abraços, pessoal! Nesses dias ainda volto com mais.

NA MINHA VITROLA: FITO PÁEZ - Acerca del Niño Proletário.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

2008, o ano da mentira

Sea of Lies, de Ronald Kurniawan (EUA).

Ufa... o ano vai chegando ao fim. Umas poucas pessoas sabem que eu escreveria um texto aqui sobre este ano e sabem que eu ia nomeá-lo como "o ano da ilusão". Foi mais que isso. Então remodelo minha definição:

2008 foi o ano da mentira.

Passei o tempo todo dizendo pra mim que tudo ia ficar bem e não fiz grandes coisas pra que isso se tornasse verdade.

Confiei e dei afeto a algumas pessoas, que me deram em troca punhaladas nas costas. Ou por simples mentira ou por falta de confiança e consideração.

Fiz de tudo pra parecer pra mim mesmo que "não, não é isso que está acontecendo". Quase fui feliz em manter-me longe da verdade, mas as evidências são muitas e o sangue que forma o meu rastro não me deixa iludir-me mais.

Por um acaso interessante, a minha sorte no Orkut hoje é "Agora é a hora de fazer novos amigos." Desde que eu não me escore neles como se fossem garantia de bem-estar. Devo garantir-me por mim mesmo ou continuarei a repetir os mesmos erros.

Posso fazer diferente. É algo como começar do zero. Rever mesmo os bons amigos, que eu tenho sorte de ainda serem uns tantos, de um jeito novo - o mesmo jeito a partir do qual devo enxergar quem aparecer. Mas, principalmente, tenho de me voltar a mim mesmo. Reconstruir-me a partir de certas prioridades. Tenho algum tempo até que as coisas voltem a acontecer.

Em outros tempos, eu maldiria os dias de festa, pelo vazio do significado de um desses dias, ao menos para mim. Mas creio que se faz a oportunidade de eu refletir, de fazer algo novo por mim. Melhor do que cultivar mágoa, revolta. Embora neste momento seja o que sinto.

Mas não vou fazer grandes promessas. Em 2007 eu me prometi muitas coisas para 2008 e não consegui cumprir mais da metade dos objetivos. Vou resumir tudo em uma promessa básica: vou fazer o que tiver de ser feito, do jeito simples. Nada de sofisticação, de sofismas! Deixo isso com outras pessoas.

No entanto, nem tudo em 2008 foi feito de mentiras. Embora com alguns percalços, o Depois Daquele Filme vai bem, obrigado. E tenho orgulho de ser parte deste projeto. De verdade, a melhor coisa que me aconteceu neste ano.

Queria ainda dizer muitas coisas, mas sinto que só choveria no molhado, se é que não o estou fazendo. Por isso, deixo meus beijos e abraços para os que são de beijos e abraços. O resto é resto... aliás... que resto? Que fiquem nesse ano de mentiras horrendas!

Em breve, ainda neste ano, as minhas listas de melhores de 2008. E serão de verdade!

NA MINHA VITROLA: MERCURY REV - Butterfly's Wings.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Memória

Tenho uma amiga que diz o que pensa. Nem todos fazem isso. Ela faz. Ela diz. Doa a quem doer. Eu gosto, embora já tenha doído. Uma dessas figuras que você encontra pela net e, de alguma forma, vai lhe manter cativo do seu carinho. E se você sabe que ela diz a verdade, sabe que o carinho é de verdade. E é recíproco. Ela tem um circo em forma de blog. Nós temos um projeto que não foi projetado, nasceu do nada e está indo, o Conversas Instantâneas. Essa é a segunda parte. A primeira está no blog dela.

Sem mais preâmbulos, vamos ler!

Conversas Instantâneas
Cátia Andressa da Silva e Alessandro de Paula

Parte II: Memória

- Penso que necessito da memória. Portanto, a busco. Preciso da memória para revisitar meus erros. Para ratificar meus acertos e, com tudo isso, erros e acertos, seguir na busca. Mas como, se o que busco é justamente a memória?

- Primeiramente não entendo porque tens a necessidade de revisitar erros e ratificar acertos. O que faz as coisas valerem a pena não é a busca pela memória. Também já somos uma nação sem memória. Na verdade, nem somos nação nem temos memória.

