terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Pedras que Rolam, uma Outra Cidade e Algo Mais


Dias corridos estes, meus amigos. Dias em que o ânimo oscila. Às vezes em alto nível, noutras vezes não existe. Informações passam como foguetes e não há tempo suficiente para apreender tudo. Entre todas as possibilidades, é preciso fazer algumas escolhas. E rapidamente. Havia U2. Havia Stones. Havia muita coisa a fazer. E há. Ainda um livro, atitudes adiadas e talvez novas prioridades. Mas não, não será uma ameaça ao cumprimento de algumas promessas.

Entre todas as escolhas, optei pela aventura de sair um pouco de São Paulo, algo que, para quem me conhece, é um pouco surpreendente. Afinal, posso contar nos dedos o quanto viajei por vontade própria nos últimos anos. E é verdade que o dinheiro usado por uma prefeitura na produção de uma apresentação de um megadinossauro do rock poderia ser usado de forma que beneficiasse mais uma população. Mas eu havia me prometido, desde 98, que veria aquela banda. A possibilidade me foi oferecida. E tenho muitas dúvidas se esta banda sobreviverá à ação do tempo, a médio prazo. Por isso, pela curiosidade sobre um Rio que jamais pisara e pela necessidade de romper a rotina, eu fui lá.

Longe de julgamentos de qualquer espécie, eu precisava estar lá. E não me arrependo, pois foi perfeito. Ou quase. Jumpin' Jack Flash um pouco mais lenta fez apenas aumentar a excitação iniciada pelos veteranos Titãs, que fizeram uma apresentação mais próxima do visceral que eles já foram. Os mais que veteranos Rolling Stones estavam em cena, enfim. Embora não se visse palco. Havia a distância imposta pela existência de uma área vip amaldiçoada por todo fã comum. E eu não fugia à regra. Amaldiçoei, pois sou um fã, uma pessoa comum. Mas havia um telão enorme e conseguia vê-los através daquilo. E havia a energia. Imensurável. Era a vontade satisfeita, ou melhor, satisfação em curso. A vontade de gente de todos os lugares. Do Rio, capital do mundo, então. De São Paulo, das Minas Gerais, do Ceará, da Alemanha, da Austrália, do universo. Essa vontade era a explosão que gerava tudo e então, quando tudo era perto do completo, eu disse à menina que estava ali ao lado: "vão tocar mais duas, You Can't Always Get what You Want e Satisfaction". E foi isso.

Sentia-me bem. Talvez fruto da mistura de Skol com Jack Daniel's (putz... eu perdi o livro do cara de Santa Catarina... um escritor vendendo seu livro ao mesmo tempo que curtia o show e carregava consigo seu litro de whisky... e ele dava conta de tudo?). Não, eu não vi nada de alarmante. Nenhum assalto, nada. Embora saiba que estas coisas acontecem ali. Tanto quanto aqui. Mas todo mundo sabe a fama que tem aquela cidade...

Ah, sim... a cidade! Fiquei no Rio cerca de 32 horas. Relatando assim, parece absurdo que eu não tenha ido a diversos pontos turísticos. Havia tantas possibilidades. Mas eu tinha que saber o local onde me instalaria, havia a necessidade de chegar um tanto quanto cedo à Copacabana e, no dia seguinte, a ressaca me fez dormir demais. Fiquei devendo um encontro a uma amiga. Talvez se tivéssemos conseguido nos programar de antemão, não ficaria devendo. Bom, acontece. Ou desacontece. Haverá outras oportunidades. Eu gostei de lá. Pode soar ingênuo, mas o que captei da cidade é que as pessoas dali são alegres, gentis. Em todos os poucos lugares em que estive, o tratamento foi bom. Pensei que sofreria algum preconceito porque deve ter ficado evidente a eles algum sotaque paulista, qualquer coisa assim. Nada disso. Não digo que fui tratado como rei, mas não me expulsaram a pontapés ou não tentaram me assaltar, nada do tipo. Também, se não parecia um mendigo, ao menos procurei não ostentar nada. E o que havia a ostentar? Talvez minha boa disposição. Quem sabe eram as circunstâncias que fizeram eu sentir-me tão bem? Mas a verdade é que me sentia mais à vontade ali do que aqui. Nunca se sabe. 32 horas é pouco para mensurar. Pode ser que um dia eu me mude para lá e descubra a verdade, mas por ora deixo-me iludir e permito que a cidade ainda me toque.

Hora de voltar. Alguma música um pouco triste na cabeça, antes de tomar o ônibus para a rodoviária, tendo a praia de Botafogo como cenário. Na rodoviária, era estranho e já me sentia excluído de toda possibilidade de sensação positiva. Mas tinha de voltar e o mundo das atividades repetitivas dia após dia me aguardava. Afinal, ninguém pode ter tudo o que quer, não é verdade?

Posso concluir que, após esta passagem por Rio, a presença de Stones e todo o clima que envolvia o ambiente da apresentação trouxeram alguma energia. Não pude ir ao show do U2, mas também não tinha me interessado por filas. Até havia tentado por internet, mas o site nunca estava no ar tempo o suficiente para conseguir o ingresso. Quando foram os dias de tentar por telefone, eu já havia desistido. Vi pela TV e me pareceu muito bom o que ocorreu ontem no Morumbi e deve estar ocorrendo hoje, neste exato momento. Prometo a mim mesmo que os verei na próxima oportunidade, seja onde for, contanto que esteja ao meu alcance.

Só me resta agora parabenizá-los, amigos viajantes, pois tenho a impressão de que foi um texto muito longo para a paciência de alguns. Talvez eu devesse trabalhar numa edição, mas não me encontro assim tão paciente e, ao mesmo tempo, há alguma ânsia de falar tudo isto para vocês, antes que deixe de ser novidade, neste dia em que as informações são tão velozes, muito mais velozes que este trem em que viajam comigo.

Beijos e abraços, como sempre. Aguardem novidades. Ainda há um conto cuja promessa de publicação ainda não foi cumprida, mas ele precisa de uma edição mais apurada. Tentarei colocá-lo à disposição de vocês ainda nesta semana.

NA MINHA VITROLA: MARIANNE FAITHFULL - Love in the Afternoon > ELLIOTT SMITH - Memory Lane.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excellent, love it! » » »