domingo, 23 de setembro de 2007

Sim, podemos bailar


Já faz muito tempo.

Eu já escutava rock feito por bandas latino-americanas e gostava. Minhas primeiras referências foram os argentinos Fito Páez e Charly García, além dos chilenos de Los Jaivas. Tudo meio por acaso, mais ou menos há dez anos, quando eu ainda não tinha noção do mundo virtual e das facilidades do mp3.

Não entendia o porquê de haver tão pouco interesse da maioria dos meus amigos em relação ao rock cantado em castelhano. Ou pior, entendia...

Sei bem, não havia espaço em mídia; há as rusguinhas infantilóides em relação aos hermanos, sobretudo os argentinos; o próprio fato de estarmos no único país do continente onde se fala o português... enfim, por conta disto e doutras coisas, há um grande vácuo entre as culturas rocker de Brasil e da América Latina.

Mas... sempre quis que isto mudasse. E então aparecem dois caras com uma idéia excepcional, de trazer um pouco de Latinoamérica para os nossos ouvidos, nossos olhos, nossas vidas. Eles são Rodrigo Maceira, este velho conhecido de papos culturais na agência em que trabalhamos, que também é escritor, e Fernando Paiva, guitarrista e compositor da banda carioca Luisa Mandou um Beijo.

Ambos já se conheciam a algum tempo e em algum momento, encontraram-se em Barcelona, onde começaram a discutir possibilidades de fazer alguma coisa acontecer. Nasceu Si No Puedo Bailar, No Es Mi Revolución, que é um coletivo de pessoas com boas idéias e vontade de realizá-las. A princípio, a revolução está centrada em música, mas eles pretendem estender seus domínios às áreas de literatura, cinema, artes plásticas e, também, desenho gráfico. Para isto, contam com a colaboração de gente talentosa do Brasil, da América Latina e também da Europa.

O primeiro fruto de Si No... é a coletânea Porque Este Océano Es el Tuyo, Es el Mío, cujo nome é retirado da poesia de Neruda, Oda a las Cosas, e que reúne 17 bandas indie e contemporâneas de Chile, Peru, Argentina, Brasil, México, Venezuela, Uruguai e Colômbia. E a experiência vale, mas vale muito a pena. Até pelo projeto gráfico riquíssimo, como vocês podem conferir, levado a cabo pelas mãos do ilustrador e também camarada de trabalho Gustavo Gialuca.


Abaixo segue uma breve descrição de cada faixa do álbum. Regozijem-se!

El Sueño de la Casa Propia - Faramalla Experimental e inusitada mescla de banjo e barulhinhos eletrônicos, Faramalla é a marca do chileno José Cerda e seu projeto El Sueño de la Casa Propia.

Javiera Mena - Casan A viagem prossegue suavemente com a também chilena Javiera Mena e a doce Casan.

Amelia - Adiós Originário do Uruguai, o quarteto aposta, nesta faixa, em indie rock anos 90 com sotaque castelhano. Em seu disco Pocos Nombres para Demasiadas Personas, diversos cantantes convidados. Em Adiós há Francisco Coelho (Danteinferno e Pompas).

Luisa Mandou um Beijo - Anselmo Ótima melodia, contagiante, a primeira representante tupiniquim da coletânea comparece com Anselmo, que mescla Glauber Rocha e rotina de classe média.

Lissa - Mi Amigo Reno Quando uma Grã-Bretanha indie floresce no México? Quando uma banda como Lissa soa como Radiohead em The Bends.

RadioGrad - Modelh Claro que para alguém completamente leigo é surpreendente que da Colômbia tenha surgido uma banda com influências como Radiohead ou Explosions in the Sky. Pois assim é o RadioGrad, que comparece aqui com Modelh.

Gepe - Namás O compositor chileno Gepe se apresenta com a faixa Namás. Um tanto folk, um tanto andina. É pra descobrir mais, assim como acontece com todas essas bandas.

Él Mató a un Policía Motorizado - Navidad en los Santos Talvez a mais argentina das bandas relacionadas, com suas melodias de voz parecidas, às vezes, aos hinos que os torcedores de Boca ou River cantam nos jogos de seus times. Uma das minhas prediletas a algum tempo.

Ondo - Personal A mais Marc Almond/Depeche Mode/New Order do disco. Não que o argentino Sebastián Carreras quisesse que seu novo projeto soasse como uma banda ou outra. Há uma definição melhor para seu som: pop de qualidade.

Modular - Encapsulados Os velhos temas futurísticos dos anos 60 e 70 estão presentes aqui, renascidos nesta faixa do duo argentino Modular. Remeteu-me a Stereolab, desde a primeira audição. Psicodelia pura é pouco pra definir.

Filme - Naufrágio Mais psicodelia, muitas passagens bastante diferentes entre si. Um quê de Tropicália e a sensação de que os anos 60/70 jamais acabaram. É isso que esta banda brasileira oferece.

Coiffeur - Que Mala Suerte! Violões de folk e voz anasalada lembrando um pouco Morrissey. Este é o argentino Guillermo Alonso, o cara por trás do Coiffeur.

Hacia Dos Veranos - Despertar Um pouco de sonho, um pouco de despertar para algo. Um dos temas - instrumental - do primeiro CD, De los Valles y Volcanes, recém-lançado.

Resplandor - Oeste Puro shoegazing vindo do Peru, de onde jamais se imaginava ouvir algo assim. Grata surpresa, sem sombra de dúvida.

Apanhador Só - Pouco Importa O Apanhador Só não parece uma banda do Rio Grande do Sul, mas é. Mais? A conferir.

Telegrama - Deja de Hablar Há urgência na música do trio venezuelano Telegrama, Deja de Hablar. Mas "el tiempo pasa y todo sigue igual". Não que seja culpa deles.

Bazar Pamplona - O Rei Não Sabe Brincar Deboche psicodélico para encerrar. E encerrar em grande estilo. A paulistana Bazar Pamplona mostra que o rei não sabe mesmo brincar.

O CD está sendo vendido a um preço bem acessível - R$ 10,00 - e pode ser encomendado através do e-mail sinopuedobailar@gmail.com ou do site http://www.mmrecords.com.br, além de estar a venda na Sensorial Discos, em São Paulo - R. 24 de Maio, 116 - Loja 7 (rua alta), próximo do metrô República, Tel.: (11) 3333-1914.


Espero que a revolução realmente cresça e aconteça e que, de alguma forma, direta ou indiretamene, possa colaborar em todo este processo. Porque se não pudermos bailar, jamais será nossa revolução.

Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: LOS JAIVAS - Mira Niñita.

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