sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

A lista prometida... ufa! Eh eh eh!!!

Olá, meus amigos, leitores-passageiros! Como prometido, estou aqui, com minha listagem do que mais marcou para mim em termos de arte em 2004. Claro, é muito comum haver listas de "melhores do ano". A atitude de eu publicar a minha não deixa de ser um lugar comum. Talvez o que faça uma pequena diferença é que eu não vou me ater ao que ocorreu em 2004, tão somente. Até porque, para ser bem honesto, sobretudo em música e cinema, eu não tive tantos parâmetros em relação aos lançamentos, então esta lista será, de certa forma, uma viagem no tempo. Na lista também haverá citações a amigos que fizeram um grande trabalho, cujo acesso às obras obtive em 2004. São os casos do poeta Marcelo Alvarez, dos contistas Valmir de Macedo e David Oscar Vaz, assim como dos atores Cacá (Seres Ilusionários) e Jackson Ricart. Bom, chega de conversa fiada e vamos lá:


MÚSICA

Shows

Los Hermanos (pocket-show na FNAC Pinheiros, abril)

O melhor show, pena que tenha sido só um pocket... gostaria de ter tido grana para vê-los num show 100%, mas valeu!!! Posted by Hello

Também vi

Nando Reis (Shopping Anália Franco)
Violeta de Outono e Orquestra (SESI Paulista)
E outros...


Discos

Alguns dos meus grandes Cds e discos de vinil que eu curti em 2004 Posted by Hello


01. Beatles, The – Abbey Road
02. Cartola – Coleção Raízes do Samba
03. Chico Buarque – Ópera do Malandro
04. Concretes, The – Idem
05. Delgados, The – Peloton
06. Fellini – Amor Louco
07. Franz Ferdinand – Idem
08. Gathering, The – Sleeping Buildings (A Semi-Acoustic Evening)
09. Gonzaguinha – Coleção Raízes do Samba
10. Gram – Idem
11. Jacques Brel – Coletânea a partir de músicas que obtive na rede
12. John Cale – Hobo Sappiens
13. Ludov – Dois a Rodar
14. Maria Rita – Idem
15. Mercury Rev – Boces
16. Mombojó – Nada de Novo
17. Moreira da Silva – Morengueira
18. Poliphonic Spree, The – Together We’re Heavy
19. Rufus Wainwright – Black Sessions (Ao vivo no Canadá, não oficial)
20. Sigur Rós – Agaetis Byrjun


CINEMA

a) Dogville; b) ...E o Vento Levou; c) Nina Posted by Hello

Estrangeiro


Dogville, de Lars von Trier (danem-se os críticos!!!)

Nacional

Nina, de Heitor Dhalia

3 clássicos que eu revi

A Bela da Tarde, de Luis Buñuel
E o Vento Levou, de Victor Flemming
O que Terá Acontecido à Baby Jane?, de Robert Aldrich



LITERATURA


Os grandes autores que li em 2004: No centro, Thomas Mann. Em sentido horário estão Jean-Jacques Rousseau, Fernando Sabino (1923-2004), Graciliano Ramos, Mário de Sá-Carneiro, Franz Kafka e Carlos Drummond de Andrade. Time ruim, né? Eh eh eh!!! Posted by Hello

A melhor de todas as leituras neste ano

A Montanha Mágica, de Thomas Mann (romance, abr.-jun.)

Outras grandes leituras

01. A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro (romance, março)
02. Vidas Secas, de Graciliano Ramos (romance, março)
03. Encontro Marcado, de Fernando Sabino (que esteja em paz, romance, abril)
04. Um Artista da Fome, de Franz Kafka (contos, jun.-jul.)
05. Navalha na Carne/Quando as Máquinas Param, de Plínio Marcos (teatro, julho)
06. A Nova Califórnia e Outros Contos, de Lima Barreto (contos, ago.-out.)
07. Rimas da Salamandra, de Marcelo Alvarez (poesia, novembro)
08. 3 Novelas Exemplares e 1 Prólogo, de Miguel de Unamuno (novela, novembro)
09. Devaneios do Caminhante Solitário, de Jean-Jacques Rousseau (crônicas, nov.-dez.)
10. Insônia, de Graciliano Ramos (contos, dezembro)
11. Resíduos, de David Oscar Vaz (contos, dezembro)
12. A Urna, de David Oscar Vaz (contos, dezembro)

Também merecem destaque, embora não sejam leituras lineares

- Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade
- Contos Miscelânicos, de Valmir de Macedo
- Eugenio Montale (tenho pesquisado na rede sobre este grande poeta italiano do século passado – em breve vocês lerão algumas poesias do autor publicadas aqui)


TEATRO

- Quando as Máquinas Param, remontagem da peça de Plínio Marcos, pelo finado grupo Seres Ilusionários, no CEU Aricanduva (julho)
- Salve-se Quem Puder, direção de Nívio Diegues, com a participação do meu amigo Jackson Ricart (+ ou - agosto)

EXPOSIÇÕES

26a Bienal de São Paulo – Embora houvesse algumas obras muito interessantes (deveria ter anotado, para publicar mais detalhadamente aqui), não gostei muito do aspecto geral. Outras bienais foram bem melhores...

