Um dia de céu limpo, uma dose de conhaque, o porco engravatado que rumina dinheiro alheio, as noites solitárias, as crianças fazendo algazarra, amores possíveis e impossíveis. Tudo o que há sob o sol (e além do sol) é a matéria da poesia.
Este blog é um livro inconcluso com páginas abertas para que você encontre textos escritos com verdade, sentimento e, principalmente, com ALMA.
Uma viagem que nunca termina. Por Alessandro de Paula.
Contatos em palavratomica@gmail.com
Vocês já tiveram medo. É o limiar entre o atirar-se ou o voltar atrás. Entre o ser e anular-se. Eu já tive medo e muitas vezes este amigo/inimigo íntimo me visita. Se há algo a matar, este algo é o medo.
E hoje apresento a vocês a primeira parte de minha trilogia de breves poesias sobre o tema.
Suas Raízes
você precisa
______precisa
________ter os pés
______________no chão
encara seu medo!
a montanha-russa...
____________- ok, vamos!
_____a altura... faz tremer...
_________________________agora você pode morrer feliz...
_________________e livre!
Sem medo de seguir em frente, nos próximos dias, a segunda parte. Beijos e abraços, pessoal!
Enfim... quanto tempo? Quanto tempo passou desde a postagem de um último texto meu? Eu já sentia falta. E vocês?
Mais de um mês... espero, ao menos, que o conto do Nelson Rodrigues postado aqui em pedacinhos - bem ao gosto de Jack the Ripper - tenha sido algo mais que interessante que minha viagem ao âmago das idéias que escapam (nome bobinho para substituir o já manjado termo "crise criativa").
Bom, agora estou aqui, com minhas próprias palavras. As meninas podem cair aos meus pés e os meninos podem pensar "quando crescer eu quero ser igual a ele". Enquanto lêem, aconselho vocês a ouvirem um bom Pink Floyd, que estava na minha cabeça e que influiu quase diretamente na composição deste conto.
Pronto! Já demonstrei minha alegria quase pueril. Agora vamos lá:
Nietzsche, Schopenhauer, Sistemas, a Imprensa Vampírica e Sair pra Ver o Sol
Os temas da conversa, da manhã, de algumas vidas.
Dois velhos jovens e letrados amigos conversam no Metrô. Já conformados com o fato de que nada vai mudar. Conformados com a natureza. A humana.
Um capta idéias para um futuro texto. Este. Já não é mais futuro, então.
Eles provocam. Eles sabem.
Não muito distante, uma chiquita hermosa fita um, fita outro. Sol forte de verão em pleno inverno. Eles devolvem com discrição o fitar, apesar que um fixa-se mais. Nenhuma palavra sobre, mas também todas as palavras são pra eles. Pra ela – um pouco.
Talvez uma estudante de História ou Serviço Social. Ou uma consumidora de programas de TV para a massa embrutecida. Ou tudo ao mesmo tempo num pacote aprazível aos olhos.
Despercebem ou não querem perceber o senhor que se põe ao lado. Ele ouve e fita também. Sol repleto de verão no murcho inverno, patriótico inverno. Porque sabe que aquele povo é feito pelo e para o sol. Um deles, um dos velhos jovens e letrados amigos, desce.
O que fica pergunta ao senhor, finalmente desfingindo: “Quer sentar-se?” Diz-que-não. Está vivo. Isto é para quem trabalha. Atravessa a cidade pra ver o neto. O universo contraído fica entre Itaquera e Aclimação. Duas solidões já se juntarão e serão nenhuma. Está vivo. Chega sua estação.
Sai pra ver o sol.
Espero que tenham gostado, porque eu gostei ao menos um pouco. Com o tempo eu posso gostar mais ou esquecer este texto. Afinal, é o tempo que rege tudo - até os gostos.
Hoje conheceremos o destino de nossos personagens. Ai ai...
VI - O Plural: A Prova
Segundo o De Paula, Ada encontrava-se com o amante três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas, num edifício de quatro pavimentos. Era uma terça-feira e Quintanilha teve que esperar ainda 24 horas. Advertira, porém, o miserável: “Não adianta fugir, porque eu te matarei ainda que seja no inferno!”
