
Cotidiana
Hoje o poeta parou e
fez de escritório
a mesa do boteco.
Ouvia ecos de sua poesia
cotidiana
e os punha no papel,
entre as gentes que passavam,
um gole de cerveja e
um trago no cigarro.
Havia uma mulher altiva
conduzida por seu pequeno cão e
isso o agradou
e o assustou.
Não era a primeira vez que alguém vê algo assim.
Afinal, todas as coisas já foram vistas.
Era sua Copacabana sem mar e
os carros, poucos - era início de ano -
rodavam sem pressa
nem Consolação.
O vento semifrio foi emoção,
pois nem sempre se dava ao luxo,
quando todo o demais - cobrança, compromisso, faça-a-social -
era lixo.
Perdoe os chistes bobos e os jogos pobres de palavras torpes do poeta.
É tão somente seu retorno,
sua tentativa de retorno
ao estado ideal.
É possível que exista um? Deveria perguntar-se.
O mundo real não é sua morada.
Ou sente que habita o sonho. Incorporou-o.
Meu Deus, algum deus, dê a ele realidade!
Perdeu-se em seu lar.
Entre livros não lidos,
objetos demodèe de tortura,
coelhos mortos sem orelhas e
assustadores palhaços de pelúcia.
Entre palavras e atitudes em desuso.
Reencontrou-se na rua,
num dia que não era feriado,
mas era como se fosse.
O mundo não para, não vê o poeta.
Por que deveria?
Ele é grato, porque não vêem
o distúrbio em seu rosto.
Enquanto dois policiais
se encaminham ao balcão,
vê a moça atraente que passa. Chama-a,
quase em silêncio.
Ela se vai e quase não o enxerga.
Então cumprimenta um dos policiais.
- Mais uma cerveja?, pergunta o garçom
que chega.
- Sim.
E palavras.
Beijos e abraços, pessoal!
NA MINHA VITROLA: THE ROLLING STONES - I'm Free.
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