- Pois eu preciso.

- Me diga o motivo.

- Não sou a nação. Não tenho nada a ver com a nação. Tenho a ver com minha busca. E quero a memória. Quero me lembrar de tudo. Do amargo do fracasso, do picante da ira, do adocicado dos pequenos carinhos, do salgado das piadas entre amigos. Quero tudo. Não me construo sem memória.

- Ficamos muito presos à memória.

- Não me importo. Não quero ficar preso ao vácuo.

- Mas é a necessidade da memória para sua própria construção ou você tem medo de cair no esquecimento?

- Não tem medo das memórias das pessoas não alcançarem você? Como artista, isso seria bem duro, hein?

- São situações diferentes. Preciso da memória para construir-me e re-construir-me a cada dia.

- E, sim, também não quero ser esquecido. É preciso ser relevante ao menos a uma formiga.

- Tolice!

- Já conto com este não-alcance. Se conseguir ser relevante a uma formiga, já é muito.

- Já é lucro.

- Humanidade.

- Eu odeio essa palavra: relevante. Está todos os dias atolando a felicidade alheia.

- Entre todas as características positivas e negativas do ser humano, está a de importar-se com o outro. Nem que seja a de importar-se com o que o outro pensa de você.

- Aceito isso em mim com naturalidade.

- A palavra nem precisa ser dita. Apenas é preciso ser.

- Importar-se com o que o outro pensa de você?

- Não todo "outro".

- Eu prefiro me importar com o que eu penso dos outros, o que eu sinto pelos outros, se eu respeito os outros...

- Mas um "outro" ou "outros" específico(s).

- Bom, de qualquer forma, também penso neste aspecto que disseste.

- Mas o que te leva a rejeitar a memória?

- A sua, digamos, irrelevância. Hoje temos câmeras digitais, blogs, temos toda a memória eletrônica, digitalizada...

- Deixo meus pensamentos no vácuo, no não-pensar em coisa alguma...

- Bom, é uma ferramenta. Mas me importa como sinto isto. O significado que dou a isto.

- Hahaha

- E qual é esse significado?

- Se lhe explicasse sobre todas as coisas e significados, não veríamos o sol antes de 2015.

- Taí, eu gosto muito do Astro-Rei!

- Justamente porque gostas e eu gosto, convém não listar tudo.

- E vejo que gostas do vento, então... de ser levada pelo vento todo o tempo, como uma folha. É isto?

- Isto é uma provocação?

- Isto é uma provocação! E um questionamento. Ou a ti não lhe agradam os questionamentos, como não lhe agrada a memória?

- Gosto de ser levada pelo vento, com mais intuição do que razão. Porque necessitarei de direções pré-estabelecidas quando há uma tal teoria (não a conheço ainda, mas conhecerei um dia) que prova que o que está programado não é o que traz algum tipo de felicidade, de plenitude. E se, ao contato de tal teoria, descobrir que não precisas de nada? Nem memória nem direcionamento. Então provarei minha tese. Não é mesmo?

- Provará apenas que, neste momento, não sabemos, ambos, de muitas coisas.

- Você tem necessidade de saber de algo?

- É o mesmo que me perguntar se necessito da memória. Mas eu lhe digo: sim.

- Necessito saber.

- No entanto, não me desespero se não souber. Pois não é possível saber tudo. Humanidade. Limitação.

- E não morrerá se não souber nunca. Desencana!

- Preso ao meu tempo. Morrerei de qualquer forma. Mas enquanto viver, buscarei algo.

- Buscas...

- Não encano. É meu jeito de existir.

- Buscas... buscas... buscas... ah, que enfadonho ficar buscando o tempo inteiro.

- Tão natural quanto o rio que corre para o mar. Mas disse que busco todo o tempo?

- Tão natural quanto o rio que corre para o mar.

- Não, eu permito o esquecimento em certos momentos.

- Busca na memória, busca algo que nem sabe o que é!

- Isso é tão natural como a abelha que pousa na flor.

- Não buscas o tempo inteiro?

