quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Notas da Mostra - Parte 6

Passaram-se sete dias, uma semana. A Mostra acaba hoje em sua fase retrospectiva, que não acompanhei. Não estava disposto às amplas filas que imagino terem se formado. Tinha compromissos com o mundo e, sobretudo, comigo mesmo. E 14 dias foram o suficiente. Quero crer que sim.

Apenas não contava é com as tempestades e com minha maldita falta de precaução. Tive problemas com a máquina e precisei usar um dinheiro no qual não pretendia mexer. Paciência! Mas agora tudo está em paz e posso, à vontade, postar minhas opiniões sobre os filmes dos últimos dias da fase "principal" da Mostra. Aí vai:

Dia 30

Os Solitários/A Bela Face da Tristeza
Jean-Paul Civeyrac - França - 2000

A sessão foi aberta com a exibição do curta A Bela Face da Tristeza, em que o mito de Orfeu e Eurídice é transposto para os nossos dias. Bonito e singelo, nisto difere completamente de Os Solitários, a amarga história de pessoas tão solitárias. Estão ali o viúvo que se culpa pela morte da esposa e tem visões com ela, o irmão mulherengo e abandonado pela esposa. Esta, a mulher insegura, mas que resolve reconquistar o marido. E há também a mulher atenciosa e apaixonada que cuida do primeiro homem, sem esperanças de ser correspondida em seus desejos. E ainda há o desejo carnal mútuo entre os dois irmãos. Retrato cru de gente solitária, não é um filme otimista.

Brand upon the Brain!
Guy Maddin - Canadá/EUA - 2006
Interessante aventura que lembra a estética do cinema mudo, mas com narração em off. De verdade, durante suas sessões na Mostra, ocorreram ao vivo narração, música e sonoplastia, mas isto não ocorreu desta vez. Talvez por ter sido uma sessão extra, que substituía a exibição do francês Après Lui (aliás, a única vez em que houve alteração na programação, na parte da Mostra que me coube). Fiquei curioso pra saber como as coisas teriam sido ao vivo, mas esta exibição já foi de bom tamanho para a apreciação do filme.

A França
Serge Bozon - França - 2007
Mescla de filme de guerra e musical - nada tão inédito. O filme talvez pretenda refletir sobre o que é o cidadão francês médio através de um episódio passado durante a 1ª Guerra Mundial, em que uma esposa decide ir atrás do marido no front. Pra isso, encontra um grupo de desertores e assume a identidade de um soldado. De verdade, não é pra ser levado muito a sério.


Dia 31

Caixas
Jane Birkin - França - 2007
Mulher sozinha se muda para uma grande casa no interior da França, onde relembra seus momentos com os homens de sua vida, as filhas, seus pais, além de outras pessoas que encontrou em sua trajetória. Não chega a ser ruim, mas é um pouco cansativo.



Todas as Belas Promessas
Jean-Paul Civeyrac - França - 2003

Jovem apaixonada e desprezada descobre que o falecido pai tinha uma amante. Quando a encontra, um processo de descobertas sobre si mesma tem início. Assim que retorna de sua viagem, estará muito mais preparada para lidar com as dores que o amor pode trazer. Civeyrac, claramente herdeiro da Nouvelle Vague, foi-nos trazido durante esta Mostra e é um diretor no qual os brasileiros apreciadores do bom cinema deveriam prestar mais atenção.

Os Otimistas
Goran Paskaljevic - Sérvia - 2006
Cinco histórias em que os elementos principais são o otimismo e conformismo com que os personagens encaram situações extremamente ruins. Ou seja, estão na merda (literalmente, na quinta e derradeira história). Às vezes, parece Brasil...




Dia 1º

Lust, Caution
Ang Lee - EUA/China - 2007

Sempre fui reticente com o cinema de Ang Lee. O cara já fez um pouco de tudo: adaptação de obra literária de Jane Austen em Razão e Sensibilidade (chatíssimo, a meu ver, mas talvez merecendo uma segunda chance agora); aventura oriental cheia de efeitos em O Tigre e o Dragão; até blockbuster com personagem da Marvel Comics, em Hulk. Após isto, ele reapareceu com o oscarizado O Segredo de Brokeback Mountain, que ganhou notoriedade por retratar o relacionamento entre dois cowboys apaixonados um pelo outro (como se a temática gay fosse novidade na história do cinema...). Ok, o filme foi sensível e bom o suficiente pra chamar minha atenção. E este Lust, Caution, novíssimo projeto do diretor chinês, me ganhou. Não é um filme que gerará polêmica entre nós, tão ocidentais, mas certamente as polêmicas existem no extremo oriente, uma vez havendo o histórico ódio entre Japão e China. Veneza reconheceu isto e agraciou o filme com o Leão de Ouro. Tem um tanto de Hollywood. Possivelmente estará concorrendo aos Oscar. O enredo nos revela uma rebelde chinesa que mantém um caso com um funcionário do governo colaboracionista chinês durante a ocupação japonesa. Com suas idas em vindas, durante suas quase três horas, prende. E a beleza de Wei Tang ajuda.

Caótica Ana
Julio Medem - Espanha - 2007
Os filmes de Julio Medem se caracterizam mesmo pelos enredos atípicos. Não é diferente em Caótica Ana, seu novo filme. A jovem artista Ana vive em Ibiza, numa caverna em que as paredes tem pinturas de portas que não se abrem. Para abri-las, a protagonista encontra uma mecenas que a leva a Madri, onde faz amigos, conhece o amor e encara desertos de outras vidas. Viaja de barco para os EUA, ganha a vida em Nova Iorque, foge de vidas passadas no Arizona e, de volta à grande maçã, encara o desafio de tantas vidas, encarnado num político corrupto, o que assegura algum teor político à história. Quem encara?

Eduart
Angeliki Antoniou - Grécia/Alemanha - 2006

Jovem albanês que fracassa na tentativa de se tornar astro de rock comete um assassinato em Atenas. Após voltar para a casa dos pais, é preso e lá conhece um médico alemão que o ajuda a enfrentar sua culpa em meio ao caos das agitações políticas na Albânia. Mas... não é um filme para ser lembrado...

38 filmes em 14 dias. Para alguns, é muito. Para outros, é "fichinha". Claro, deixei de ver muitos outros filmes interessantes, até porque minha programação mudou tantas e tantas vezes, mas considero-me satisfeito por ter contato com culturas tão diferentes. Agora, adeus correrias, adeus amizades circunstanciais nas filas e nas salas, adeus sonhos e pesadelos do mundo da sétima arte...

Pra valer?

Não... os filmes sempre estarão por perto. Sempre há muito a ser visto. E ano que vem tem mais Mostra. Querem saber? Paro tudo o que estiver fazendo, peço licença no trabalho (se houver um), alego problemas de família em Marte, seja o que for, mas não quero estar fora.

Bom, daqui a pouco voltarei com meu Top 5 de filmes, ok? Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: BOB DYLAN - Idiot Wind > ARETHA FRANKLIN - The Letter > LUDOV - Rubi > JOY DIVISION - New Dawn Fades > RIDE - Unfamiliar.

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