segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Poesias de dias hostis: Jesus e Barrabás / Comédia

Poesia de dias hostis. Dias estes cujo anseio de alguns é que se negue a arte. Mas deve-se resistir. Talvez não com a força que havia em outros tempos, mas prosseguindo. Porque é o que um sabe, o que ele é. Não renegar-se. Dizer sim à vida e seguir vivendo-a como deve ou sente que deve, fazendo o que faz melhor. Se é que ainda é o melhor, mas se não for, ao menos há a tentativa.

Bom, sei que o parágrafo acima é nebuloso à maioria. Por isso, o suficiente aqui é que leiam - gostem ou desgostem - e interajam. Sei que este blog tem sido lido. Mas opiniões, que é algo de bom, têm havido poucas. Respeito a timidez de uns e o pouco tempo de outros. Mas interajam.

E, por falar em pouco tempo, tenho muita coisa a postar aqui, mas há essa falta de tempo e, quando há este, há algum cansaço. Bom, seja como for, estou aqui, neste instante. E tenho algo a mostrar a vocês. Então, aí vai:


Jesus e Barrabás

Jesus e Barrabás são amigos de tempos atrás
juntos, atravessam oceanos e séculos e ruas vazias das madrugadas ébrias
nunca brigam por mulheres, pois ter ambos é melhor que nenhum e elas sabem muito bem

São irmãos, os dois, além do sangue
eles são e; jamais &
bebendo o vinho do Porto e o das esquinas mais sujas
e fazendo a música da vida e dos vagabundos mais doce que seca

Mas se às vezes não se falam, não se deve temer pelo pior,
é só porque ambos já sabem o que pensam um e outro
filosofia é uma risada com gosto
e dá gosto vê-los assim

O mundo, sim, já tentou criar escândalos entre eles
porém sabem muito bem o que fazer,
como o mundo deve ser desprezado às vezes

E, por favor, não se assustem, pois nenhum deles irá à cruz

Jesus e Barrabás conhecem o ritmo das gentes
e entre Tom e Tom vão debatendo e desconstruindo e refazendo zés e jobins
ao mesmo tempo que amam e desprezam carolinas e ritas

Noutros dias são os piazzolas e em outros mais são os hendrixes que escapam das caixas mais vadias
é dessa forma que são além das vaidades
saboreando a poesia que há nos ares

e não passam de dois vagabundos,
estes malditos encantados chamados Jesus e Barrabás.

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Comédia

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dentro dentro da mesma jaula ... genial e giratória jaula ... pequena para toda arrogância e ferocidade ... enorme para abarcar o mundo e as ardilosas verdades

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entre as feras há o medíocre que se enxerga como gênio ... mas isto não somos todos um pouco? ... perante o espelho ele se envaidece ... arruma o cabelo e afaga sua pretendida habilidade na forma de um sorriso repleto de certeza

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poderia ser um grande amante ou tecer sua rede de teorias conspiratórias ... mas os conspiradores não lhe dão crédito ... seu troféu é a dúvida ... as senhoras o rejeitam ... então carrega outro prêmio ... o grande incompreendido

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é uma honra pensar que não faz parte dos fatos ... está acima de cada um dos outros ... aquelas outras feras ... diferentes em suas verdades ... semelhantes em suas atitudes

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tem consciência ... ainda que insconsciente ... de que é a farsa ... como são os outros

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enquanto isto ... gira a jaula ... maravilha giratória que é ... a ilusão é a de que essas feras todas se engolem umas às outras ... tudo o que conseguem de fato é devorar-se com alguma azeda vaidade

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guarda esta imagem ... pois esta imagem já é outro inferno ... além de dante

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Dois textos, creio eu, bastantes distintos entre si. Espero apenas que seja do agrado, apesar de ambos terem seu germe ruim, aos olhos de muitos. Vamos ver o que acontece... eh eh eh!

Beijos e abraços!

NA MINHA VITROLA: THE FLAMING LIPS - Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1 > Do You Realize?

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