- Por isso busco.

- Você deixa de buscar o tempo inteiro? Só busco meus chinelos quando acordo no meio da noite pra fazer xixi. Mas não estamos falando de matéria não é mesmo?!

- Estamos falando de todas as coisas. Mas penso que te enganas.

- Estamos?

- Se estudas até aos fins de semanas, é porque algo tu buscas.

- Ui! Me pegou!

- Não é verdade?

- Não sou uma boa mentirosa!

- Um momento, minha querida mentirosa. Mais querida que menti-rosa.

E prossegue. Num dia desses, prossegue.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: THE WALKMEN - Louisiana > Emma, Get me a Lemon.

domingo, 30 de novembro de 2008

Ensueño

Mais uma filha da minha irrealidade. Ou bastarda da irrealidade do mundo. Seja como for, que seja. E que haja poesia.


Ensueño

é quando a treva dá lugar à nova luz
e alguns acordam.
outros apenas iniciam

o sonho.

é quando, de todas as expectativas geradas,
algumas se definem em certezas.
outras apenas prosseguem
ou definham.


você as carrega consigo
e eu também.

no entanto, há muito ruído no mundo
ódio

inveja
má vontade...

escolho outro caminho

algo que fará com que apontem dedos
em minha direção.
dirão:

"que ingênuo! que tonto!"
mas dizem outra coisa ao resto da humanidade
nos cartões de natal, em votos de aniversário ou nas cerimônias religiosas...
ah, as cerimônias...


sempre esquecido, o sentido real.


escolho o amor,
ainda que possa doer.
e doerá.

de qualquer modo,
ódio, inveja e má vontade cansam mais.

doem mais.

pueril. ingênuo. tolo,

fujo da tragédia.
que ela me busque nos noticiários de tv,
nos textos de artaud,

na crucifixão,

no fundo do copo.
já não quero mais. tenho escolha.


escolho meu sonho
sem prescindir da luz do dia.

E que seja assim! Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: LAMBCHOP - Of Raymond > DENT MAY - Love Song 2009 > MAGNETIC MORNING - Out in the Streets > ISOBEL CAMPBELL & MARK LANEGAN - Trouble > Back Burner.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sarau: feijão sem arroz, mas com amigos e poesia

Quem perder é a mulher do padre! Eh eh eh!

Mais beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: GUSTAVO CERATI - Sweet Sahumerio Sinfónico.

Boletim do DDF # 0014

Desde ontem, no DDF, um texto meu, inédito, sobre Nosferatu, o Vampiro da Noite, de Werner Herzog - o terceiro sobre a bem-sucedida e, ao mesmo tempo, ensandecida parceria entre Herzog e Klaus Kinski.


Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: GUSTAVO CERATI - El Rito.

domingo, 16 de novembro de 2008

Do you realize?

The Flaming Lips - Do You Realize?


... e não sai da vitrola, nestes dias! Obrigado, sr. Coyne!

Beijos e abraços, pessoal!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Microrrelato de uma top antes de

Conto novo pra vocês. Nada tão elaborado. Cenas de um sonho que não guardei por completo. Sensação de que deveria existir, assim, selvagem, sem muito cuidado. Apenas existir e deixar rolar, o conto. Vamos lá:

Microrrelato de uma Top Antes de

E abriu a janela.


Como tinha chegado ali, não entendia. A última lembrança era a vontade. De se integrar e de se entregar. Tudo o que sentia era amor. Então desapareceu no emaranhado de corpos e só ressurgiu na kitinete, com as amigas dormindo tal qual ela um instante antes.

Onde ela aprendeu tudo sobre como ser uma garota do interior no lugar onde tudo acontecia. Tudo sobre como dividir com outras sonhadoras loucas e corajosas o suficiente. Sobre amor e fugas. Sobretudo fugas.

Não é como era no lugar frio de onde vinha. Papai e mamãe e irmãos e tudo na mão. Tudo preparado para a princesinha.

"um-dia-vou-me-dar-bem", como a Gisele. E veio. Primeira fuga. Ninguém da casa soube antes. Deus-sabe-lá como chegou às mãos certas na hora certa. Certeza?

