segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Social

Breve poesia pra iniciar a semana. Enjoy it!


Social

Isso lhe serve de tudo.
Isso lhe serve de nada.

Quão banais são os objetos que o cercam...
Como se realmente precisasse deles.
Poderia ser de outro modo.

Tudo.

Um nada.

Fizeram-lhe crer e aceitou.
Porque não podia passar sem. Não.

Não podia.

E todo sentimento que vem junto.
Como num pacote de viagem.
Com roteiro definido, locais aonde ir e parar.

Sorri.
Porque nestas ocasiões só se deve sorrir.
Ou será rotulado o Estranho.
O que não se encaixa.

Mais fácil aceitar que estabelecer o próprio roteiro.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: TINDERSTICKS - Buried Bones > CASIOTONE FOR THE PAINFULLY ALONE - Nashville Parthenon > RÖYKSOPP - Miss It So Much.

domingo, 16 de agosto de 2009

Domingos

Textinho instantâneo saindo no capricho.


Domingos

Quando era criança, adorava os domingos.

Havia algo de encantador naqueles dias, passados à frente da televisão vendo Sílvio Santos com a mãe. Afinal, era criança.


E era dia de macarronada, quase sempre.


Passou. Sílvio Santos perdeu a graça e adquiriu traços demoníacos aos seus olhos.

Agora, adulto, domingo é vazio quando seu time não joga. Apenas vai à feira. É o que salva.

Domingo é o pós-balada e a ressaca. Óculos pra proteger do sol, quando faz, pela manhã. O passo trôpego e o caminho de volta.


É o dia da não ação.


Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: BRIGITTE BARDOT - Harley Davidson > SUPERGRASS - Alright > KASABIAN - Vlad the Impaler > U2 - Lemon.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Porque a miséria está à mesa... ainda!

Terror e Miséria no Novo Mundo - Parte 1: Estação Paraíso


Densidade.

Quando penso no espetáculo, é a primeira qualidade que me vem à mente. Sim, porque Terror e Miséria... é sobretudo densa. Porque a realidade, se você sai do mundinho de TV e de tudo que a mídia dominante impõe, é isto. E também surreal. A melhor definição que se pode ter do Brasil em duas palavras: "real" e "surreal".

E é isto que nos oferece a Cia. Antropofágica em seu novo espetáculo. Cada vez mais ácidos. E não podia ser de outro modo. Porque as relações de poder, desde o período colonial, nesta terra, sempre foram brutais. Não é exatamente o que se sabe dos livros oficiais de escola. Mas quem sabe, sabe. Ou não imagina, ainda que pense que sabe, da missa um terço. E se delicia com a desgraça. A própria desgraça - o veneno que é a realidade, tudo o que nos corrói os interiores. Deliciosamente.

Muito está ali, nunca de um modo linear: a chegada lusitana - melhor dizendo, da escória lusitana; como se deram as primeiras relações com os nativos do novo mundo - estupro mental, espiritual e físico; a figura da igreja; mitos e símbolos expostos ao escárnio; a [falsa] inclusão social; a tragédia da (des)educação; as decisões políticas; o futebol; a influência externa. Há uma alternância de "climas". Pode ser uma alegria sádica de desnudar a alma de uma nação que se construiu a partir de seus vícios. Pode ser a sombria hecatombe, a miséria de existir em tal contexto.

Num dado momento, o público é chamado a participar: como num reality show, tem de decidir quem será "salvo". Num vídeo, transeuntes são questionados sobre a liberdade. As respostas são limitadas. O populacho se embaraça. A visão de liberdade é sempre a partir de um ângulo pobre. Noutro vídeo, uma apresentadora infantil de programas infantis canta o índio brasileiro. Quis rir. Ou chorar seria mais apropriado?

Noutro instante, Joaquim Silvério dos Reis, o traidor, surge expondo as vísceras da Inconfidência Mineira e também nossa ignorância crônica. Zé Carioca morre e é condenado ao inferno. E há sempre uma cartomante de palavras esperançosas. Afinal, como dizia aquela campanha, o brasileiro não desiste nunca.

O trabalho dos músicos tem de ser ressaltado, também, pois não se poderia imaginar o espetáculo sem a intervenção musical consistente que já é característica da Cia. Neste momento mesmo, em que digito estas linhas, parte da trilha toca em minha mente.

Se em outras ocasiões, esses antropofágicos foram buscar referências na tragédia grega, nos contos de fada ou no cinema de Buñuel, agora é diferente. A peça é fruto de um trabalho árduo em que as referências surgem do cotidiano e de uma história nada gloriosa.

A visão de paraíso sucumbe em festa. Horror em progresso. Quero vê-los de novo, antes que termine a temporada, em 27 de setembro. E penso que muito mais gente deveria vê-los.

Terror e Miséria no Novo Mundo - Parte 1: Estação Paraíso

Ficha Técnica
Dramaturgia: Cia. Antropofágica
Roteiro e direção: Thiago Reis Vasconcelos
Direção musical: Lucas Vasconcelos
Músicos: Bruno Miotto (bateria), Bruno Motta (violão), Frederico César (clarinete) e Lucas Vasconcelos (piano e acordeon)
Elenco: Alessandra Queiroz, Andrews Michel, Clayton Lima, Daniela Leite, Danilo Santos, Fabi Ribeiro, Flávia Ulhôa, Gilberto Alves, Haroldo Stein, Martha Guijarro, Raphael Gracioli, Renata Adrianna, Ruth Melchior, Thiago Calixto, Valter Paulini.

Local: Espaço Cultural Pyndorama
Preços: R$ 5,00 (sexta) e R$ 10,00 (sábado e domingo).
Datas: 24 de julho a 27 de setembro de 2009.
Horários: Sexta, 21h; sábado, 20h; domingo, 19h.

Saibam mais aqui.

Beijos e abraços, povo vicioso de uma nação viciosa!