
Todo esse noticiário sobre a morte da ex-amante do agora provavelmente ex-goleiro do Flamengo me fez pensar em coisas. Diversas delas.
Uma de tais coisas foi tentar ver o caso através dos olhos de um investigador policial, um tipo que tem de ser duro no meio em que vive. E que provavelmente não é o tipo que escapa de ter certos desvios psicológicos. Quis tratar isso não com a rudeza do meio, mas com uma tentativa de aprofundamento em sua personalidade. Não sei se consegui, até porque se trata de uma poesia, mas o resultado é este:
Particularidades de um Homem Forte
Boa noite, cara família
que me pasma com sua tranquilidade
em seu confortável jogo de sofás de cores neutras.
Sento-me num deles,
mas não posso desfrutá-lo como desejo,
pois mesmo quando posso não estou sozinho.
O pequeno está no quarto
e me chama para passarmos algum tempo.
O tempo que uso fingindo afastar fantasmas.
Ouço a voz daquela mulher
que, tola, ainda anseia algum calor de mim
sem perceber que tudo ao redor é gelo.
Mal durmo nesta noite
e assim é em todas as outras noites frias
desde que escolhi ser quem tenho sido.
Nas manhãs desoladas
já não tolero as vozes e quase me acidento
ao volante no caminho para o martírio.
Lá estão os monstros todos,
na minha mesa e ao redor só se fala disso.
Então saímos, eu e meus companheiros.
Outra missão a cumprir.
Mais uma vez, outra busca sem esperanças.
Apenas esta vítima e o corpo há dias inerte.
Não rezo pela humanidade.
A crueldade que vejo não mais me atordoa
e faço-me forte perante os que me buscam.
Quando enfim estou só,
o choro de cada ser que parte – e dos que ficam –
é minha companhia quando volto à casa.
Até amanhã, trágica rotina.
Invejo a tranquilidade de minha família
e não posso partilhar o que vai adentro.
Ainda que, quando acaba,
não queira mais ser o que tenho sido:
o investigador.
E isto é tudo. Beijos e abraços, pessoal!
NA MINHA VITROLA