segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sobre Rubens


Sobre Rubens

Deixa saudade.

Símbolo de um tempo, não muito distante, em que inocentemente acreditava que poderia viver e criar intensamente sem pagar um preço alto. Se "os de fora do círculo" criassem problemas, era só um poema e uma gelada, depois do expediente, que tudo estava, senão bem, melhor. Respirávamos

poesia

e



rock 'n' roll, mothafucker! (como ele dizia)

O amigo Mafra foi a um bar. Pediu uma cerveja. Escrevia algum poema em seu caderno. Foi ao banheiro. Quando volta, encontra o cara que devia estar atrás do balcão lendo seu caderno. Era um início.

Depois, fui lá, com o Mafra. Neste bar, o Gruta. Descemos as escadas e tocava algum jazz. Não lembro o quê. Era final de 2005, algo assim. Faz tempo.

Frequentamos o lugar. Fazíamos festas e saraus de poesia. Bebíamos mais que o bom senso permitiria. Éramos excessivos, mas estava tudo bem. Rubens estava lá. Emprestava vida ao lugar, que nunca era tão bacana sem ele. Tornou-se um Prop(h)ano, que era o nome de nosso grupo de poetas e amigos.

Dava-me dicas de como apresentar melhor meus poemas. Minha dicção não era boa e eu era um pouco... apavorado. Ajudou, sim.

Chorou comigo quando o pai dele falecera. Uma vez, fomos à casa de uma de suas filhas e passamos horas organizando sua coleção imensa de discos de vinil. Naquele dia, ele fez uma foto minha segurando uma placa da rua da Consolação que ele conseguira de algum modo pouco usual.

Deu em cima da Talita. Não colou. Todos nós o adorávamos. He made housecalls. E isso é uma piada interna.

Passei uns bons dias em Ubatuba, quando ele se mudou pra lá, pra viver com a Beth. Não deu certo. Penso que era difícil, pras mulheres, lidar com ele. E muito fácil pros amigos.

Era o mito. O cara que esteve muito perto de Woodstock, mas não conseguiu chegar porque estava muito doidão pra isso. Vivia de traduções e atrás de balcões de bar.

Tinha planos literários surreais. Fez teatro e, pelo que sei, recentemente havia participado de um curta, ou algo do gênero. Não cheguei a ver.

Lia com emoção e desenvoltura alguns poemas meus e de nossos amigos.

Ficamos cerca de um ano e meio afastados. Voltei a vê-lo em abril de 2011. O Pituca não sabe (ou não sabia até ler esse texto), mas Rubens não me cobrou pela cerveja. Acho. Sei lá. Foi a última vez que nos vimos.

Em 19 de junho de 2011, ele estava no mesmo bar, aquele ao qual ele sempre emprestava vida. E lá a vida o abandonou. Enfarto. E a demora habitual do socorro.

Não creio em céu ou inferno. Não creio em outras vidas. Mas se eu estiver enganado, espero que Rubens encontre Hendrix.

Beijos e abraços, pessoal!

NO VIDEOCASSETE

3 comentários:

Subverso Livros disse...

Um brinde ao Rubão.

MAO disse...

A cerveja no gruta vai ficar mais amarga que o de costume.

Alessandro disse...

Ainda não me acostumei à ideia de um mundo sem Rubens.