Nenhuma! Mas ia dando seus passos.


- Merda, atrasada de novo!

Na aula de inglês, tudo sobre all about, with or without you, breakfast at Tiffany's. Sem café, naquela manhã. Ou tudo ia pra fora. Haja tempo! Depois, o ensaio.


Trabalho árduo. Ninguém disse que ia ser fácil. Mas tinha um sonho. Entre caras e bocas. Sorrisos e acenos.


- Ei, gracinha, mais à noite tem uma festinha. Vamos?

Ganas de agarrar o garoto ali mesmo, no corredor defronte ao banheiro. Selvagem na imaginação. Mas tinha medo e faltava tempo... opa, opa, vamos lá, de novo!


Maquiagem pra retocar. Fazia calor. O suor. Que estrago! Que beleza! Que delícia!


Tudo pra um anúncio. Dependendo da revista, página dupla. Ela não gostava tanto da lingerie, mas era melhor do que a que tinha.


Vamos lá! Mais fotos! Quero seu melhor ângulo! Um passo para o sucesso. Para a fama. Para as passarelas. Para...

De noite, o glamour. Lugar caro, roupas caras. Tudo assustadoramente belo e sorrisos amarelos. Ela se virava. E um drink. E uma mão boba. Deixa disso, menina... vamos nos divertir! Um beijo abandonado. Porque ninguém é de ferro. Ei, aquela guria é mais bonita que eu. Olha que classe.

-Vamos fazer uma paradinha?

- Quê?

- Vem aqui que eu te mostro...


- Sei, não. Tô estranha... que foi aquele negócio que você me deu? Eu já te disse...

Por que eu tomei aquilo? Tonta! Mais tonta ainda!

- Deixa rolar, gata.


Tudo que sentia era amor...

Ou falta de.

No outro dia, acordou. Não se recordava de muita coisa. As amigas ainda dormiam. Ninguém pra conversar. Mas queria? Bum bum bum na cabeça. Um esquisito no estômago. E abriu a janela.

Lá fora, nada havia mudado e era uma manhã linda.


Engraçado, esse conto de gente presumidamente bonita me leva a um clipe de uma banda de uns caras feios e engraçados:

AC/DC - It's a Long Way to the Top (If You Wanna Rock 'n' Roll)



É isso, não é?

Beijos e abraços, pessoal!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Boletim do DDF # 0012

Neste mês que se encerra amanhã, tão político, o DDF tratou de diversos filmes nacionais que abordam um pouco mais ou um pouco menos a política. Eis os textos:

Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade. Por Francisco Santiago Jr.
Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos. Por Roberto Vagner.
A Opinião Pública, de Arnaldo Jabor. Por Thiago F.
Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho. Por Hudson Nogueira.
Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman. Por Di Carlo.


Hoje, um interessante texto sobre o livro Cinema Político Italiano, de Angela Prudenzi e Elisa Resegotti, lançado por aqui em 2006, na ocasião da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Pai Patrão, de Paolo e Vittorio Taviani.
E, por falar em Mostra, amanhã publico no DDF um texto sobre os três filmes que conferi na edição atual da Mostra, a 32ª.

Confiram, confiram! Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: R.E.M. - Until the Day Is Done.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Reminiscência do parque

Longe de tudo, de todos. É a palavra presente. A calmaria. Nenhuma relação com outra coisa. A palavra, apenas.

Reminiscência do Parque

Ah, essas vozes que teimam em se fazer ouvir. Cada coisa, cada pequeno fato, tudo o que vem à tona. E este céu que alterna a luminosidade solar e a sobriedade das nuvens...


É um parque. Estava lá para exercer sua solidão. Embora não esteja tão só: tem um bom Cortázar na bolsa e todas aquelas lembranças. Do tempo em que foi rei ou, pelo menos, sentia-se um.


