terça-feira, 19 de setembro de 2006

Contrafluxo


A vida é às vezes um tanto esquisita. Tanto para fazer, tanto para conquistar e, ao mesmo tempo, estar aqui, entre quatro paredes tentando representar um papel. Há aqueles dias em que você é astro. Ou mero figurante. Mas basta? Satisfeito, num dia. Noutro, a coisa toda, esse monstro chamado vazio, chega e chega com força, devastando poses e palcos. Então nada importa.

Bom, o que não tem a ver com o que eu dizia no parágrafo acima é o fato de eu ter encontrado um texto perdido na minha carteira, um texto de balcão de bar, mas que, se urdido em outro lugar, ainda assim creio que teria nascido com alguma alma. Comprovem:

Contrafluxo

um brinde ao que pode ser transformado:
transtornos tornados deleite
dores agora sorrisos.

drama nem sempre é drama
nem comédia sempre há.

o outro, ao sorver o líquido áureo transparente
já não é aquele,
o que se indigna com bugs de máquinas
maus humores de chefes
e instantes em que vida não é.

atirados são os restos de sofrimento nas latas de lixo
das metrópoles enquanto aquele segue o contrafluxo
dos que vão para as casas, às seis e meia, às sete, às oito
e busca o consolo das roupas atiradas a esmo pelo quarto, na hora do amor.

a importância de os fios de cabelo se tornarem brancos não existe
perante a inevitabilidade da passagem da areia para a parte inferior da ampulheta...
é que há as limitações, e ele pensa a respeito, ainda que seja um pensamento
sobre um futuro que ainda não é,
que será, a não ser que se sobreponha um trágico incidente.

flutua, devaneia e esquece que o básico é essencial:
poucos fazem e muitos dizem.
não há mistério nas melhores horas
nem labirinto ou minotauro.
há um tesouro no profundo do ser, oculto e acessível, ao mesmo instante
(acessível a ponto de assustar. mas não, não é mistério).

a despeito de todas as coisas, um simplesmente deseja.
sim, isto basta!

Bastou? Vocês se contentam com pouco, hein? (ou... vocês estão sempre reclamando, hein?) Eh eh eh... brincadeiras à parte, com o decorrer dos dias, haverá mais. Beijos e abraços, amigos! Até breve!

NA MINHA VITROLA: BOB DYLAN - Spirit on the Water.

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