
Quanta melancolia cabe aqui? O quarto está tão cheio. Os discos que ouvi e que nunca ouvi. Ainda bem que tenho agulhas sobrando. Mas e as caixas? Ah, preciso de novas. O aparelho só toca vinil. Está ali, entre lembranças de histórias de amor imaginadas. Entre risos de amigos que se foram. A vida os leva.
A chuva lava o chão da rua, tudo pro esgoto, com os santinhos de candidatos, com a gafe que cometi na última sexta. Cigarro atrás de cigarro. Ainda o gosto de vitamina de banana com aveia, em segundo plano. E o futuro.
Livro. Emprego. Pós. Tudo o que virá. Uma última vez, adeus. O vizinho já não reconhece. Quando estou em casa, estou em casa. Quando estou na rua, estou longe. Sempre perto ou longe demais de mim.
Volto ao quarto. O velho apetrecho de ginástica. Prometo usá-lo mais vezes, mas não agora. Talvez uma cerveja com o amigo, mais tarde. Mais fudido que eu. Mais canalha que eu. Tão amantes da vida. Ontem, o passeio com mamãe. Ao médico, sempre! O trânsito, esse táxi vai sair uma fortuna. A cantada hedionda. Entre Cortázar, Machado e o sono, Fassbinder.
Maria Bethania. Thelonious Monk. Não desista, amiga. Você vai se odiar até o fim se não fizer isto. Um autor cuja entrevista só li até a metade me fita da capa da revista. A jarra com água. Todos os DVDs e uma cópia sendo feita do último episódio de Berlin Alexanderplatz, agora.
Agora, a melancolia do espere-e-verá. Agora, uma lenta transição. Antes dos 40, antes dos 40... você será um homem realmente interessante. Deixar uma imperfeição física é importante, também. Um instrumento musical quebrado. A mancha na porta do guarda-roupas. O calendário que sempre está no mês passado. Sempre esqueço de mudar.
E o futuro. Uma sala repleta. O sorriso de Karenin. Um europass. Calendários esquecidos, gente que amarei. Gente que deixarei. Uma melodia de piano que insistirá. Insistirá.
Às vezes, eu gostaria de estar errado. Talvez.
Beijos e abraços, pessoal!
NA MINHA VITROLA: MILES DAVIS QUINTET - Round Midnight.
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