quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Processos

Shiva, a divindade indiana da destruição, mas que também implica
transformação. Aqui aparece em sua representação conhecida como Nataraja.

Porque as mudanças estão em curso. Ainda que não sejam exatamente como eu pretendia. Mas elas vêm. E aceito. Porque é preciso. Porque quero.

Antigos processos dão lugar a novos, lentamente, mas já bem visíveis.

Enquanto aguardo o futuro, construo o presente. Espero simplesmente não me atropelar.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: NAÇÃO ZUMBI - Nascedouro.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Gan Eden

O painel lateral que representa o paraíso no tríptico
O Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch.


Um textinho atemporal para viajantes apressados e/ou entediados. Porque pode doer, mas há sentido na dor, assim como há sentido no deleite. Mas não é preciso buscar explicações para tudo, basta vivê-lo. Explicar é para escritores. Bom, é isso aqui:

Gan Eden

Paraíso é quando você percebe que, apesar da desarmonia do mundo, há um pequeno canto, em qualquer lugar, feio ou bonito, e sente estar em harmonia com tudo ao redor. Pode estar só. Às vezes acontece. Muitas vezes, desse jeito mesmo.

É quando você está com os amigos e eles te fazem bem. Uma piada, por mais sem graça que pareça, um beijo quase infantil na bochecha na pista de dança, um prêmio porque você foi doce e fez algum comentário bacana sobre qualquer coisa que, horas depois, nem lembra mais o que havia sido.

Quando você olha e deseja. E você sabe que também é alvo daquele par de olhos. Ainda que seja por poucas horas, mesmo minutos. E então você, que cadastra as belezas dos pequenos sinais, torna o momento eternidade na sua galeria de memórias que nunca serão perdidas. E o momento vai estar lá, a ser tocado pela última vez na hora final.


Você ouve uma música e sabe sem querer saber que está dançando, só, loucamente no quarto, na frente do micro quando você checa os e-mails e apaga os spams. Ou sai do cinema depois de um filme leve e muito bom.

Sente o gosto e o aroma do prato à sua frente e sabe, não vai durar pra sempre. Mas é bom que dure o tempo certo. Sem pressa, mas também sem deixar o prato esfriar.


O vento no rosto enquanto a viagem existe. E chegar. A qualquer destino que você possa dizer: “Era isso mesmo que eu queria!”

Sensação.

Orgasmo. Nem precisa ser sexual. Também.

Mas tudo.

Esvai.

Nenhum paraíso é pra ficar. A gente sempre retorna. Cada Adão e Eva dentro de nós prova a maçã. Expulsão é parte do ritual. Outro dia parte para a terra prometida.

Que bom! A gente sempre busca!

Aos curiosos o suficiente, Gan Eden é Jardim do Eden, em hebraico. O trecho "Nenhum paraíso é pra ficar. A gente sempre retorna." é baseado em algo que tinha dito pouco tempo antes a um camarada e ele, meio sem saber, acabou colaborando.

É. Tudo explicadinho ou nada explicado. Espero que gostem, desgostem, opinem, vivam e busquem. Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: JUAN STEWART - Angel > INDOCHINE - Peter Pan > ELVIS COSTELLO & ALLEN TOUSSAINT - Wonder Woman > NAÇÃO ZUMBI - Memorando > ANTONY & THE JOHNSONS - My Lady Story.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Marion ou Julie?

Bom, diferente de outros anos, a minha atenção, durante o Oscar, se é que realmente haverá cerimônia (o que é irrelevante, na verdade - importam-me alguns resultados), não será para a premiação de melhor filme, melhor diretor ou melhor filme estrangeiro.

Desta vez, a pergunta que se forma em minha mente é: "Marion ou Julie?"

Já devo ter falado aqui da atuação exuberante de Julie Christie em Longe Dela, drama sobre mal de Alzheimer que marca a estréia de Sarah Polley na direção. Mas ontem, depois de meses de enrolação, fui ver Piaf - Um Hino ao Amor. E, diabos, não é que a até então desconhecida (a mim) Marion Cotillard colocou essa minhoca na minha cabeça?

Afinal, ela foi uma Piaf sensacional. Uma atuação de excelência! Vale também valorizar o trabalho de maquiagem, porque a Piaf velha e acabada pela doença ficou irretocável.

Ah, vai ser difícil pra quem escolhe, mas sim, eles que descasquem esse abacaxi. Eu voto nas duas!

Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: TIAMAT - Do You Dream of Me?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sendo

Então no meio da madrugada, um pouco antes de dormir, imagens sobre tudo que pude e poderia ser vêm à mente. Paro a arrumação da cama e venho para cá. Não seria melhor deixar as idéias abandonadas na noite levemente fria e permitir que escapassem pela janela ainda aberta. O resultado é este, talvez um pouco pretensioso, um pouco bobo, não sei... vocês dirão melhor que eu, quem sabe?

Sendo

já fui o ladrão a galope de seu deserto

já fui o grito na rua
o desespero de não saber pra onde ir
e a solução encontrada no último gole do copo

já fui a distorção da guitarra que já não toca

já fui o oásis que se desfaz à sua frente
a dor de ninguém

e também a risada presa na garganta

já fui o coro das igrejas
a mão que segurou a sua quando temia andar
já fui os olhos que guiavam
e a noite que teimava em prosseguir sendo


já fui sonho e acordei realidade fútil
o tempo perdido nos faróis de uma metrópole
o papo sem moreira nem bezerra
e já fui silva e de paula e alessandro

e permaneço de alguma forma

na vida de quem quer:
um vagabundo, um joão bobo,

um falsário, sedutor virgem do vazio

carrego em mim algumas verdades

todas as ficções e contradições
as bugigangas incompreensíveis do inconsciente

algum ódio, muito amor e um tanto mais de... teimosia

o que mais posso ser? e o que mais posso ter?

É, isto é tudo por esta noite. Beijos e abraços, meu povo!

NA MINHA VITROLA: ELVIS COSTELLO - Miracle Man > No Dancing > Blame It on Cain.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Das vaidades vadias

A poesia possível, a melhor possível. A única possível.
Pavo Muerto, de Goya.

Das Vaidades Vadias


o poeta está cansado
da política
da boa vizinhança
do bom-mocismo

de dizer amém
do façamos amor
do não à guerra
do tudo-em-paz

queimem os terços
desfaçam o sorriso falso
e cansado
da foto que não lhes traduz

assumam a angústia
o patético
da crise de meia-idade
dos seus 18, 30, 50 ânus

carreguem como bandeira
a solidão das convicções
abandonadas
em troca de aceitação

tudo cheira mal
perfume francês
avenidas bem-cuidadas
para o inglês ver

tragam os miseráveis
os assassinos às ruas
os viciados e as damas
mais sacanas e risonhas

vamos criar um hino
da doença entre as coxas
do fétido ar de bosta
das vaidades vadias

vamos, otimistas
vomitar aos pés
das árvores centenárias
e morrer cantando

uma canção de desconsolo
de pouco caso
de desumanidade
de medo do medo do medo do medo...

Muda o calendário. Só. Porque tudo segue igual, todos seguem iguais, como gado para o matadouro. Pensamento uniforme.

Quem pensa diferente é maçã estragada! Quem leu o Gênesis imagina.
Ou não é um dos 144 mil escolhidos. Ao caldeirão fervente! Quem leu o Apocalipse sabe!

Estes estão fadados ao escárnio, ao rótulo de loucura. Sinto que sou um destes. Não vai mudar. Não espero medalhas, mas sei das risadas de cinismo que finjo não perceber. É um desabafo. No entanto, não troco o que sou por outra "coisa".

Beijos e abraços, a quem é de beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: RADIOHEAD - Last Flowers to the Hospital > LOU REED - Caroline Says II > ELLIOTT SMITH - Trouble.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

2007 foi... - Parte 5 - Música > Lançamentos

Tarde de terça. Estou aqui, lidando com minhas limitações. Porque uma alma pode não ter limites, mas um corpo tem. E algumas das coisas que pretendia mudar neste ano serão mudadas.

À força!

Saúde urge! Até onde sei, não sou um masoquista pra passar noites em claro por causa de dores. Ao menos fossem outras dores, as de um poeta (estas também tenho, mas não me impedem de dormir - eu que gosto tanto do verbo)... mas não.

Então, tudo bem, farei o que é necessário e até foi bom que tenha acontecido e eu não engavete mais o plano de uma reeducação alimentar. Folhas e frutas, folhas e frutas para mim.

Aquela pizza? Esquece! Quem sabe, daqui a uns meses, possa voltar a tomar uma cervejinha em algum boteco com alguns de vocês? Mas socialmente, apenas. É. Será.

Entre cápsulas ingeridas religiosamente de 6 em 6 horas, ouço música, em 2007 houve variedade de boas e ruins. Vou falar dos bons lançamentos do ano, então:

Parte 5
Música > Lançamentos

Arcade Fire Neon Bible
Religiosidade interior, sensação de peças fora do lugar, lugares onde ninguém vai mas que estão ao alcance, maus presságios e um mundo que cada vez faz menos sentido. Poucos traduzem estes dias em música como os canadenses do Arcade Fire.





