domingo, 28 de maio de 2006

Essa Juventude Não É Mais a Mesma... (Não é Mesmo!)

Ora, leiam isto:


Jovens iranianos subvertem islã e aproximam ruptura

SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Teerã

Eles ouvem rock. Os conjuntos undergrounds O-Hum e 127, com CDs oficiais aprovados pela censura, e faixas alternativas, gravadas em shows proibidos feitos no subsolo de prédios velhos de Teerã e distribuídas pela internet. Também rap persa, em geral versões em farsi de sucessos de Eminem e 50 Cent. Ou viajam às vizinhas Dubai e Istambul para shows de Roger Walters, Ian Anderson e Mark Knopfler.

Eles usam drogas e bebem álcool. O drinque mais popular mistura a cerveja Delester Golden, a marca mais consumida do país, sem álcool como manda o islã, à vodca Absolut, entregue em casa por serviços ilegais de delivery que todo mundo sabe que existem. Fumam maconha, que chamam de "grass", grama em inglês, quando há mais velhos por perto, ou "alaf", grama em farsi, quando entre eles. Plantam a erva em vasos nos seus quartos, seguindo instruções que pegam de sites de cafés holandeses.

(Ópio, não. Ópio é para os mais simples ou para os mais velhos. Entre estes, os que ainda usam se reúnem em apartamentos nas quintas-feiras à noite, véspera do feriado, deitam-se em almofadas jogadas pelos tapetes em torno de um fogareiro, fumam e conversam. O papo de viciados em ópio, "pamanghali", virou gíria para "conversa furada".)

Eles fazem sexo. Depois de um longo processo, mas fazem. Conhecem as "dawff" (não há tradução, mas é gíria cujo equivalente em português seria "gatinhas") em chats na rede, marcam encontros num dos dois shoppings mais freqüentados, o Millad e o Golestan, e depois as convidam para comer algo nos cafés da rua Gandi. A noite pode acabar na casa de um amigo ou de pais mais liberais.

Antes, passeiam pelos shoppings, fazem compras em lojas de grifes verdadeiras como Puma e de marcas falsificadas como Gap. Convidam as "dawffs" para comer um pote de "zorat" (milho, servido em grãos com limão e ervas). Ostentam os curativos de operações plásticas para diminuir o nariz que fizeram em hospitais de luxo.

Majoritários

Num país em que a maioria da população nasceu no ano da Revolução Islâmica (1979) ou depois, os jovens caminham rapida e perigosamente para o que os mais antigos chamam de "ocidentalização" dos costumes. "Se continuarmos assim, logo faremos uma nova revolução para derrubar essa", diz à Folha Abolfazl M, 28, que faz compras pelo Golestan.

Um passeio pelas ruas da cidade freqüentadas pela juventude não-religiosa de Teerã, que é maioria (nas cidades pequenas, a proporção se inverte), mostra uma imagem diferente do país dos aiatolás.

Tradição e ruptura se misturam de uma forma que os locais já não percebem mais. Banafsheh Arap, 22, por exemplo. Ela pinta os cabelos, tira a sobrancelha, mas anda de "rousari", o véu obrigatório que cobre a cabeça. "Eu mesma me maquio, porque os salões de beleza são proibidos aqui", diz ela à Folha, estranhando a pergunta.

Turmas sobem e descem as escadas rolantes do Millad quando o muzak dá lugar ao "maghreb", a reza do pôr-do-sol, nos alto-falantes. Ninguém parece reparar. Na fachada do Golestan, um néon com a figura de uma mulher usando xador avisa: "A mulher coberta tem a beleza da pérola dentro da concha". Na porta, duas senhoras pagas pela polícia de costumes "aconselham" as meninas mais ousadas (com mantôs mais curtos ou "rousari" berrantes) a irem para a casa e voltarem "mais decentes".

São chamadas pelos freqüentadores, ironicamente, de "fatwa commando" - "fatwa" é um pronunciamento de um líder religioso sobre questões nas quais a jurisprudência islâmica não é clara. Dentro, no saguão principal, retratos dos dois líderes supremos, aiatolás Khomeini (1902-1989) e Khamenei, o atual, olham meninas de jeans de mãos dadas com rapazes que não são seus maridos.

"Não vejo problema nenhum nisso", afirma Behrwz Rezai, 23, vendedor que diz não se interessar por política. "Nós deixamos os outros em paz e só queremos que os outros nos deixem em paz." Ao seu lado, Damin Mikaeli, 22, desempregado, fã de heavy metal, concorda. "Não estamos fazendo nada de mais."
Ainda.


Seria Teerã um lugar para estar hoje? Ou devemos lamentar a ocidentalização do pessoal por ali? Não sei. Opinem. Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: FITO PÁEZ - Y Dale Alegría a Mi Corazón > Cadaver Exquisito > 11 y 6 > El Chico de la Tapa > Mariposa Tecknicolor > Circo Beat > Tus Regalos Deberían de Llegar > Por Siete Vidas (Cacería) > Tumbas de la Glória > Parte del Aire > Dar Es Dar > Tres Agujas.

2 comentários:

Rodrigo Maceira disse...

Difícil entender o fenômeno. Pode colocar anos e anos nesse processo.

Aquilo lá não era lamento, não. É ficção. Ficção ;) Você é que parecia um pouco inconformado numas linhas mais abaixo (ha!).

Abraço.

Pamela disse...

Olha só... Nem imaginava isso...
Baah,eles não querem as mesmas coisas que seus pais,né,fazer o que?! Imagina como vai ser isso quando esses jovens se transformem em professores,médicos,etc.
Acho que as antigas gerações não vão poder fazer muita coisa a respeito...

Andas escutando o Euforia,né?! Hehehe,discasso,mas tô de saco cheio dele... Já o Abre não tem como enjoar!