O canalha quis saber: “E se eu provar? Não farás nada?” Jurou: “Nada!”
Ficou assim combinado. Na tarde seguinte, do interior de um táxi, e na companhia do abjeto De Paula, Quintanilha viu a esposa descer de outro táxi, com um homem, e entrar no edifício. De Paula vira-se para ele numa euforia hedionda: “E agora? Estou livre?” Quintanilha nega:
- Ainda não. Tu disseste que minha mulher tem amantes. Por enquanto, eu conheço um. Quero os outros.
De Paula tem um esgar de choro:
- Mas é só um! Só tem esse! Só tem esse amante!
Rápido, Quintanilha o abotoa:
- Se tem um, apenas um, por que disseste que minha mulher tem amantes? O que eu não te perdôo é o plural. Vais morrer por causa desse plural!
Ali mesmo, deu-lhe dois tiros.
Fim
Não me culpem de nada, hein? A culpa toda é do Nelson Rodrigues... eh eh eh!
E, em breve, a volta dos meus contos inspirados em músicas. Beijos e abraços, amigos!
NA MINHA VITROLA: JUANA MOLINA - No Seas Antipática.
Apresentando o primeiro e único De Paula rodrigueano:
V- O Plural
Quintanilha não conseguiu dormir nessa noite. Pela manhã, saiu de casa normalmente, depois de beijar a mulher na boca e de adverti-la: “Hoje, tenho que resolver uma parada duríssima.” Foi só. Ela, curiosa, ainda perguntou: “Qual?” Quintanilha brincou: “Depois eu conto!” Vinte e poucos minutos depois, estava no escritório do De Paula. Sóbrio e sucinto, declarou o seguinte: “Eu soube que você anda falando mal de minha mulher.” Lívido, o outro gaguejou: “Eu?” E Quintanilha, quase cordial:
- Perfeitamente. Você, sim. E de duas uma: ou você prova o que diz ou eu o mato como se mata um cão danado. Escolha.
De Paula balbucia, apavorado:
- Provarei.
Continua
Será que ele vai provar mesmo? Será que Ada é infiel? E terá De Paula o crânio estraçalhado por Quintanilha?
Mas... e se tudo foi uma armação para prejudicar o De Paula? Pobre coitado... será?
Estas e outras questões serão respondidas no próximo episódio de O Plural - o episódio definitivo! Aguardem e verão!
Beijos e abraços, pessoal!
NA MINHA VITROLA: BLACK REBEL MOTORCYCLE CLUB - Cold Wind.
Bom, já que a vida deve continuar... aí vamos nós, no ritmo do De Paula, caluniador de mulheres... eh eh eh!
Mas... será calúnia mesmo?
IV - O Plural: Ódio
Leon deixa-se cair numa cadeira:
- Não liga, dá o desprezo!
Leon passou, lá, umas duas horas argumentando. Vendo o estado do amigo, já achava desaconselhável e imprudente o simples desagravo do chicote. Insistia: “Todo mundo sabe que o De Paula é um mentiroso, um débil mental, capaz de caluniar a própria mãe.” Materialmente enfermo, Quintanilha já não reagia mais, ouvia, só, de olhos injetados, a alma destruída. Leon, no remorso de ter falado, de ter criado a situação, continuou:
- Basta cortar relações, negar-lhe o cumprimento. O tiro é um golpe errado. É uma solução heróica, que a besta do De Paula não merece! E agora? Vais fazer o quê?
Balançou a cabeça:
- Não sei. Estou incapaz de pensar, de raciocinar. Amanhã, fala comigo, sim?
Leon saiu, afinal. Praguejava interiormente. “Sou um imbecil completo! Que mania besta de dar palpites na vida dos outros.” Aflito, tratou de procurar, por toda a cidade, o De Paula. Mas em vão. Acabou desistindo, deixando para o dia seguinte.
Continua
Falta pouco, pessoal. Falta pouco. Beijos e abraços!
NA MINHA VITROLA: WE ARE SCIENTISTS - This Scene Is Dead.