Passando pelo verde e florido caminho, cenário de um antigo ritual em que as pessoas riam e se alimentavam felizes. Os melhores amigos que um rei poderia ter. Eram majestades, também. Hoje, correm buscando qualquer conforto, o que nenhum deles tinha tanto. Mas tinham outras coisas: certa alegria que não se resgata. Uma pureza incondicional. Não que tudo tenha se perdido para sempre. É que... o que divaga sente falta do sorriso da amiga, dos versos que escrevia com o amigo. Claro, tinha a ideia de que, além de seus reinos, havia algo de podre. Ainda assim, aqueles eram seus reinos. Havia esperança, talvez. Sim, havia.



Pausa.


Ali atrás, na lagoa, no cenário do que rememora, patos fazem algazarra quando alguém se aproxima da cerca. "Ah, tenho que tirar umas fotos disso", pensa.


Antes, outro palco, no mesmo nível da plateia, sob o quiosque, onde outrora exercera o papel de majestade. Estavam ali mais amigos, ouviam-no recitar os poemas belos, os poemas amargos, os de Marte, de Júpiter, de Vênus. Tudo tão igual e, no entanto, tão diferente. Era, não é mais.


Ele também quer certos confortos. Abriu mão do trono, da coroa, de tudo o que lembrava a realeza de seus domínios, para lutar em alguma arena estrangeira. Assim como a maior parte das pessoas que lhe são caras, tão distantes agora para um abraço físico. E como queria um abraço. Este é outro conforto. Isso se vende?


Nos outros dias, aqueles que resgatou em memória, aprendeu a abraçar calorosamente um abraço fraterno, sem políticas do bem-viver, sem reservas. Agora, há menos disso. Há perda. Há saudade. O melhor vinho do mundo não cura algo assim.

Resigna-se. Pega o livro na bolsa e vai ler.

É um jeito de resgatar um pouco do que era. Entre as árvores, o vento segue livre, tocando sua pele, a de todas as coisas, num fim de tarde sentimental. Então sente-se tambem livre. Entre um parágrafo e outro, pensa que, quando morrer, quer que seus restos repousem ali.



Tudo é isto, por hoje! Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: BABA ZULA - Yaþlý Aðaç > BABA ZULA & MAD PROFESSOR - Kisaltmalar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pictures of him

Cinco anos passam mais rápido do que se pode imaginar. É tempo de alguém nascer e começar um processo de socialização. De entrar e sair de sei lá quantos empregos. De começar uma relação que você pensa que será duradoura, mas que, de repente, simplesmente não existe mais. De conhecer algumas pessoas que valem a pena e muitas que não valem nem o movimento do olho.

É tempo de alguém morrer e se tornar um mito. Talvez não em nosso provinciano país, que tem uma das bandas largas mais caras do mundo, onde o transporte público de alguns grandes centros também é um dos mais caros. Talvez não em se tratando de um músico que transpirava emoção e que revitalizou um gênero um tanto esquecido.

Já o citei em algumas ocasiões - e não foram poucas - neste blog. Pois então justifico porque citá-lo novamente: hoje se completam cinco anos da morte de Steven Paul Smith, para mim e para os fãs no mundo todo, Elliott Smith.

Eu havia baixado alguns discos dele por indicação de alguns amigos que também ainda não o conheciam, mas que tinham curiosidade, tanta quanta eu passei a ter a partir do momento em que eles me falaram a respeito. Passaram alguns meses, mas a curiosidade não era suficiente pra eu ouvir estes discos. Eu era uma "draga musical", sugando tudo o que a internet podia me disponibilizar. E Elliott morreu justamente em 21 de outubro de 2003, entre o período em que eu pela primeira vez baixara alguns de seus discos e o momento em que eu o escutei pela primeira vez. Eu não sabia, tampouco meus amigos.

Na segunda ou terceira audição, fui cativado definitivamente. Os meus CDs preferidos eram, num primeiro momento, o EP Roman Candle (1994) e o quarto disco Figure 8 (2000). Era início de 2004, acabara de ser lançado o póstumo From a Basement on the Hill, que é meu "vício" até hoje. Então fui pesquisar sobre Elliott, pra saber mais sobre a carreira, os discos, as letras, as possibilidades de ele vir ao Brasil, quando leio a "notícia-baque".

