sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Edifício dos Amores Jamais Vividos - Parte 2: Tragicorpo

Olá, amigos passageiros! Espero que tenham gostado da primeira parte desta viagem... há um bocado mais pela frente. Divirtam-se!!!

Edifício dos Amores Jamais Vividos

Parte 2: Tragicorpo

Estava aborrecido e queria partir daquele prédio de coisas absurdas. Mas algo dominava minha vontade, mais que o bom senso. Voltei a divisar a rosaporta. Ao abri-la, já não estava ali a mulata. Em seu lugar havia uma velhota magérrima, de tez descolorida. Estava num escandaloso estado de nudez, segurando numa mão uma garrafa de uísque, eu supunha; na outra, segurava uma bengala, que ela utilizou para indicar que eu entrasse no quarto. Tive ganas de sair correndo, mas minha vontade era traída e eu me aproximei. Com que fetihálito ela convidou-me ao ato... jogou longe a garrafa, que se partiu em zil cacos e o líquido espalhava-se pelo chão. Livrou-se também da bengala e atirou-se a sorvelinguar o que se havia derramado. De joelhos, foi-se aproximando novamente do meu eu petrificado. Beijava meus pés e não pude deixar de notar negraranhas em seus brancabelos. O horror vivia ali, mas não tive reação. Permiti que suas mãos subissem com carícias pela minha perna, até encontrar o zíper da calça. De repente despido, membro ereto, ela passava aquela mesma língua com que sorvera o elixir etílico por minha chumborrigidez. Em seguida, engoliu-o e testemunhei aquele rosto ficando a cada momento, a cada chupada, mais e mais cadavérico. Não sei como reuni forças para escapar ao macabrencanto. Sentia-me doente, algo de febril tomava conta de mim e creio que eu, num último átimo de vontade, devo ter me afastado violentamente daquela monstruosidade.

Branco, branco...

A lembrança seguinte é de encontrar-me naquele corredor das portas. Eu deveria ter chamado o elevador e saído daquele hospício, mas novamente não. E novamente fui tomado pela surpresa. Já não havia porta rosada tampouco a alvinegricinza. Eram portas de madeira sem nenhuma pintura e estavam abertas. Com medo, aproximei-me de ambas as entradas e pude ver que os quartos estavam vazios. Janelas abertas para uma claridade insuportável. Então, atentei para a porta do meio. Era de vidro fumé e estava cerrada. Esquecido de toda sensatez, decidi entrar para verificar nova insanidade. Era algo parecido a um quarto de hospital, havia vários leitos e, nestes, bebês. Uma luz intensa e fantasmagórica amplificava o horror, quando percebi que em vários destes leitos estavam casais de recém-nascidos copulando, e os pequeninos tinham dentes pontiagudos, como se fossem demônios. De repente, entrou no local o mesmo senhor que eu vira morto no quarto à direita. Pois ele estava ali, em pé, vestido com um medijaleco branco e postura altiva. Olhou-me com desdém e disse entre dentes: "afaste-se de minhas crianças". Então irrompeu um grito terrível do lado de fora e eu saí, correndo.

Pareceu outra eternidade a espera do elevador. Quando veio, não desceu ao térreo, desobedecendo meu comando e levou-me andares acima. Quando abriu-se a porta do elevador, eis que ela me aguardava. Trajava o mesmo vestido primaveril e eu enxergava vinissabores novamente. "Siga-me", ela disse. E eu me esqueci de todo o horror. Entramos num quarto bem mais amplo que todos aqueles visitados anteriormente, desprovido de móveis e em cujo centro se mantinha sentado um tipo que aparentava um Buda. Ele me sorriu simpaticamente e disse para eu sentar-me ao chão para assistir ao show. Minha inebriante musa serviu-me uma verdibebida de estranhodor e eu agradeci. Então ela começou a se despir, lenta, muuuito lentamente... um pandemônio de ruídos catastróficos entrava pela janela, gritos de horror, prédios que caíam, veículos que explodiam, cavalos alados que resgatavam crianças, monstruosidades de histórias em quadrinhos emitiam rajadas de fogo, tsunamis infernais, além de outros fenômenos inclassificáveis. Tudo isto era refletido em seu corpo, que durante o ritual do strip-tease ganhava cristal-aspecto. Ela se insinuava a mim, mas seus olhares eram para o Buda sentado no meio do recinto. Ele dizia algumas bobagens como "enlouqueça-me com seu corpo de tragédia", E ria, impassível, convidando-me a tocá-la. Era tudo muito bizarro, e não fiz outra coisa além de levantar-me e acariciar-lhe os seios de horror, enquanto ela se livrava das flores e revelava um sexo negro como a treva mais insana. Afastou-me violentamente e continuou a esfregar-se naquela gordimontanha de banha. Eram as mais lascivas carícias enquanto terremotos percorriam a escultura de cristal que era aquela mulher. Não suportando mais tão absurda visão, olhei pela janela do recinto e vi um outro, que revelava-se um harém sem sultão. Ali estavam tantas mulheres se amando que a contagem destas só terminaria em milênios. Eu teria pulado então, quando olhei para trás uma outra vez e vi minha antiBeatrice agora sozinha, chorando. Acerquei-me e perguntei pela razão do choro, ao que ela me explicou que seu grande amor se encontrava perdido no meio de todas aquelas mulheres, e ela me chamara justamente com o intuito de que eu fosse procurá-lo, pois ela já não suportava a tortura da busca nunca levada a termo. "Como eu saberei que é ele?", perguntei. "Você saberá", disse ela.

Bom, meus amigos, espero vocês no próximo post, em que terá o lugar a conclusão desta história pouco convencional para o que estão acostumados a ler aqui. Beijos e abraços! Até breve!

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