segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Geração 21

Um retrato infiel dessa época. Infiel porque não completo, é só a visão de quem escreve. Porém, um retrato sincero, a despeito de ser infiel. Paciência! Não se pode ter todas as virtudes, não é mesmo?


Geração 21

My generation, século 21, é isto:
muita masturbação e algum sexo selvagem.

Quase nada de amor.

Pequena palavra para emoldurar cenas de telenovelas
para umas poucas donzelas sonhadoras sonhativas sonhopositivas.

Os heróis ainda morrem de overdose,
mas a maioria morre mesmo
é com a barriga proeminente proevidente grudada em uma mesa de escritório,
seus traseiros quadrados em belas cadeiras giratórias giradouras.

Poesia não compensa,
o crime é glorificado.
Sobretudotodos quando é de cima para baixo.

Podem encontrar-se em qualquer parte do mundo,
mas quase nunca alguém
na vida
realmente
se encontra.

Política é a prática mais em voga.
Estamos todos bem,
com nossos aparelhos multitarefas e tarifas irrisórias irrisonhas,
armaduras de speakers e sunglasses,
frases de bem-estar
originárias de romances
psicografados.
Comidinha saudável saudável
e rotina de academia.

Não se preocupe, mãe!
My generation usa flavoured condoms
e pílulas do dia seguite.

E é a gente mais fudida que eu conheço.


Beijos e abraços, pessoal!

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Aos vivos

Ah, sim! O sarau "Rock 'n' Roll, Mothafuckeeeeeeeeer!!" foi ótimo.

Ainda que com alguns imprevistos. Mas foi algo que fez renascer uma vontade de produzir mais. Por mim, por esses amigos que se foram.

Mas que prosseguem conosco a cada linha escrita.

Emoção reservada aos amigos e familiares. Uma homenagem simples e todos juntos no mesmo grito - o mote deste evento.

Há um poema que escrevi para o evento, para os amigos. Agora posto-o aqui:

O jardim das delícias, de Hieronymus Bosch.

Aos Vivos

Vamos abrir cada garrafa
e deixar cheios cada copo deste lugar
até esvaziá-los e, sim,
todos à vontade para mais e mais e mais e

Porque hoje vamos festejar,
celebrar a vida dos que já partiram,
dos que prosseguem,
ouvindo uma canção tanto quanto nós.

Festejamos o fim de tudo:
Os mil poemas que não escrevemos,
escondidos
sob incontáveis pilhas de papéis.
Demonstrativos bancários,
planilhas de gastos,
provas de livros sobre como emagrecer à base de uma dieta de lentilhas
e faturas vencidas da TV a cabo.

– Estação Brás, plataforma 3, acesso à linha 3 do Metrô – (uma fratura no verso)

Queremos esta festa,
realizada para satisfazer amigos que não vieram
e brindar ao Rubão,
ao Caio,
porque, raios, eles aqui estão,
em cada um de nós,
contrariando a lógica das tardes rápidas de um cotidiano sem graça.
Eles estão aqui, sorriem e bebem conosco.

Nada de lamentar o tempo não vivido,
não dividido.
Nós sorrimos
e conversamos
e estivemos em tantas festas
como agora estamos: bêbados e loucos
amparávamo-nos, celebrando a morte de Deus,
a morte de Nietzsche.

Pouco importa agora a vitória do Santos ou a vergonha que veste amarelo.
Pouco importa que amanhã venderemos nossos neurônios
em atividades pouco excitantes.
Menos ainda farão diferença os amantes da técnica, os que agem conforme os manuais.
Ou o vaso grego.
Ou chinês.
Não importa também de onde venha o tal vaso.
Estamos amando cada vez mais o verso livre e On the Road.
A prosa poética, o poema prosaico. A rosa do povo.
O verso de Bandeira,
que não esteja mais farto.
Onde quer que esteja, que esteja conosco.

Vamos bradar o brado do grande campeão:
Rock ‘n’ roll, mothafuckeeeer!!
Ao longe, os bardos que cantam à vida
vêm chegando.

A despeito da teoria burocrática da administração,
da falta de tempo,
dos trens lotados,
da falta de amor,
dos beijos roubados,
da falta de vida.

Há muitos lá fora que estão menos vivos que Caio e Rubens.

Azar. O azar do mundo de-menos-riso,
menoárvores,
menofrutas,
menoflores. Menos pausas agora.
Vamos plantar novamente,
neste vaso nada grego, nada chinês.
Vamos gerar novos frutos
e sorrisos.
E festejar. Porque não estamos mortos.
Nem os nossos podem estar mortos em nós.

É isso, pessoal! Beijos e abraços!

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