Alguns meses antes, quando eu descobria seus discos no Soulseek, ele tivera uma discussão com a namorada, Jennifer Chiba. Segundo a versão oficial, logo após a discussão, ela trancou-se no banheiro do apartamento de Elliott, para depois ouvir os gritos do músico. Duas facadas no peito (incrível, não?) e Elliott terminava a própria vida. Há um inquérito aberto até hoje pra tentar solucionar o caso e os fãs mais ardorosos têm a certeza de que Chiba, na verdade, o matara, de que não fora suicídio.

A verdade é que Elliott passava por um momento conturbado. Era o processo de abstinência. Havia dado um basta nas drogas, no álcool, nos tranquilizantes, na terapia e resolvera vencer por si mesmo. Não foi o que aconteceu...

Era um tipo extremamente sofrido, sensível e tímido e isso transparece facilmente em suas composições. Determinadas letras fazem alusão a um personagem de sua infância em Portland, Oregon, EUA: seu padrasto, Charlie, que é citado em algumas músicas, como No Confidence Man e Flowers for Charlie. Em Abused, por exemplo, o compositor declarava ter sido vítima de abuso sexual na infância.

Dominava diversos instrumentos musicais: violão, piano, clarinete, gaita, baixo e bateria. Após se formar em Filosofia e Ciências Políticas, em 1991, foi trabalhar em uma padaria de Portland. É nessa época que formou o Heatmiser, que tinha uma sonoridade bem grunge e era comparada, também, com Fugazi. Em 1994, em meio a uma crise que detonaria o fim do Heatmiser, Elliott lançou solo o EP Roman Candle. Com o fim da banda, ele se agarrou à carreira solo, para, em seguida, lançar Elliott Smith (1995) e Either/Or (1996), pelo selo Kill Rock Stars.

Nos tempos de Heatmiser. Elliott é o que usa chapéu.

A virada na carreira do músico se daria em 1997, quando, a pedido do diretor de cinema Gus van Sant, compôs a música Miss Misery para a trilha sonora do filme Gênio Indomável (Good Will Hunting). No ano seguinte, concorreu ao Oscar por esta música e se apresentou no palco da celebração. Provavelmente uma das mais bizarras, senão a mais bizarra, apresentação musical do Oscar. Smith não se sentia à vontade nem um pouco, mas apesar de sua timidez, a qualidade de sua música o levou para a DreamWorks, melhor prêmio do que ganhar o Oscar (conquistado por Celine Dion, com My Heart Will Go On, de Titanic - desculpem se me descontrolo, mas... bleeeeeeeargh!).

Já na DreamWorks, em 1998, Elliott lançou XO, que seria sucedido por Figure 8 (2000). A sonoridade folk dos primeiros discos foi trocada (não totalmente) por composições que remetiam, principalmente, a Beatles. Não se pode dizer que foi uma má escolha - a nova fase da carreira do músico era tão rica quanto a anterior. No entanto, Elliott estava em um grande selo. As pressões porque não vendia tanto o incomodavam um bocado e o lançamento de um novo disco era uma incógnita, mas ele ia compondo, enquanto não havia uma definição.

Quando decidiu interromper sua vida, as músicas que dariam "corpo" a From a Basement on the Hill estavam quase prontas - aliás, algumas ele já as tocava em shows há anos, em versões mais folk. Após sua morte, poucos reparos foram necessários e, em 2004, o disco foi às lojas... e à internet, claro.

Se aqui o músico é quase completamente ignorado, nos EUA, incontáveis fãs lamentaram o infortúnio e seguem visitando o muro de Los Angeles que aparece na capa de Figure 8, deixando mensagens, flores e todo tipo de homenagens ao morto. CDs e shows-tributos são comuns e imagino que hoje haverá um bocado desses shows acontecendo.

Cartazes de tributos recentes a Elliott Smith.

Em 2007, foi lançado um CD duplo, chamado New Moon, com vários B-sides de Elliott. Mais de um ano antes, havia sido espalhada na internet uma compilação que pode ser considerada uma "prova" de New Moon, batizada pelos fãs de From a Basement on the Hill II.