EXPECTATIVAS PARA 2005

- Muito mais leituras
- Mais pesquisas sobre grandes autores em várias formas de arte
- Mais shows gratuitos, que a vida anda dura, vocês sabem... eh eh eh!!!
- Reedição do Palavra Atômica (para quem não sabe, meu primeiro – e, por enquanto, único – livro)
- Sexo, cerveja e boa música... eh eh eh!!!

Bom, esta foi minha lista. Pode ser controversa, sei lá, mas é minha. Abraços e beijos, pessoal!!! A viagem prossegue em 2005!!! Aproveitem as festas!!!

sábado, 25 de dezembro de 2004

O Embate

Olá, amigos viajantes!

É natal, data importante pra tanta gente... eu confesso, o sentido do natal pra mim é a possibilidade de encontrar amigos que comumente não encontramos durante o ano. A possibilidade de gula sem culpa também... eh eh eh!!! Creio que vocês, meus leitores, já devem ter percebido minha inclinação para a irreligiosidade. Daí a falta de outros sentidos para a data. Perceberam, é muito claro o fato de eu nunca haver dito algo a respeito, diretamente. Discussões sobre religião não me interessam, na maioria das vezes. Apenas queria iniciar dizendo o que penso sobre esta data, pois o meu conceito a respeito pode ajudá-los a compreender melhor o que direi. Mas o cerne do que escrevo agora é outro.

Quero falar de solidão. Sim, esta que é tão mal apreciada por tanta gente.

É que ontem passei o dia com minha mãe. Havia prometido isto a ela, mais até a mim mesmo. Ajudei-a em algumas tarefas, fiz-lhe companhia. Conseguimos até não brigar, algo que é um pouco raro... eh eh eh!!! Para hoje, havia o convite de um almoço. Eu iria, encontraria os amigos, alguns não comumente vistos. Quando dei a notícia de minha saída à minha mãe, ela ficou triste. Percebi o quanto o dia ficaria vazio para ela se eu saísse, fiquei com pena e desisti do almoço, além de que eu não ando muito bem do intestino mesmo... nada grave, trata-se apenas de um mal estar causado por alguns excessos... eh eh eh!!!

Para dona Vani, este dia marca o primeiro natal sem seu Jair. Para mim também. Mas ainda não é aqui que quero chegar, até porque já passou a principal data em que sentiríamos mais a falta dele. Aliás, 3 de dezembro passou e ele não estava mesmo aqui para completar 65 anos. E eu quase não pensei na questão. Não por insensibilidade, mas por excesso dela, por necessidade de superação. Mas sempre é um pouco mais complicado quando estou ao lado da velhinha... mas não é mesmo aqui que quero chegar.

O fato é que passei a manhã escutando certas músicas que me fizeram relembrar fatos passados. Uma paixão frustrada e mal resolvida. Tratava-se de uma "Lolita", uma garota de 15 anos, portanto, treze anos mais nova que eu. Por me relacionar com a família dela, fui bastante escrupuloso e mantive-me calado a respeito. Dado um certo momento em que as coisas se tornaram insuportáveis, eu me afastei das pessoas, principalmente dela. Isto significou uma reforma em minha vida, pois o irmão desta garota era um parceiro importante em alguns projetos de natureza musical que eu tinha. Voltei-me mais à literatura e tal situação ajudou muito a me tornar o que sou exatamente hoje.

Ocorre que, neste processo de paixão e posterior afastamento, coisas foram se misturando em minha cabeça, inclusive o fato de, naquele momento, não estar interessado em continuar sendo tecladista numa banda de death metal. Tomei algumas atitudes daquele camarada como um desprestígio a mim e, tudo somado, afastei-me. Realmente considero minha decisão a mais acertada, ainda hoje. Havia muito lixo em minha cabeça. Era hora de uma faxina mesmo, e assim pude me entregar de corpo e alma a projetos que tinham mais a ver com minha vontade.

Mas é tão estranho, mediante a audição de certas músicas, neste meu natal mais solitário, relembrar todos estes fatos... ainda me dói tanto, que chego à fronteira de certo ódio, um ódio com alvo nada determinado e que me fez mal, muito mal neste momento. Não pude contar a minha mãe, ela não entenderia, tampouco eu entendo absolutamente. Já se passaram mais de três anos de minha mudança e ainda não compreendo muito este meu mal estar.

Abrir uma garrafa de cerveja, ainda a pouco, foi um ato que me salvou de ultrapassar a fronteira do ódio e da frustração. Também mudei a trilha sonora... eh eh eh!!! Assim, pude chegar à frente do meu computador para contar-lhes isto. Sabem, ajuda muito.

Creio até que, por ora, estou salvo de meus próprios fantasmas novamente. Hora de olhar para o futuro. Estamos sozinhos, eu e minha mãe. O que mais importa. Tenho alguns amigos, inúmeros colegas. Amo a todos, incluindo seus defeitos. De alguns é preciso manter alguma distância saudável, naturalmente. Há os que eu gostaria de ver todos os dias, e há os que eu quero ver de três em três meses, senão ainda mais espaçadamente...

