
A Ordem Antinatural das Coisas
hoje tive um sonho e
era algo tão ruim...
você estava tão sem norte
e, ferida, procurava abrigo
eu, que tinha a morte na alma,
não pude oferecer
o que há com o mundo?
o que há com todos nós?
mesmo o poeta sem muletas
fica perplexo
e não para de perguntar-se
todos nós sabemos
e calamos:
há uma brutalidade sem rosto no mundo
antes poderíamos falar de
a ou b ou x
mas as letras já fazem falta
o abacaxi não tem gosto
ou todas elas estão aí
em excesso
mas não temos tempo,
não temos tempo
construir uma verdade a partir
da experiência que se vive,
seguir um rumo escolhido
parece luxo
e há a tentação do apoio fácil
segue-se, cega-se
há tanta gente oferecendo no caminho...
mas você sabe,
os mesmos que lhe darão carinho
irão jogar pedras
se algo sair errado
não param para se perguntar
mas perguntar o quê?
já não sei o que perguntar...
hoje é preciso haver medo
ou enlouquecer
de qualquer modo
estar no mundo é um ato de perversão
porque você sabe, terá de ceder a algo
ceder a algo...
e escrevem por aí sem pontuação
ou com pontuação deficiente
mas qual é mesmo
o valor da gramática, da sintaxe,
do estilo?
há mais dor no mundo do que se pode suportar
mas agora mesmo há uma mão estendida
pronta a sufocar no segundo seguinte
- sei, repetição da ideia, ainda que as palavras mudem -
mesmo quem sabe já não grita...
e quem grita tem amarras
como se sai de tal labirinto?
- não, esta poesia não tem fim, embora formalmente este seja um.
Conto com que tenham saboreado. Sem moderação. Beijos e abraços!
NA MINHA VITROLA: COIFFEUR - Dasein.
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