domingo, 14 de agosto de 2005

Neve Névoa Nada

Novo conto para seu deleite, amigos viajantes. Apenas espero que não detestem. Eh eh eh!!

Neve Névoa Nada

Recordação enevoada daquele colo onde teria depositado a cabeça se.

Tudo convergia para um fim de sentido, um vácuo onde nem a imaginação cabe.

Eram anos em que a presença se fazia ausente e nunca mais, nunca mais. Não foi o corvo pousado no umbral daquela casa o responsável pela expressão. Apenas as coisas eram. E não. Não havia aquela voz tampouco a própria. Preparava-se para ir trabalhar.

Já na rua. Alguém muito irritante canta música de qualidade duvidosa enquanto o cigarro queima entre dedos e/ou lábios. Entra no transporte e vê alguém que conhece mas não existe palavra. Muito, muito dentro de si mesmo e a pessoa também. Não importa.

Disfarça e brinca com a orelha, ato a ser disfarçado. Um tanto punido em ambiente familiar. Algo como lançar um míssil nuclear numa ilhazinha de dóceis habitantes.

Quem sabe?

Quem sabe é hoje que as coisas acontecem? Alguém que continua cantando música indesejável também entrou no ônibus ou apenas os versos ruins ficam ali ribombando ribombando quando era preferível o vácuo.

O vizinho de banco faz sinal da cruz avistando uma igreja. Tem um jornal sob o braço. Alguma mocinha bonita fixa olhar no rapaz bonito que entra no próximo ponto e devolve o olhar. Parecem perfeitos e vazios. Sentam-se juntos e as filas de bancos começam a se mover, porque já era hora mesmo.

Conversando, conversando. A palestra já se fazia longa como longo era o caminho.

Havia um panfleto religioso na bolsa. Já não havia memória. Não era importante, seja como for.

Ainda o gosto do almoço de ontem, porque era prazeroso. O único prazer, talvez. Mas não definia o que havia sido, de forma alguma. Não se sentia estranho por isso. Apenas era assim e pronto.

[não atenda telefonemas não atenda telefonemas não atenda telefonemas em processo de criação ignore ignore ignore]

Era impressão ou verdade que o caminho já se alongava demais.


Andava em círculos. Talvez.

Somente não havia o que fazer. Todo o caminho tinha de ser trilhado. Era deixar-se levar.

Ou havia a rachadura que permitiria a fuga? Nunca se sabe. É preciso observar bem, muito bem. Enquanto a estória era mal-contada entre o recém-casal no banco da frente. Era desinteressante, porque nenhum preenchia a lacuna, o quebra-cabeças permanecia quase intacto e as idéias atiradas ao ar incompletamente. Atingiam ouvidos surdos e os que podiam ouvir desejavam a rachadura na parede da prisão. Por que não se calam? Por quê? E o verso voltava insatisfazendo. Mesmo o almoço do outro dia já começava a dançar no interior. Não havia o que fazer. Não havia mesmo.


Caminhar a pé. Sim. Sim.

Havia.

Aquele tempo era uma promessa de solidão e gritos de socorro que jamais seriam emitidos. Alguém já disse e o autor repete. Só muda o gênero e a personagem. Ele não sabe gritar. Fantástico! Excepcional! Merecerá prêmios de operário do ano ou de aluno bem-comportado. Fará sensação na sala de estar. Um sorriso, meu deus, um cigarro, qualquer coisa... abra a janela. Batidas na porta. O motorista não ouviu o sinal. Ninguém ouve nada que deveria ser ouvido. Ah... então esquece. O jato de esperma que invadiu aquela vagina nunca foi tão amaldiçoado.

Bendito seja o amor. Sobretudo porque não há amor.

Quem sabe é hoje que as coisas acontecem? Abre o jornal, o vizinho.

[não abra a porta não abra a porta não abra a porta pois você tem de terminar isto ignore ignore ignore]

Lembra quando era criança e havia um ídolo. Ele saberia sair daquela situação. Livrar-se-ia dos futuros amantes, dos versos teimosos e do enjôo que se fazia presente. Aquela não, sempre ausente, embora por um momento presente. Determinante tal momento, ou as palavras não fariam sentido. Não se lembra do colo onde haveria deitado se.