Sim, porque estes momentos de solidão (aí está a chave!!!) são tão necessários... confrontar os fantasmas, tecer planos... como realizar isto cercado das pessoas, por mais queridas que sejam? Há tantos que amaldiçoam sua solidão... eu a desejo, outras vezes a afasto, minha irmã Solidão. Hoje eu precisava disto, precisava mesmo... a cerveja já acabou na caneca, mas eu não preciso mais. O dia transcorrerá normalmente a partir de agora e talvez eu saia e encontre algum amigo, sei lá... talvez eu fique em casa e alguém me procure, talvez eu apenas fique aqui e isto me bastará. Estou melhor, a convivência comigo é importante e creio que meu recente embate, embora me tenha feito mal no instante, agora me traz o benefício da vitória.

Bom, amigos viajantes, agora só devo dizer que aproveitem bem estas festas, não se culpem por excessos. Sei que tenho espaçado bastante minhas intervenções aqui na rede, mas aguardem, para menos de uma semana, a minha listagem de melhores do ano (não necessariamente os melhores deste ano, mas tudo aquilo que eu curti mais, em alguns casos).

Beijos e abraços! Até breve!

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

E os meninos continuam por aí, buscando os restos da feira...

Olá, amigos viajantes, hoje eu trago a vocês uma poesia do Palavra Atômica e uma variação sobre o tema. Sim, eu quis realizar este exercício, durante o período em que revejo o layout do meu primeiro livro, que em breve será relançado. Provavelmente tal variação estará no livro seguinte. Bom, chega de papo... eh eh eh!!! Confiram:


Fome Fera

o esqueleto de uma pomba morta
o esqueleto de um cachorro, pele e osso... vivo!
as sobras da feira, os meninos, a fome fera
e uma musa da tv de seios siliconados


uma cadela magra de tetas de fora
o choro magro de uma criança triste... alto!
um pai desesperado, sem sonhos, que cai calado
e um piano na sala de música

a voz já morta pedindo esmola
o homem pálido que já não cora... sofre!
as ruas e os carros do mundo, crescer é caro
e um anjo caído e desdenhado...

... mata um que não se importa com nada
após a festa da sociedade

extraído de Palavra Atômica, 2003 - poesia composta em 2001


Variação sobre Fome Fera

magra cadela de atrevidas (expostas) tetas
fartas misérias na rua da feira
rostos sujos rotas camisetas, pede! (implora)
e fede, vibra com o gol do time

morta a pomba da paz, nasce a guerra
o pai desespera, encana (agora) em cana
e a fama? sem trabalho, bugalhos!
e filhos da fome fera declamam raps (hinos)


esqueletais visões, carne sem (cor)po
perante as ruas cantam pneus os carros
crescer é caro, já cortaram asas (sem pena)
de anjos trágicos cães lambem feridas

a preocupada musa de tv tem medo
de seqüestro, ocupa-se de casamento (que evento!)
o piano nunca mais soou menos triste
morrerão mais alguns de qualquer lado (nunca tarda...)

dezembro de 2004

Bom, isso é tudo por hora, pessoal. Haverá paisagens bem mais belas que estas. Beijos e abraços!!! Até breve!!!

sábado, 4 de dezembro de 2004

Está acontecendo agora... a vida enquanto poesia

Olá, amigos viajantes. Fico contente por saber que estão gostando desta aventura no âmago da palavra. Hoje continuamos a mostrar novas paisagens:

Intermitência

lâmpadas piscam, piscam e piscam...
(più fràgile, più fràgile...)

o mundo não é mais um lugar seguro
um solta um palavrão
toda revolta vem à tona
as ondas
ondas
ondas
vão e vêm

(------------------------------- )
que pouca imaginação...

a crise,
sim, há crise

quando terminará a intermitência?
xxx
O Conselho Roedor

Todos os pequenos ratos reunidos.
Uma suave, mas insistente brisa os incomoda.
Coisas como guimbas de cigarro se movem nos trilhos,
simplesmente...
Algo muito particular,
particular e dramático...
As idéias surgem e são afastadas como crianças inoportunas.
Inércia... repentina e indecisiva.
Somente a brisa
e o silêncio arrasador, por horas e muito mais.
Então, aos poucos vão se recolhendo a seus cantos para dormir
e a brisa sorri.
A Flor do Agora

