
Cinco anos passam mais rápido do que se pode imaginar. É tempo de alguém nascer e começar um processo de socialização. De entrar e sair de sei lá quantos empregos. De começar uma relação que você pensa que será duradoura, mas que, de repente, simplesmente não existe mais. De conhecer algumas pessoas que valem a pena e muitas que não valem nem o movimento do olho.
É tempo de alguém morrer e se tornar um mito. Talvez não em nosso provinciano país, que tem uma das bandas largas mais caras do mundo, onde o transporte público de alguns grandes centros também é um dos mais caros. Talvez não em se tratando de um músico que transpirava emoção e que revitalizou um gênero um tanto esquecido.

Já o citei em algumas ocasiões - e não foram poucas - neste blog. Pois então justifico porque citá-lo novamente: hoje se completam cinco anos da morte de Steven Paul Smith, para mim e para os fãs no mundo todo,
Elliott Smith.
Eu havia baixado alguns discos dele por indicação de alguns amigos que também ainda não o conheciam, mas que tinham curiosidade, tanta quanta eu passei a ter a partir do momento em que eles me falaram a respeito. Passaram alguns meses, mas a curiosidade não era suficiente pra eu ouvir estes discos. Eu era uma "draga musical", sugando tudo o que a internet podia me disponibilizar. E Elliott morreu justamente em 21 de outubro de 2003, entre o período em que eu pela primeira vez baixara alguns de seus discos e o momento em que eu o escutei pela primeira vez. Eu não sabia, tampouco meus amigos.
Na segunda ou terceira audição, fui cativado definitivamente. Os meus CDs preferidos eram, num primeiro momento, o EP
Roman Candle (1994) e o quarto disco
Figure 8 (2000). Era início de 2004, acabara de ser lançado o póstumo
From a Basement on the Hill, que é meu "vício" até hoje. Então fui pesquisar sobre Elliott, pra saber mais sobre a carreira, os discos, as letras, as possibilidades de ele vir ao Brasil, quando leio a "notícia-baque".
Alguns meses antes, quando eu descobria seus discos no
Soulseek, ele tivera uma discussão com a namorada, Jennifer Chiba. Segundo a versão oficial, logo após a discussão, ela trancou-se no banheiro do apartamento de Elliott, para depois ouvir os gritos do músico. Duas facadas no peito (incrível, não?) e Elliott terminava a própria vida. Há um inquérito aberto até hoje pra tentar solucionar o caso e os fãs mais ardorosos têm a certeza de que Chiba, na verdade, o matara, de que não fora suicídio.
A verdade é que Elliott passava por um momento conturbado. Era o processo de abstinência. Havia dado um basta nas drogas, no álcool, nos tranquilizantes, na terapia e resolvera vencer por si mesmo. Não foi o que aconteceu...

Era um tipo extremamente sofrido, sensível e tímido e isso transparece facilmente em suas composições. Determinadas letras fazem alusão a um personagem de sua infância em Portland, Oregon, EUA: seu padrasto, Charlie, que é citado em algumas músicas, como
No Confidence Man e
Flowers for Charlie. Em
Abused, por exemplo, o compositor declarava ter sido vítima de abuso sexual na infância.
Dominava diversos instrumentos musicais: violão, piano, clarinete, gaita, baixo e bateria. Após se formar em Filosofia e Ciências Políticas, em 1991, foi trabalhar em uma padaria de Portland. É nessa época que formou o
Heatmiser, que tinha uma sonoridade bem grunge e era comparada, também, com
Fugazi. Em 1994, em meio a uma crise que detonaria o fim do
Heatmiser, Elliott lançou solo o EP
Roman Candle. Com o fim da banda, ele se agarrou à carreira solo, para, em seguida, lançar
Elliott Smith (1995) e
Either/Or (1996), pelo selo
Kill Rock Stars.
Nos tempos de Heatmiser. Elliott é o que usa chapéu. A virada na carreira do músico se daria em 1997, quando, a pedido do diretor de cinema Gus van Sant, compôs a música
Miss Misery para a trilha sonora do filme
Gênio Indomável (Good Will Hunting). No ano seguinte, concorreu ao Oscar por esta música e se apresentou no palco da celebração. Provavelmente uma das mais bizarras, senão a mais bizarra, apresentação musical do Oscar. Smith não se sentia à vontade nem um pouco, mas apesar de sua timidez, a qualidade de sua música o levou para a
DreamWorks, melhor prêmio do que ganhar o Oscar (conquistado por
Celine Dion, com
My Heart Will Go On, de
Titanic - desculpem se me descontrolo, mas... bleeeeeeeargh!).

Já na
DreamWorks, em 1998, Elliott lançou
XO, que seria sucedido por
Figure 8 (2000). A sonoridade folk dos primeiros discos foi trocada (não totalmente) por composições que remetiam, principalmente, a
Beatles. Não se pode dizer que foi uma má escolha - a nova fase da carreira do músico era tão rica quanto a anterior. No entanto, Elliott estava em um grande selo. As pressões porque não vendia tanto o incomodavam um bocado e o lançamento de um novo disco era uma incógnita, mas ele ia compondo, enquanto não havia uma definição.
Quando decidiu interromper sua vida, as músicas que dariam "corpo" a
From a Basement on the Hill estavam quase prontas - aliás, algumas ele já as tocava em shows há anos, em versões mais folk. Após sua morte, poucos reparos foram necessários e, em 2004, o disco foi às lojas... e à internet, claro.
Se aqui o músico é quase completamente ignorado, nos EUA, incontáveis fãs lamentaram o infortúnio e seguem visitando o muro de Los Angeles que aparece na capa de
Figure 8, deixando mensagens, flores e todo tipo de homenagens ao morto. CDs e shows-tributos são comuns e imagino que hoje haverá um bocado desses shows acontecendo.
Cartazes de tributos recentes a Elliott Smith.Em 2007, foi lançado um CD duplo, chamado
New Moon, com vários B-sides de Elliott. Mais de um ano antes, havia sido espalhada na internet uma compilação que pode ser considerada uma "prova" de
New Moon, batizada pelos fãs de
From a Basement on the Hill II.

Toda a angústia, insegurança e raiva que Elliott sentia foi traduzida em canções. Soa triste, porém belo. Gosto de pensar - e não sou o único - que, se me conhecesse, ele me entenderia. Ou entenderia a cada um de nós - um escondendo mais sua angústia do outro e tentando levar a vida com a máscara de uma alegria muito frágil. Lamento que um dia não poderei estar em algum lugar assistindo a uma apresentação, ao vivo. Mas Elliott vive. Graças à sua música.
De qualquer forma, hoje há um aniversário. E, numa data como esta, tem de haver presentes. Por isso, convido-os a celebrar a passagem deste cara que, sim, é meu ídolo, dos poucos que tenho. Abaixo está toda a discografia oficial, mais algumas coletâneas de B-sides, que disponibilizo pra que vocês possam desfrutar da mesma arte que eu. Basta vocês clicarem nas figuras correspondentes a cada disco.
Roman Candle (1994)

Elliott Smith (1995)

Either/Or (1996)

XO (1998)

Figure 8 (2000)

From a Basement on the Hill (2004)

New Moon (2007)

B-Sides
From a Basement on the Hill IIÀ vontade, amigos. Beijos e abraços!