Toda a angústia, insegurança e raiva que Elliott sentia foi traduzida em canções. Soa triste, porém belo. Gosto de pensar - e não sou o único - que, se me conhecesse, ele me entenderia. Ou entenderia a cada um de nós - um escondendo mais sua angústia do outro e tentando levar a vida com a máscara de uma alegria muito frágil. Lamento que um dia não poderei estar em algum lugar assistindo a uma apresentação, ao vivo. Mas Elliott vive. Graças à sua música.

De qualquer forma, hoje há um aniversário. E, numa data como esta, tem de haver presentes. Por isso, convido-os a celebrar a passagem deste cara que, sim, é meu ídolo, dos poucos que tenho. Abaixo está toda a discografia oficial, mais algumas coletâneas de B-sides, que disponibilizo pra que vocês possam desfrutar da mesma arte que eu. Basta vocês clicarem nas figuras correspondentes a cada disco.

Roman Candle (1994)







Elliott Smith (1995)







Either/Or (1996)







XO (1998)








Figure 8 (2000)







From a Basement on the Hill (2004)







New Moon (2007)







B-Sides


From a Basement on the Hill II


À vontade, amigos. Beijos e abraços!

Bondade minha?

Esse filme promete, hein?

Com "Um Homem Bom", Vicente Amorim ganha status



Se realmente for um grande filme, Um Homem Bom prova que um diretor como Vicente Amorim (O Caminho das Nuvens), que ainda não tem o status de um Padilha, um Meirelles, um Walter Salles, se tiver os recursos adequados, está num nível bastante interessante em relação aos diretores de grandes centros. Tomara que sim! Estou pensando em conferi-lo na Mostra.

Beijos e abraços, pessoal! Mais tarde eu volto com um post especial de aniversário da morte de Elliott Smith, um dos responsáveis pelo revival de folk rock nos EUA.

NA MINHA VITROLA: ELLIOTT SMITH - Stupidity Tries.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Aimee Mann - @#%&*! Smilers

Aqui, o novo "disco" de Aimee Mann, @#%&*! Smilers. Não é tão perfeito como o anterior, The Forgotten Arm, de 2005, ao menos nas duas primeiras audições. Mas tá valendo.

Pra baixar ou escutar as músicas, é só clicar nos nomes delas, na imagem abaixo. Façam a festa!

Depois comento mais, neste mesmo post.



Beijos e abraços, pessoal!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O sinal amarelo


Tá. É isso.

Hora de parar de "viajar", colocar os pés no chão. Ser objetivo. E ser capaz de revisar os objetivos.

Um tempo atrás, coloquei aqui um anúncio sobre digitação de monografias e revisão de textos. Não aconteceu nada. Divulguei no orkut, também. Não aconteceu nada, a não ser um contato de alguém que queria que eu revisasse as mil receitas da mãe. Mas não era praquele momento. Então não foi nada.

Excetuando o trabalho temporário na editora Moderna e o freela mensal pra uma igreja evangélica, posso dizer que estou a um ano sem emprego. O pouco que entrou neste ano não demorou a sair. E usei muito, muito mesmo os recursos da família. Cheguei a um limite. Parei.

Esse ano não tem Mostra e, com alguma dor, digo, esse ano não tem livro lançado. A Confraria dos Joões Bobos volta a ser uma vontade - ao menos, tenho o projeto pronto. No momento propício, haverá o livro.

Mas preciso de emprego. É isso. Hoje distribuí currículos, muitos. Distribuirei mais, até que algo aconteça.

Não nego que gosto de ter meu tempo livre, estar entre amigos, conversando sobre o tudo e o nada, de tomar minhas cervejas. Tudo muito natural, toda pessoa ou quase toda pessoa gosta disso. Apenas não posso manter esse estilo de vida pra sempre. Não deixará de acontecer, mas... com um pouco de cuidado.

Planejamento é a chave. Planejei mal e, quando vi, estava perto do fundo do poço.

Perto, não lá. E ainda bem que pude antever a situação. Agora trato de evitar o pior. Se há crise no mundo, aqui também é preciso acionar o sinal amarelo.

Meus amigos que me querem bem, de verdade, saberão entender e apoiar. Torçam, torçam, torçam. E acreditem no que acredito: eu vou conseguir.

Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: BRIGHT EYES - Method Acting.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O gosto da banana com aveia

Porque há tanta coisa. Porque o vir-a-ser é um exercício diário. E quando chega? Vem outro vir-a-ser. Será? Pensar demais angustia? Ou salva? Ou nada disso? Pensar demais é só pensar demais? Enquanto isso...

O Gosto da Banana com Aveia

Quanta melancolia cabe aqui? O quarto está tão cheio. Os discos que ouvi e que nunca ouvi. Ainda bem que tenho agulhas sobrando. Mas e as caixas? Ah, preciso de novas. O aparelho só toca vinil. Está ali, entre lembranças de histórias de amor imaginadas. Entre risos de amigos que se foram. A vida os leva.

A chuva lava o chão da rua, tudo pro esgoto, com os santinhos de candidatos, com a gafe que cometi na última sexta. Cigarro atrás de cigarro. Ainda o gosto de vitamina de banana com aveia, em segundo plano. E o futuro.

Livro. Emprego. Pós. Tudo o que virá. Uma última vez, adeus. O vizinho já não reconhece. Quando estou em casa, estou em casa. Quando estou na rua, estou longe. Sempre perto ou longe demais de mim.

Volto ao quarto.
O velho apetrecho de ginástica. Prometo usá-lo mais vezes, mas não agora. Talvez uma cerveja com o amigo, mais tarde. Mais fudido que eu. Mais canalha que eu. Tão amantes da vida. Ontem, o passeio com mamãe. Ao médico, sempre! O trânsito, esse táxi vai sair uma fortuna. A cantada hedionda. Entre Cortázar, Machado e o sono, Fassbinder.

Maria Bethania. Thelonious Monk. Não desista, amiga. Você vai se odiar até o fim se não fizer isto. Um autor cuja entrevista só li até a metade me fita da capa da revista. A jarra com água. Todos os DVDs e uma cópia sendo feita do último episódio de Berlin Alexanderplatz, agora.

Agora, a melancolia do espere-e-verá. Agora, uma lenta transição. Antes dos 40, antes dos 40... você será um homem realmente interessante. Deixar uma imperfeição física é importante, também. Um instrumento musical quebrado. A mancha na porta do guarda-roupas. O calendário que sempre está no mês passado. Sempre esqueço de mudar.


E o futuro. Uma sala repleta. O sorriso de Karenin. Um europass. Calendários esquecidos, gente que amarei. Gente que deixarei. Uma melodia de piano que insistirá. Insistirá.


Às vezes, eu gostaria de estar errado. Talvez.


Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: MILES DAVIS QUINTET - Round Midnight.

Politricks

Um adendo ao post Lucubrações sobre um Pleito: O candidato a vereador X foi eleito. Vejamos no que isso vai dar? Mas houve gente pior, acreditem, sendo eleita.

A vida é um horror...

A vida é bela, apesar do horror.

Beijos e abraços, pessoal!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Os 400

Uau! Entramos no mês em que Com Alma completa quatro anos! O primeiro post hoje parece um pouco rudimentar, porque o layout era outro e a tipologia da época combinava um pouco mais, embora eu apanhasse um pouco dos comandos do Blogspot. Mas tudo bem! Cheguei até aqui e isso me deixa alegre, de verdade!

Sei que o "aniversário" de verdade deste blog é no dia 23, mas uma outra marca importante foi alcançada. O post anterior foi o de número 400. Isso me faz pensar em quantas linhas foram escritas, quantos erros e acertos eu cometi, os desabafos, as poesias, os contos, as músicas, os filmes, as pequenas homenagens... enfim, tenham certeza, não me arrependo de nada. Nem dos erros.

Deixo vocês, por ora, com outra marca relativa aos 400, alcançada por um ídolo. Vocês devem imaginar quem, ao ver a foto abaixo. Vejo vocês no post 402, querendo chegar ao 4.000.

A camiseta comemorativa dos 400 jogos de São Marcos pelo Palmeiras. Como se não bastasse ser realmente o melhor goleiro do Brasil, ainda é do meu time!
Beijos e abraaaaaaaços!

NA MINHA VITROLA: MACY GRAY - She Ain't Right for You.