em algum lugar no mundo um poeta louco redige doidos versos
no mesmo exato momento
uma criança está nascendo junto a uma tímida experança cuja
possibilidade de se realizar não é computada pelos institutos de estatística
algum senhor está indo embora deixando saudade
nos filhos, netos e uma senhora chorosa
clichês, clichês...
neste mesmo exato momento
está sendo feito mais um otário que assina contratos sem os ler
um banco está sendo assaltado
clientes são lesados por banqueiros
pouco importa...
alguém viaja pelo país das maravilhas em pó
um casal troca alianças perante um sacerdote e testemunhas
outro experimenta diferentes formas de amar
amar?
bombas explodem, empresas entram em concordata, um papagaio imita seu dono
uma criança sorri, pétalas caem e um guitarrista troca a corda arrebentada
penny lane está nos ouvidos e nos olhos de alguém
o sol reina, a lua brilha
clichês, eles novamente... horror, horror!!!
beijos apaixonados
aplausos, aplausos
ao mesmo tempo
alguém está vomitando a companhia para longe
estou enojado, e vocês?
outro adquire uma máquina que é a solução de seus problemas
no estúdio algum ator xinga seu diretor
bem baixinho, baixinho...
há um jogo de futebol em algum canto do planeta
dois a zero, espere... dois a um... não, gol anulado, justo agora...
mães aguardam filhos que voltam da escola
tudo acontece... do previsível ao sem precedentes
e você diz que a poesia do mundo acabou
mas alguém sussurra uma prece para seu deus
que seja o deus-de-si-mesmo ou outro... tanto faz...
então tenho a certeza de que algumas sementes por aí brotarão,
contrariando os tais institutos de estatísticas citados anteriomente
está acontecendo agora...
xxx
É, pessoal, espero que tenham apreciado mais um trecho desta viagem (apesar dos ratos... eh eh eh...). Desculpem a demora em postar, mas tive problemas com a máquina. Agora já está tudo nos trilhos novamente. Não abandonem o trem, que ainda há muito a percorrer.
Abraços e beijos!!! Até breve!!!

domingo, 21 de novembro de 2004

Sim, o vento levou tudo

Olá, senhores passageiros! Sei que não é comum o maquinista do trem parar para contar-lhes alguma história. Provavelmente nem será interessante, pois só lhes interessa a viagem. Para alguns de vocês, nem a viagem importa, somente o destino. Mas deixemos de bobagens...

Eu sei que, já que pegaram este trem, estão interessados em tudo que possa ser contado, afinal, nossa viagem é ao âmago das palavras. Pois eu lhes digo:

A última noite foi uma noite de amor. Sim, apaixonei-me por Scarlett O’Hara. Foi um amor distante, de mão única, jamais retribuído. Ela provavelmente nem percebeu a minha presença, pois estava do outro lado da tela. Mas eu a amei, platonicamente, e foi bom. Agora vocês podem conferir o que gerou esta paixão:

Scarlett O’Hara Visita o Jardim de Concreto de Loucobardo

Scarlett, ó rara!
Ouça quem lhe fala, um pobre loucobardo
Fuja comigo para longe desta guerra terrível
Você, que é a estrela de minhas lucubrações
Fuja comigo, mas somente comigo
Abandone suas paixões, seus caprichos
Aí onde vive não há mais nada
Bem sei que tem ganhado força
Tem visto a dor e o sangue que escorre
Mas aqui já é outro lugar
Não estamos bem, maravilhosamente bem, assim separados...
Sei também que não sou o cara adequado
Sou apenas mais um latino-americano
Mais ao sul, mais ao sul que seu sul
É verdade que eu e os meus não vivemos maravilhosamente bem aqui, minha musa
Aqui há uma guerra de outra natureza
Diferentemente suja do que a de seu lugar, no seu tempo
Ainda que não aceite minha proposta, ao menos reflita
Venha para meu jardim de concreto e eu lhe farei feliz, tanto quanto é possível
Scarlett, aqui deveria ser seu lugar
Onde aprenderia um outro viver
Talvez melhor, talvez pior
Onde aprenderia um outro amar
Quem sabe como? Quem sabe porquê?
Aqui escorrem sangues outros
E o tempo transcorre, tragicamente
Mas é tão sutil a tragédia...
Seria ainda mais rara estrela, nesta terra
Seria ainda mais bela
E quando as rugas teimarem em surgir
Eu permitirei que retorne ao seu lugar, sim
Porque terá merecido esvair-se em seu solo
Será doce sua partida
Eu lamentarei e, sobretudo, lembrarei dos momentos bucólicos
Nós dois deitados numa rede, entrelaçados, talvez contando estrelas
Você contando histórias da infância na velha Geórgia
Das traquinagens e de como deveriam satisfazer-lhe a vontade
Eu chegando cansado, você servindo-me chá, tirando-me os sapatos e massageando-me os pés Scarlett, eu me lembrarei de tudo, de tudo...
Do calor de nossa paixão
Mas devo esquecer... é uma pena!
Você jamais faria massagens em meus pés
Ademais, Scarlett, rara Scarlett, você não existe
Simplesmente você não existe...


