terça-feira, 12 de agosto de 2008

Não há flores na alcova

Cena do filme Amantes Constantes (2005), de Philippe Garrel.
Observo comportamentos, faço isto. Geralmente, quando estou num metrô, num ônibus... vou sacando umas pessoas. Claro, isso tem de ser feito. Penso em mim como um escritor. E um escritor tem de ser observador.

Muitas vezes pensei em algumas dessas pessoas que vi, anos a fio. Claro, muitas vezes as faces não se repetem. Mas algumas expressões ficam marcadas. Pensei como seriam algumas dessas pessoas numa relação afetiva. Automatismo. Autoritarismo. Tristeza. Vazio. O que se pode encontrar quando...

Não Há Flores na Alcova

é preciso duvidar

da sua capacidade

do seu entendimento
do que é amar
do que é
se dar

é preciso
uma leveza não-
dissimulada

que você não
tem
nem
terá


no quarto

após o
ato

que é uma
luta
mira-se
ao espelho
o que poderia ser
charme

gesto suave
torna-se a foice que
destroi
o que houve:
seu narcisismo


tudo é o que
você
exige:

tudo

é pressa
tudo é
o rasgo
o grito
a morte
a distância

o toque
que não há

porque não
é
sentido


corpos tão
juntos
afastados
no mesmo instante
duas
respirações
que se
anulam


amante
que (não)
pensa
que diz
querer

querer o quê?
que

odeia

nestes dias
para alguns
amar
é

uma
guerra

Então é isto? Claro, pode ser. Toda observação pode levar a um caminho, inclusive ao erro. Mas isto é arte, acredito. E arte nem sempre precisa lidar com a verdade, mas com impressões, sempre.

E estas, melhor seria se estivessem erradas. Preferiria crer que o ser humano pode ser melhor que isso. Sim, em alguns casos, pode.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: ZBIGNIEW PREISNER - Paysage Absolu > Alexandra Has Left > Matia Palatia > Where the Angels Fear > Kosmoplastra Mousiki.

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