sexta-feira, 20 de junho de 2008

A morte do artista

Esse sono que não vem...

Artista em Seu Estúdio, 1628, de Rembrandt.
A Morte do Artista

todo artista tem de morrer.
sem dó.

de van gogh a clarice. de elis a truffaut.

tem de ser cuspido na cara.
o crânio partido.
e um carinho pra aliviar a dor.

pra prosseguir.

um artista tem de sentir. ir ao fundo do poço.
ao inferno. ao céu.

ao léu caminhar com as próprias pernas.
sem muletas. sem beatriz nem beatas com seus chazinhos e bolachas.

todo artista tem de crer no absurdo.
e o absurdo é sua arte de criador.

escrever em sangue.
sem dourar a pílula. sem estragar a tela.

todo artista tem o direito e o dever
de viver num lugar feio.
tem de ter o receio da dona da pensão que cobra os atrasos.

tem de ser russo. mineiro. norueguês. malaio. da terra, qualquer terra
sem estar em algum lugar

um artista tem de pirar.
não bater ponto,
atracar em cada porto uma única vez
e se fazer notar onde passar.

tem de saber da guerra.
e explodir como bomba. a lembrança atômica.

pode ficar atônito quando uma criança chora,
mas não afônico para denunciar sua tragédia e a dos seus.

uma flor morre.
um artista deve morrer para seu público vez por outra.
às vezes com volta. e alguma revolta.

sem exceção.

que seja pisoteado o que for apadrinhado,
o que tiver as bençãos do estado.

fugir de onde o povo está, para depois voltar.

tem de viver com o coração na mão.
procurar a agulha no palheiro.
dormir na cama de pregos.

morrer, sempre. um pouco a cada dia
para sentir-se vivo.

Este sono que me assalta... beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: QUEEN - Innuendo.

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