Escarlate, Escarlate como a Vida

Scarlett de vermelho
Scarlett triste e sozinha
Somente acompanhada de cicatrizes profundas
Mas esperançosa
Vá, Scarlett, volte para sua terra
Mas volte você, como é, que é sua terra
Ele voltará ou não
Vá para a sua cultura de algodão
Vá para o que você era
E espera...
Não mais triste e sozinha
Risonha e cercada de gente
Seus pais, aquela juventude orgulhosa de antes da guerra
Todos os seus pretendentes e as moçoilas invejosas
Os escravos, e todos, todos ao seu redor, de alguma forma
Não esqueça os pesadelos dos combates, a miséria, a desgraça toda
Tudo aquilo a torna forte
Vá, Scarlett escarlate
Vá sem puderes, mulher!
Você jamais foi uma dama
Jamais se prenderia a algo ou alguém que representasse uma forte ilusão
Ou pelo menos a um homem mais forte que aquela tamanha quimera
Mas você é um colosso todo vermelho, vivo
Paixão, Scarlett, puramente paixão é sua essência
Errou, e errou muito... nem por isso seria gentil condená-la
Apenas é um caso de uma mulher que não traiu sua natureza
Vermelho-vivo, o sangue passeia por veias e artérias
Então vá, Scarlett
Ergue a cabeça, sorri e toma seu destino em suas mãos
Sua terra, vermelha e viva, a espera
Quem sabe ele irá encontrá-la?
Pois você é vida, e ele precisa disso
Você existe
Tão somente existe

Meus bons amigos, espero que tenham gostado desta etapa de nossa viagem. Agora vamos seguir em frente, que há muito mais pelo caminho! Abraços e beijos a todos!!! Até breve!!!

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Vamos ver o alvorecer

Olá, senhores passageiros. Prosseguimos nestes últimos dias com notícias pouco interessantes? Que nada! Se pelo mundo afora o Arafat está morrendo (já morreu, aliás?) e se o Bushinho ganhou por mais quatro anos o trono no paço imperial White House, por aqui eu devo dizer que muito em breve haverá reedição do Palavra Atômica, aquele meu livrinho de poesias, sabem? Também tenho trabalhado no layout de meus novos livros, que devem ser lançados em 2006, se tudo ocorrer de acordo com meus planos. Quando for o momento falarei mais sobre o assunto.
As coisas andam bem, sabem? Tenho feito umas jornadas interessantes e ontem (digo, anteontem) estive ao SESI Paulista, para ver Violeta de Outono e Orquestra. Foi um ótimo show onde Fábio Golfetti e seus parceiros mostraram porque são reverenciados até hoje pela galera que viveu os anos 80, indo o mais longe possível na viagem psicodélica-progressiva a la Floyd dos primeiros dias, aliando a isto a força de uma orquestra dirigida pelo maestro Juliano Suzuki, da Orquestra Sinfônica da USP. E hoje (digo, ontem) estive na biblioteca Mário de Andrade, para assistir uma palestra sobre Paul Valéry, um grande poeta francês do início do século passado, que trilhou o caminho dos grandes Baudelaire e Mallarmé (como se fosse só isso o que ele fez... eh eh eh!!!), ministrada pelo ótimo João Alexandre Barbosa. Em, ocasiões como esta, raramente conseguem arrancar aplausos sinceros de mim. Pois Barbosa conseguiu, fiquei babando e assim que terminar de postar, pesquisarei sobre Valéry na net.
Enfim, a vida começa a me sorrir novamente. E poderei ver o alvorecer. Vamos vê-lo juntos? Como a viagem para mim anda tão boa, tão proveitosa, quero que seja o mesmo para vocês, por isso deixo aqui alguns poemas novíssimos. Espero com eles atingir meu intento de proporcionar alguma satisfação. Leiam só:

Eu a Quero

em são paulo você nunca está sozinho
no meio de toda sua solidão
uma cidade tão bonita e tão concreta
vícios na esquina da contravenção
na sombra aguardam o vagabundo o presidente
outdoors prédios e camelôs
toda a sujeira das ruas as direitas os sujeitos
o povo ensandecido nos metrôs
são paulo é tão sexy quanto sardinhas em lata
na marmita do peão famélico
são paulo é tão casta quanto um estuprador
que depois lhe salva como um médico
são paulo são seus rios malcheirosos que me matam
é sua periferia inculta que me atrasa
o seu centro me atordoa de trânsito e caos
são paulo é feia e me faz mal
e eu ainda quero esta puta
como a uma suspirante donzela


Olhos Sujos

os olhos sujos, meu filho, os olhos sujos...
lave-os bem, pequeno canalha
acorde, mas acorde de verdade
acorde e grite, grite bem alto
que lhe ouçam em Saragoça
quiça mais além, em Nova Délhi
e, por falar em acordes,
refaça os mal-feitos desta sinfonia bizarra
sim, refaça-os para que alguém queira ouvi-lo
em Vancouver ou na Central do Brasil
vamos, seu imundo, imbecil!
vamos que os atletas de Nairóbi o ultrapassam
mas, se não puder cantar e gritar e correr e viver de verdade
se não tem vontade alguma
é porque nasceu para obedecer
então obedeça à minha ordem:

levante-se e lave estes malditos olhos sujos!!!
gambiarra
João Bobo

em todo lugar que eu vou é assim...

sempre há um bobo
disposto

a estragar tudo

bing
bang
bong,
gambiarra
joão bobo

com um dedo
eu o derrubo
gambiarra
Ensolarada Califórnia

Dois mil caças apontando seus mísseis
Para um alvo de inocência/culpa discutível

Sim, dois mil... algo mais ou algo menos

Se seus pilotos pudessem relaxar
Conversariam sobre baseball ou basketball
Desejariam aquelas mulheres de peitos inflados como balões

Se pudessem estar em casa
Engordariam ao ritmo de batatas fritas e hard rock
Mas não podem...

