terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A vida secreta das trilhas sonoras

Fim de novembro, uma dessas noites sem sono, estou na minha cama, a do quarto de vídeo, e coloco o disquinho no aparelho, que está com algum problema, por isso vejo o filme em preto e branco, o que pode ser um ultraje para alguns. Mas vejo ainda assim. O filme é A Vida Secreta das Palavras, da catalã Isabel Coixet.

Vejo e ouço. O que não sabia é eu ouviria aquela canção, Hope There's Someone, de Antony and the Johnsons, embalando a solidão de Sarah Polley, Tim Robbins e dos outros trabalhadores daquela plataforma de petróleo. E é linda, linda para aquele momento do filme, para o meu momento também. Então me vejo nestes últimos dias devorando como nunca devorara antes I'm a Bird Now, de 2005, o CD que contém a musiquinha em questão.

O mais recente registro que ouvi de Antony, que não é Johnson, mas Hegarty, é sua participação no novo da Björk, Volta, em que fazem dueto em duas canções: The Dull Flame of Desire e My Juvenile. Duetos não são novidades para ela. Por exemplo, há a inesquecível cena da linha de trem em Dançando no Escuro, filme de Lars von Trier, embalada pela bela-e-triste I've Seen It All. Thom Yorke, do Radiohead, foi o parceiro de Björk nesta ocasião.

Outro filme do polêmico diretor dinamarquês faz-nos voltar à categoria "filmes sobre pessoas que se acidentam em plataformas de petróleo". Este, mais antigo, de 96. É Ondas do Destino, marcado por belas canções dos anos 60/70, boa parte delas marcando cada "capítulo" do drama protagonizado por Emily Watson. Só do Elton John, há Love Lies Bleeding, Your Song e Goodbye Yellow Brick Road; há também Deep Purple, com Child in time; Jethro Tull, com Cross-Eyed Mary; Procol Harum, com A Whiter Shade of Pale; Leonard Cohen, com Suzanne... como se o filme por si só já não fosse bom o suficiente!

Também o filme "sobre morrer" de Denys Arcand, As Invasões Bárbaras, tem na trilha sonora um quê de vintage, e ali há L'Amitie, de Françoise Hardy, embalando a "morte do mundo" que é refletida num episódio sobre a decadência e conseqüente morte de um homem de meia-idade, personagem de um filme anterior do mesmo diretor, O Declínio do Império Americano.

Já em Vanilla Sky, de Cameron Crowe (refilmagem do espanhol Abre los Ojos), outro filme em que a morte tem grande relevância, somos premiados com Svefn-G-Englar, dos islandeses compatriotas de Björk, do Sigur Rós. Toda uma vida e todas as ilusões desta mesma vida rememoradas no momento do grande "atirar-se no vazio".

Se a mim parece que Penélope Cruz está horrenda no papel de interesse amoroso de Tom Cruise em Vanilla Sky (ela não me convence atuando em inglês...), em Volver, do laureado Pedro Almodóvar, está maravilhosa. Nesta celebração à vida e às mulheres fortes, Penélope está tão perfeita que aos incautos é capaz de passar despercebido que não é ela quem canta aquela pérola do cancioneiro latino, Volver (a música), mas sim a espanhola Estrella Morente.

Por sinal, Pedro e seu irmão Agustín, co-produziram A Vida Secreta das Palavras, assim como outro filme de Coixet, Minha Vida sem Mim. Volvimos al principio de todo. Hora de fechar. Temo ter embaralhado um tanto as suas cabeças, amigos. Mas também espero que tenham gostado deste embaralhamento de clipes, trailers e todas essas elações entre músicas e filmes. As possibilidades são infinitas e ainda me vieram outras músicas, outros filmes à cabeça. Por ora, o que temos aqui é o suficiente. E, claro, logo estarei pronto pra mais, seja o que for este mais.

Beijos e abraços!

Nenhum comentário: