sexta-feira, 11 de março de 2005

Caso Irrelevante

Olá, amigos viajantes! Tenho um novo conto para mostrar a vocês. Aqui está:

Caso Irrelevante

Uma noite qualquer.

Fazia calor, um calor que insistia em ignorar as gotas de chuva que se desfaziam na janela fechada. “Que tédio”, pensou ele. Não gostava de ficar esperando. Sobretudo telefonemas. Ela nunca ligava, mas desta vez prometera. “Deve ser a chuva”, seus pensamentos justificavam a falta da pretendente. O violão ali parado, encostado na parede, poderia expressar tanta coisa, mas não. Ele apenas pensava e esperava. Enquanto isso, Henrique morria mais um pouco.

Madrugada.

Patrícia era noite e delírio. As luzes piscavam, despiscavam e novamente piscavam, somente para revelar e iludir. Ela suava na pista. Nada tão importante. As batidas simuladas eletronicamente eram as substitutas das batidas de seu músculo. De repente, lembrou-se. Mas, ah, já era tarde. E ele parecia a ela tão desprotegido, tão necessitado de um vínculo. Isto ela não queria. Não era importante. Bastava-lhe curtir um bocado. As baladas eram sua casa, as bebidas e os comprimidos eram os estimulantes do seu encanto desencantado. Poderia ser qualquer um a estar com ela. Não era importante, de qualquer maneira.

O dia surgiu com cara de mau humor para o abandonado Henrique. Deveria ter feito alguma coisa. Não ficar parado, esperando. Fustigava-se nestes momentos. Se ao menos ele conseguisse pegar o violão... no entanto, temia. A revelação da frustração pelo abandono traria consigo a frustração maior e pura de existir, então ele evitava o contato com o instrumento. Era melhor assim, fazer de conta. No outro lado da cidade, Patrícia acordava no quarto de um hotelzinho fuleiro onde pelo chão rastejavam baratas. Estranhou os dreadlocks que jaziam ao seu lado e ignorou o corpo masculino e musculoso. “Putz... é foda!”, balbuciou num estado meio de sonolência que ela queria manter. Mas ela estava em pé, com as pernas bambas e sentindo-se muito boba e feliz, mesmo que não soubesse. Vestiu-se e saiu, deixando a conta paga no balcão do hotel.

O inferno era o sol forte de um domingo sem paixão, quando óculos escuros quase não bastavam e não havia ninguém para dizer “te amo”. E todos sabem disso. Todos passam por isso uma vez na vida, ao menos. Uns se esforçam para evitar a situação, outros parecem viver sem dar a menor importância, e há os terceiros, que querem manter mesmo as coisas neste estado. Patrícia era dessa espécie. Que fazer? Henrique não foi jogar vôlei com os amigos. Dispensou-os todos e ficou emburrado tentando ler um livro. Sua mãe estranhou, os irmãos mais novos tiraram onda e nada mais aconteceu neste dia.

Patrícia ligou, mais à noite. Um pedido de desculpas, algo que não importava, de fato. Ele não atendeu, nem poderia. Havia rompido o pulso esquerdo com uma faca de cozinha. Durante boas horas, o sangue escorreu pelo chão de seu quarto sem que ninguém percebesse.

Mas nada, nada importava a estes jovens.


Bom, é isso, bem curtinho. Divertiram-se? Tá, confesso que não soa bem agradável... mas prossigam, prossigam. Sempre haverá mais a ver por aqui!!! Beijos e abraços!!! Até breve!!!

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