Dois mil deles, apenas aguardando o momento exato
Bem-vindo será o sangue inimigo?
Não, sim... nada pessoal
Eles preparam o caos para os que estão em terra saquearem,
Estuprarem, gozarem do choro de suas vítimas
Toda aquela orgíaca balbúrdia conhecida de uma guerra

Pouco importa, entretanto...
Querem voltar logo às batatas fritas e às suas mulheres e crianças gordas
E então? Hora de eclipsar o sol?
Ah... quem saberá?
gambiarra
Na Beira da Estrada

na beira da estrada
eu vi
a vida acontecer - no bar da esquina
na terra do fogo
gambiarra
no banco da praça
eu vi
um jovem casal - o passeio dos velhos
das crianças o brinquedo
gambiarra
na hora do jogo
eu vi
a copa do mundo - nos olhos o desejo
do homem a força
gambiarra
na era de ouro
eu vi
o feio no belo - da moeda o reverso
no verso o amor
gambiarra
no templo do oráculo
eu vi
o futuro ser - do berço da vida
ao leito de morte
gambiarra
nada era tão acre
diria até doce

há quem queira manter o povo longe da cidade

não faz mal...
a festa se dá na beira da estrada
gambiarra
Bom, isso é tudo por hoje, senhores passageiros. Hora de pernoitar, para vocês. Eu vou fazer umas pesquisas, como disse antes. Beijos e abraços, meus caros. Até breve, em mais um trecho desta viagem que pretendo que seja longa.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Então, amigos, agora é possível comentar aqui neste blog, sem problemas ou "anonymous"... e a viagem prossegue!!! :-)

Um dia até bonito, hoje, apesar de tudo

Olá, senhores passageiros. Hoje é dia de uma digressão minha, muito particular, mas quero compartilhá-la com vocês.

Engraçado, passei a última madrugada dando uns últimos toques no texto de uma monografia na qual estou estou trabalhando. Foram 3, 4 dias de leitura intensa a respeito de jogos e brincadeiras no ambiente escolar, um tema bastante interessante. Uma madrugada quieta, temperada com estas leituras e com uma sutil trilha sonora de Enya, Era e Kitaro. Total New Age... eh eh eh!!!

É neste ponto que eu quero realmente chegar. Que seria de nós, simples passageiros do trem da vida, sem música? (Isso me faz lembrar de uma canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, Encontros e Despedidas, agora sendo rememorada na voz de Maria Rita e tema de novela da Globo.)

Hoje, todos sabem, é dia de finados. Após a madrugada de trabalhos, uma manhã de descanso na minha enorme (muito para mim somente, é verdade) cama de casal, conversei com minha mãe acerca de visitas a cemitérios. Falei para ela que eu acho realmente de pouca valia visitar cemitérios. Meu pai não reside ali, verdadeiramente. O que existe naquele local é um resto de ossos dentro de uma caixa de madeira. Ele existe, sim, em nossas memórias. E, dentro de nós, ele não está realmente morto.

Como ainda é um tanto traumático lidar com este fato, pus-me a chorar. Sempre é difícil, mesmo que tentemos racionalizar, não é? Então subi as escadas que levam ao meu lugar na casa, ao meu universo, onde ficam livros, computador, CDs, vídeos e tudo mais. O que salvou-me foi uma audição de um vinil dos Paralamas. Depois, fiquei pensando e pensando no meu pai. Foi me dando vontade de ouvir Pink Floyd, exatamente Shine on You Crazy Diamond. Ouvi a música com um sentimento quase religioso. Claro, meu pai não era nenhum Syd Barret (que é o homenageado na música). Ao contrário, mas penso que a figura do velho Jair, para mim, brilha. Com todas as suas limitações, ele foi um dos bons.

As músicas foram passando, passando. Não é um CD oficial do Pink Floyd, é um pirata de um show de 1994, em Miami. Fui indo mais fundo naquele mar de canções, que eu colocava, fora da ordem, de acordo com meu interesse. Astronomy Dominé, Breathe, Time, Wish You Were Here, The Great Gig in the Sky, Us and Them, Confortably Numb, Hey You... em meio a tudo, a figura do meu pai. Não sei porque, mas preciso falar disso. Preciso falar do que é a música para mim, de como ela me salva. Agora eu me sinto melhor, mais vivo. Daqui a pouco vou sair pra ver o sol, que brilha quente lá fora. Afinal, está sendo um belo dia. Quem sabe eu encontre amigos e juntos escutemos a singela música da vida?

Sim, isto é tudo, meus amigos. Beijos e abraços!!!

Ao som de Pink Floyd, claro... eh eh eh!!!

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Uma madrugada fria...

Olá, senhores passageiros. Que madrugada fria, não? Mas que é isso? Não se contentem em se proteger com cobertores e agasalhos, não fechem os olhos para forçar o sono. Olhem da janela a paisagem que agora se oferece a vocês:

Escatológica

Ai, musa escatológica
Onde foi que errei-te na imaginação?
Imaginei-te tão bela para o meu deleite
E eras... aliás, és bela como a hora marcada
Mas não é em tua beleza que reside meu dilema
Talvez no engano de pensar-te minha
Quando ninguém jamais foi digno de vê-la, menos ainda de tocá-la
Não é a merda do que são os dias
Eu te vejo todo o tempo olhando para o mundo
Vejo-te escolhendo uns, renegando outros
Vejo-te regando as flores do jardim de teu reino
E nada de olhares para mim...
Mas sabe que reuno forças
Sim, forças para realizar o meu mais pérfido plano
Que é o de renegar-te
No entanto, já adivinhas meu jogo e ris da disposição das peças no tabuleiro
És uma má musa, deveras
E eu choro de abandono
Agora me vem à mente uma decisão tentadora
Sim, é isso... agora sei o que faço!
Não te quero mais, pelo menos por enquanto
Na verdade, já gastei meus "ais", todos eles, mas nunca fui homem o bastante para encarar-te
E quem seria, não é, musinha tão ordinária?
Então abandono todas as expectativas sobre nosso encontro
Abandono todas as esperanças de um futuro enlace
Andarei pela Terra toda sem jamais pensar em ti, a partir de hoje
Não será uma negação, nem isto mereces
Só buscarei o esquecimento
Oxalá me envolvam as nuvens da ignorância
Maldita sejas tu e tua natureza
Pois que tudo aconteça e eu ignore
Que me faltem as dores e eu tolamente gargalhe, na luxúria habitual dos humanos
Que eu adormeça e sonhe com as crianças de sorrisos mais doces
Nada, nada irá amparar-me verdadeiramente
E quando eu estiver menos alerta é que irás arrebatar-me o coração
Que imundícies praticaremos juntos, então...
E eu, que julgar-me-ia tão feliz, tão humano
Cessaria de ser
Mas deixa-me, deixa-me, escatológica musa!
Deixa-me, que por ora serei de outra


Desolada Babilônia

Trinta mil tetraplégicos
Todos enfileirados, sentadinhos em suas cadeiras de rodas
Não fazem balbúrdia, são discretos
Os profetas de Allah no Iraque


Este não é um número preciso, trinta mil...
São tantos que poderiam ser 20, ou 50... talvez 300 mil


De longe, no deserto, imaginam os saques, as cidades incendiadas
Todas as variedades de violação
Imaginam também as esposas deixadas em algum lugar
Cuidando dos filhos que alimentarão os incentivadores das guerras
Sonham que estão em casa, com uma esposa dançando uma dança sedutora
Com os bons tempos em que era possível satisfazê-la


Não agora... permanecem calados, os olhos baixos
Apenas aguardando fatos que o profeta maior deles antecedeu


São os troféus da discórdia, da intolerância

Trinta mil deles, enfileiradinhos no deserto... quem sabe lá quantos, de verdade?

Democracias, Ditaduras, Rios Rubros e Pesadelos

dois sonhos

um, o da bandeira estrelada
terra das oportunidades, democracia

outro, de foice e martelo
de trabalho e igualdade, o mundo melhor

ambos esfacelados
o deus dos negócios
que foi feito de tudo?
armas biológicas?
rios rubros?
igualdade = sangue derramado
justifica?
ainda que pela força, igualdade?

senhor dos engodos
mestre dos conchavos
qual chave para sair desta cela?
não vais dizer
és muito forte
tens tantos nomes
Europa o compreende
tornaram-no uno em um só nome
América novamente colonizada

eis os sonhos, hoje pesadelos
eu quis lutar por um sonho
agora luta é sobreviver
não às sedutoras necessidades impostas de uns
e outros são "hay que sobrevivir sin ternura"

a frase já foi diferente
verdade mil vezes repetida
tornada mentira
na velha cortina algo desastroso
na pequena ilha, ao menos controverso
revolução é outro lugar, utopia

dois sonhos, um só pesadelo
o povo sabe
revolução a ele não interessa

és grande vencedora
mentira das mentiras
celulares e laptops
um cruzeiro no Caribe
veja que povo miserável
mas de sorriso dócil

uma pena...
ambos sonhos enterrados


Bom, espero que vocês sobrevivam a esta parte da viagem, que percebo, parece-lhes amarga e triste. Não se zanguem, pois os momentos alegres estão próximos. O sol já vai brilhar. Beijos e abraços, meu povo.

sábado, 23 de outubro de 2004

Olá, caros leitores viajantes!!!

