sábado, 7 de agosto de 2010

Alva Iracema

Uma fragata que afunda, um dia com céu mais limpo, uma dose de conhaque, o porco gordo que vomita dinheiro alheio, mil noites de solidão e TV ligada.

Tudo isso e muito mais é tema de poesias. Mas nada foi tão falado em poesia, como o amor. Mesmo que seja um amor torto, de meleca no nariz e unhas encravadas.

Pois é. Hoje, pessoas, entrego-lhes um poema de amor. Um entre tantos. Um.


Alva Iracema

Houve um poeta na noite,
andando borracho pelas calçadas,
ziguezagueante e
não com muito destino,
apenas nevoeiro demasiado,
tropeçando em pedras nas vias.
Nada havia à sua frente
que o pudesse inspirar.

Vazia, então, era a poesia.

Com suas folhas em branco
a se perder a conta.

Todas as garrafas por ele esvaziadas
registravam sua história de nadas e nadas.
Miserável, ele observava
o nada que era existir.

O que havia de dormido em si
era algo calado que ele esperava
que talvez ainda emergisse.
Mas não, já não esperava
com todo ardor.

Até que num dia desses,
um desses dias de pouca ou nenhuma esperança –,
ou nenhuma ou pouca dor –
uma voz o chamou.
E ele a ouviu.

“Diabos, era uma voz sedutora.” – disse ele,
rendendo-se ao magnetismo.
Desfez-se do estado de torpor.

Alguma coisa ali se acendera.

Era Vênus quem portava aquele litro
e vinha em sua direção.
Um trago de paixão insana...
e o poeta enxergava, enfim, sua pequena.

Tempestade e ímpeto.
Ele irá ao seu encontro.

Atirou rua abaixo suas defesas
e gritou que ainda havia amor.
Passou a haver.
Feliz fatualidade da vida.

Shelley e os outros caras estavam, em parte, certos.

De todos os poetas largados do mundo –
e trata-se de um numeroso grupo –,
agora é o mais feliz
e, também, às vezes, atormentado
quando a visão lhe falta.
Sobretudo quando lhe falta o toque.

Jamais desapareça, ser tão venerado.
Nunca mais torne o poeta
a sentir desesperança.
Brota a flor cerca o esterco dos animais.
Ainda assim, a mais sublime
figura de amor que já não esperava.

Agora existe.

Guarda em teu seio a mensagem.
Com ímpeto e sob a tempestade, o poeta
vencerá concreto e distância,
atravessará rios e montanhas.

Ele irá ao seu encontro, alva Iracema.

Juntos, então, serão felizes.
Haverá sorrisos de parte a parte.
Olhosnosolhos,
carnenacarne.
Nesta terra.

Que lhes inspire, pessoal. Beijos e abraços!

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