quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

O que Pode Ser Dito sobre Alguém Estático num Canto?

Breve discurso, amigos viajantes.

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O que Pode Ser Dito sobre

Alguém Estático num Canto?

Sabe qual é o seu problema?

Você nunca se adapta, nunca está em algum momento. Ausência. É isso. Você é uma ausência. Nunca chega a ser muito mais que isso, no tempo necessário.

Então se submete a algo. Um algo que não poderia, não deveria ser maior que você. Tudo isso é um grande engano. Por isso, estranha-se com o tempo, mas não só com este – há também problemas com o espaço. Você é sempre fora de tempo e espaço. Mas por quê?

Tem uma família, mas não faz parte dela. É tudo muito entediante, não? As velhas discussões sobre razões individuais. As preocupações com as compras de supermercado, feira, loja de um real, sementes para os pássaros, leite, café, bananas e batatas. O vizinho que estacionou o carro na frente de casa, sobre a guia. Os cães que defecam na sua porta. O jogo ruim de futebol. Pouco ou nada lhe interessa. Então sai.

Sai para o trabalho, sai para encontrar os amigos, alienados como você. Estes mesmos que você adora. No entanto, pouco demonstra. E quando demonstra, é vazio, por que algo lhe falta, outro algo lhe cansa. Nunca, nunca suficiente. O olhar é sem significado, aí. Um olhar que nada diz não merece ser chamado de olhar. E há sempre as pessoas nas ruas. Você desvia olhares e corpo, para não manter contato. Tudo isso é medo, tão somente medo?

Quando está na rua, aonde quer chegar? Há um lugar específico onde quer realmente estar? Não, você não se encontra. Um estranho entre os estranhos. Um estranho entre os velhos conhecidos e amigos. Então, acende um cigarro para espantar o assombro. Em lugar de vida, você tem o susto. Em lugar de amor, você tem o horror.

Quantas vezes você já foi rei e entregou o trono? Quantas vezes foi mera face entre outras faces anônimas? E você, então, desaparecia, justamente quando deveria sobressair-se. Mas por ser tão assim, as pessoas perdem o interesse assim que passa o primeiro segundo. Isso quando algum interesse é despertado. Não, você não tem face. Ou a sua é a da morte. Em vida.

Seu isolamento é inaceitável, embora nada acrescente de positivo ou o contrário a tudo aquilo que se esperava de qualquer pessoa. Perturba. E, por isso, é preciso fingir que você não existe para que aqueles que estão ao seu lado possam viver em paz. Seu isolamento implica guerra, e isso nunca é desejado. Já há guerra demais no cotidiano dos lares, empresas, coletivos, bares, danceterias e escritórios do governo.

Esta não é uma condenação, porque você já se havia condenado no momento de cada escolha feita. Se é que houve escolha, num nível consciente.

Você é maçante. O fim. Estas palavras jamais deveriam existir. São inúteis para você ou para qualquer outro. Seu problema não é o tempo, mais. É exatamente o de não existir conosco, você que está aquém do tempo e do espaço.

Individualistas não são bem-vindos. Combinemos o seguinte: fique no seu mundo. Nós até faremos um canto interessante para você e esses outros. Mas, caso você invada o nosso espaço, vamos massacrá-lo.


Bom, é isso, amigos. Depois de lerem, opinem. Beijos e abraços.

Cocoon
. Ilustração da pintora australiana Indra Geidans.
Em
http://www.artplace.com.au/exhibsprevious/Facade-Geidans.html.


NA MINHA VITROLA: STEPHEN MALKMUS & THE JICKS - Animal Midnight > Dark Wave.

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