Olá, caros leitores viajantes! Aqui começa nossa viagem ao âmago do reino das palavras. Para quem me conhece, não preciso explicar muito, mas para os viajantes novatos, cabe dizer que este é meu mais novo blog. Sim, porque eu já tive o Átomos do Alessandro, que funcionou de fevereiro de 2003 até o mês passado. Decidi desativá-lo porque... não sei... inquietude, talvez. Precisava de novo pique, um ar novo. É isso que tento agora ao conduzi-los nesta nova viagem. Espero que seja de seu agrado e chega de papo furado, que nosso trem já vai partir. Boa viagem, ilustres passageiros. E vamos de poesia!!!

Vertiginosa

O que poderei fazer se o sonho cair por terra?
O ocaso encerra uma existência
A aurora impõe novamente a mesma
Não quero ter esperança em excesso
Nem acender velas à era do desespero
Sou quem sou
E isto não é muito nem pouco
Então ouso lutar até o fim
Com minhas próprias armas brancas ou não
Se o que houver em mim
Nas horas obscuras
Tiver um gosto amargo
Releve
É o trecho de uma busca
Não será por temor que pedirei abrigo
Nos braços do esquecimento
Nos seios de alguma ausência
Será por vontade
E quando por trás das cortinas se esconder e fugir a verdade
Eu a deixarei partir de minhas vistas
Para construir com minhas mãos
Uma nova, uma minha
Filha de tudo que já vi fugir ou ficar
E é só por isso
Que continuo fitando o abismo
O monstruoso e adorável abismo feito vida
No qual vou pular mais uma vez
Adeus e até mais, lá em baixo


Os Dias

Não, Júlia não tem problemas, ela jura
Então por que justamente agora lhe dói a vida e quer ir embora?
Quebra o espelho, o caco, o pulso sangra
E atravessa
Já é tarde...

Dani busca diademas de ouro, a besta
Beatificamente aspira o pó e sente que encontrou o que queria
Abre mão do tesouro, um canudo e um baú
E chora
Já passou a hora...

Quando Nando foi fazer a fita, que fácil
Abandonou tudo que havia lá atrás no tempo em que podia sorrir
Sem lembranças, uma arma, o terror
E escapa
Já é outro dia...

Todos jovens, horizontes, caos
Nada jovens, nada a ver, nadam contra a corrente
Limites, moral... quem matou o meu igual? E por quê?
Não há dinheiro na conta-corrente
Taxas, impostos se acumulam sobre o vácuo da razão de não haver sonhar
E a fumaça do cigarro invade o peito do poeta que se põe a denunciar

Até que a morte nos ampare

Pseudo-Pop-Flip-Flop-Remix

novo aeon sgt. peppers
melhores dias passaram
porção de fritas cerveja
vejam vocês tudo passa
passa
dormir tarde acordar cedo
bons dias a gente persegue
a mente agente secreto
medo mistério agüente

bossa nunca mais nova
chansons-trance-remix
quem irá contra fossa
antibossa desafina flor???

silêncios sisudos simulacros
solenes um-de-si-mesmo
veladamente anulado
deletado ex-cândido escândalo

igreja orações duma coisa
desejo-da-contra-coisa
corações sangrados maria
não mãe minha coisa alguma

cerra-se porta-palavra
encerra-se outra paixão
agora resta nem resto
descanta-se pseudo-pop-flip-flop

A Garota Sem Nome

Entre todas as denominações, entre todos os rótulos,
conheci uma garota sem nome.
Sim, uma garota sem nome, mas com o rumo que ela escolheu.
Eu a conheci e reconheci: não é junkie, também não é careta.
Não quer que se intrometam em sua vida.
Pobre garota sem nome, sem ombro em que se apoiar...
Políticos pedem apoio durante a campanha.
A campainha toca e há sempre alguém pedindo o apoio dela contra a fome, a sede, o frio.
Contra o contrário de tudo.
Ela chora, sem emprego e sem ter como empregar suas forças.
Não é pró-yankee, tampouco anarquista. Não gosta de funk carioca.
O idiota do ex-marido a abandonou por um tempo de glória (ilusória).
Sente sede quando está calor
e transpira como qualquer outra.
Pira quando quer
fogo para apagar o dilúvio.
Dança... não é bailarina, não é dervixe.
Fita a fita, forward e rewind, mas a vida não é extática, então dança.
Se não era musa (pois agora é), também não chega a bagulho.
E tem sempre a vantagem (?) de ter escolhido o próprio rumo.
Não é raro que escolham rumos em tais dias?
Não é Lolita ou Cleópatra, danem-se as comparações.
Uns a chamam de santa, outros de vadia...
esses juízos que os de vida vazia fazem.
Bobagens... é tão simples: é o que quer ser.
Isto basta e eu gosto de sua presença
mesmo quando ela não me conhece
quando nos vagões de metrô a gente se esbarra e nem diz "oi".
Eu gosto dela, esta garota, minha garota sem nome, que vive por aí...
Espero dizer-lhe "oi" o quanto antes.
E isto é tudo, por hoje...

Realmente, isto é tudo por hoje. Vamos pernoitar! Boa noite! Beijos e abraços a todos!!! Até breve!!!