terça-feira, 17 de julho de 2007

Consumido

Um conto infernal, amigos... um conto infernal! Mas tanto que nem faz parte da recente série de contos. Confiram!


Consumido

Insano. Era assim que tinha de ser naquele dia.

Não à frustração de um emprego que não era. Não ao fato do combinado com os amigos não ter sido. A imagem de Pedro era cruciante a qualquer um que o visse.

Desesperado, vagava pela noite, abrindo as portas dos quartos de hotéis e expondo as intimidades dos amantes. Vagava pela noite, revelando inutilmente a hipocrisia das largas avenidas, escuras e vazias. E inutilmente, porque jamais...

Nunca o espaço exato onde despejar o corpo incansado, impensável.

Então, passa a noite. Volta ao bairro. Pode mais, pede mais. Um último fôlego, Pedro. Um último fôlego...

Não vê quem o vê. Aqueles que se alimentarão da sua loucura. Expectativas são criadas, planos arquitetados. As pedras rolarão todo o tempo. Não se importa, o Pedro, porque não desconfia. A única coisa possível a partir disso é a implosão.

Hoje a gente ganha em cima do otário.

Bar após outro, insano ao cansaço, ao inferno. Foram as garrafas, o bilhar, as palavras, o delírio. Tudo falseava sob o signo da mentira construída. Ou a única verdade era a fraude. Quando veio o golpe que separou sua cabeça do resto do corpo, nem percebeu. E continuou rindo, como o palhaço, e chorando de rir, sem perceber que a tragédia era o que lhe sobrara. O tempo consumido até que...

Deu-se conta! Tarde demais. Os amigos não existiam. Os inimigos tripudiavam. Os desconhecidos apontavam o dedo repugnando o espetáculo, que era ele. Sim... ele, o pesadelo consumido até a última possibilidade.

Fez a última das coisas que poderiam ser feitas: juntou o que sobrara do seu nada e foi à casa dormir. Até o próximo grito.

Abraços e beijos, pessoal! Até a próxima, quando um nome tradicional de nossa literatura e teatro terá espaço graças a uma situação que envolve o sobrenome deste que vos fala. :-)

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