Revolução mais porca! Antes sempre se sabe criticar o modelo existente. Depois repete-se o ciclo e cai-se no ridículo. Na mentira. No vazio.

Já não era. Inferno! O pirata de tapa-olho e papagaio no ombro adentra o coletivo. Não é carnaval. Que é aquilo? Entra cantando aqueles versos. O reverso do gozo.

O gosto popular. A fraude. O colo que já não existe mas que insiste como se existisse. Talvez.
_
Quem sabe é hoje que as coisas acontecem?

O gol do título não foi comemorado de acordo, por isso o jogador acabou expulso e que bom que sempre se pode esticar o pescoço e ler o jornal do vizinho de banco. Um consolo, ao menos.

Não há fim, não há fim... caramba, hoje ele não trabalha...

Por que não se tem o bom senso de dar o sinal e simplesmente descer?

Ah, sim... todos estão surdos. Cegos também.

Apenas aquele ouve a tóxica e insistente música, quando começam contra a sua vontade os jatos de vômito do almoço do dia anterior. Pena... havia sido tão bom...

Não cabe a exigência de uma citação literária aqui. Por que teria de ser feito o mesmo em todos os fragmentos?

Força a memória, maldito!

[o que eu disse sobre telefones e batidas na porta? não basta? não basta? apenas deixem o cadáver apodrecer em paz! família família papai mamãe titia e algum ícone pop]

Não houve escapatória. Os jatos existem por existir.


Tantos os de esperma como os de vômito. Frêmito. Alguém alcança o gozo e nada disso importa mais. Os amantes de amanhã agora vazios saberão disso? Se ao menos houvesse mesmo algo a dizer...

Não diga! Então você também gosta daquele filme? Não é da hora?

Não. Não é. Apenas alguma coisa sobre cadáveres que voltam a ameaçar alguns personagens bonitinhos na tela. Alguém precisa salvar a mocinha. Alguém precisa salvar o mocinho. Aquele sinal da cruz talvez. Ah ah ah!! Perfeitos e vazios. Feitos à jato para fabricarem jatos. Mas tudo isso é muito cansativo.

Sobe no coletivo um garoto de roupas rotas e engraçadas vendendo balas. O corriqueiro persiste.
_
Circulação falha. Um vaso entope e alguma coisa acontece. Para o hospital. Tudo muito branco, muito branco, muito branc...

Abrindo os olhos. Formas gentis passam de um lado a outro. Um colo e outro. Percebe-se tudo. Uma injeção. Vão abri-lo sem dor. Adormece. Volta. Não, não volta. É preciso algum tipo de choque. Volta. Não, não volta.

Volta.

O odor é adocicado e parece de maçã. Parece que todos sorriem ao redor. O clima é de sorrisos ao menos. Bom sucesso. Sem noção. Mas também não vê mais nada. Não precisa. E é melhor assim. Também não ouve mais. Para quê?

Não faz bem e apenas causaria transtorno. A máquina não pode emperrar. A peça consertada, lubrificada a contento.

Numa prisão da Sibéria, ele se sente feliz ou.







[hoje nada mais precisa acontecer]

***

[
começa a nevar em são paulo
pela primeira vez na história conhecida
será preciso muito vinho quente para passar este junho insólito
]

***

[
vem de novo o time do corinthians
quase 24 do primeiro tempo
1 a 0 timão
a ponte está retraída
e o atacante tem de sair da área pra buscar jogo
em belo horizonte
atlético mineiro e vasco da gama 0 a 0
vai o avante corinthiano invadindo a área
dribla um, dribla dois...
a zaga da ponte cai sentada!!
o goleiro sai...
o atacante dá um toque genial por cima do goleiro
mas a bola passa rente a trave,
pra fora...
que pecado...
mas a torcida aplaude!!
]


Creio que tudo já esteja dito aqui, amigos. Beijos e abraços!! Até!!

NA MINHA VITROLA: Caetano Veloso - A Little More Blue > London, London > Maria Bethania.