terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A ordem antinatural das coisas

Produto de um sonho ruim, esta poesia. Produto de uma realidade cada vez menos real, esta poesia. Um pequeno pedaço de pesadelo que agora ofereço a vocês.


A Ordem Antinatural das Coisas


hoje tive um sonho e
era algo tão ruim...
você estava tão sem norte
e, ferida, procurava abrigo

eu, que tinha a morte na alma,
não pude oferecer

o que há com o mundo?
o que há com todos nós?

mesmo o poeta sem muletas
fica perplexo
e não para de perguntar-se

todos nós sabemos
e calamos:
há uma brutalidade sem rosto no mundo

antes poderíamos falar de
a ou b ou x
mas as letras já fazem falta

o abacaxi não tem gosto

ou todas elas estão aí
em excesso
mas não temos tempo,
não temos tempo

construir uma verdade a partir
da experiência que se vive,
seguir um rumo escolhido
parece luxo
e há a tentação do apoio fácil

segue-se, cega-se

há tanta gente oferecendo no caminho...


mas você sabe,
os mesmos que lhe darão carinho
irão jogar pedras
se algo sair errado

não param para se perguntar
mas perguntar o quê?
já não sei o que perguntar...

hoje é preciso haver medo
ou enlouquecer

de qualquer modo
estar no mundo é um ato de perversão
porque você sabe, terá de ceder a algo
ceder a algo...

e escrevem por aí sem pontuação
ou com pontuação deficiente

mas qual é mesmo
o valor da gramática, da sintaxe,
do estilo?

há mais dor no mundo do que se pode suportar
mas agora mesmo há uma mão estendida

pronta a sufocar no segundo seguinte

- sei, repetição da ideia, ainda que as palavras mudem -

mesmo quem sabe já não grita...
e quem grita tem amarras

como se sai de tal labirinto?

- não, esta poesia não tem fim, embora formalmente este seja um.

Conto com que tenham saboreado. Sem moderação. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: COIFFEUR - Dasein.

Nenhum comentário: