quarta-feira, 16 de maio de 2007

De braços abertos

E continuam os contos... este, com base em Humo, do Narcotango, projeto do argentino Carlos Libedinski.

De Braços Abertos

Ao longe vai a paisagem do lugar que me deixa. Aqui, este veículo estático.

Guardo a memória. Os pés desnudos na areia úmida, herança da chuva da outra noite. A paisagem se move. Nuvens se movem e preenchem o horizonte, que já não existe, de verdade.

As ondas do mar lentamente saudavam quem estava ali. (Não) Era eu. A figura sentada no banco da pequena praça que antecedia a praia. (Não) Sou eu. Sentado no banco deste automóvel. À minha frente o volante que me leva ao destino que não miro.

Perco-me. Na memória e no momento.

Era o ser em crise. O contraste com a quietude da praia quase vazia. Sim, havia outros, poucos outros. Talvez se buscassem. Esta crise, eu a recebia de braços abertos. Era o necessário para mover-me até o lance de dados seguinte.

Perco-me outra vez. Na mão esquerda, de tanto não ser, o cigarro se apagava. Memória... ela se esvai. Falha, também me deixa.

Só preciso prestar atenção à estrada, agora.

Beijos e abraços, pessoal!

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