Black Rebel Motorcycle Club Baby 81
Visceral como Jesus and Mary Chain em seus melhores dias. A alma do rock foi resgatada aqui. Não é preciso dizer muito sobre o disco, mas ouvi-lo é essencial.

Interpol Our Love to Admire
A banda de NY cada vez mais madura, cada vez mais Joy Division trazido para estes dias, com uma sonoridade muito plena. Cansar de ouvir? Quem sabe em 2020?

Radiohead In Rainbows
As mesmas esquisitices, as mesmas introspecções, as mesmas explosões. E como é bom sabê-los mais independentes que nunca do mercado. Dá vontade de cortar os pulsos, mas você não corta porque quer ouvir mais.

Robert Wyatt Comicopera
Este é daqueles artistas que atravessam o tempo com classe. Comicopera tem de tudo: experimental até a última nota, jazz, música latina e belas e estranhas canções. Sem enjoar.

Thanos Mikroytsikos & Rita Antwnopoyloy Gia Fwnh Kai Orxhstra
Thanos é um maestro consagrado em sua terra, a velha Grécia. Rita é uma cantora que acompanha as instrumentações e o faz de modo belo, quase inacessível de imaginar, tanto quanto pronunciar seus nomes.

Vanguart Idem
Folk rock de Cuiabá, Mato Grosso. Já caíram nas graças da mídia independente e não foi à toa. Fico no aguardo de mais novidades, porque esses caras têm boa música pra mostrar.






Vive la Fête Jour de Chance
É música pra dançar. Das melhores. O duo belga não perdeu o jeito da coisa e nos presenteou mais uma vez com um trabalho vibrante - o que não é novidade.


E assim fecho 2007 aqui, com uma semana de atraso. Ou não. O tempo aqui não precisa ser igual ao do mundo lá fora, definitivamente.

Muita música pra vocês, também muita saúde, dinheiro, amor e desafios! Há que ter isto tudo pra se sentir vivo em 2008. Ou o que vocês preferirem. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: ROBERT WYATT - A Beautiful War > Out of the Blue > Del Mondo > Canción de Julieta > Pastafari.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

2007 foi... - Parte 4 - Música > Shows

Um pouco devagar. Vontade e necessidade de mudar, mas um pouco devagar. Nada deve ser forçado e acontecer de uma hora pra outra. Mas hoje darei um passo. Sim, é isso. As mudanças não ficarão na idéia, nas quase-promessas de virada do ano.

Antes do passo, mais um capítulo da retrospectiva, antes que estejamos em dezembro de 2008 e já não faça sentido uma retrospectiva de 2007. Hoje é dia de falar em...

Parte 4
Música > Shows

Nos grandes, fiquei devendo presença, mas também não é toda hora que um está disposto a pagar altos preços por uma apresentação e não ter a garantia de que vai ser um momento inesquecível. Os pequenos foram poucos também, mas bons. Destacarei dois que, coincidentemente, vi no auditório do Sesc Vila Mariana. Ei-los:


De cima pra baixo, o gaitista Jefferson Gonçalves no palco com Norton Buffallo; o guitarrista Big Gilson; a banda Blues Power Trio, formada por ex-membros da Big Alambik e da Baseado em Blues.

Agosto, mês de desgosto. Na verdade, nem um pouco. Foi o mês em que blues correu mais forte nas veias deste aqui, então não foi difícil gostar da apresentação de Jefferson Gonçalves e Big Gilson, que contou com representantes de bandas essenciais do blues feito no Rio: Big Alambik e Baseado em Blues. E os rapazes mandaram bem, muito bem.

Mais recentemente, mês passado, estive novamente ali, desta vez para as apresentações de grupos da nova música indie argentina. Destaco o show de Guillermo Alonso, que responde pelo Coiffeur, um projeto folk indie cuja sonoridade lembra muito, em vários momentos, a do falecido músico americano Elliott Smith. Se as músicas não saiam da cabeça antes do show, depois é que elas grudaram de vez aqui.

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Bom, pessoal, agora sigo em frente, porque há muito a fazer. Há um pouco a falar ainda sobre 2007, mas haverá muito, mas muito para dizer sobre 2008. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: BLUES POWER TRIO - Até o Fim da Estrada > Harlem Shuffle > Shaped by an Angel > Pedra Rara > Amor.