segunda-feira, 26 de maio de 2008

Deboche

O cemitério, a comédia humana, o terror, tudo o que nos faz tremer. E, mais uma vez, eu só tenho a poesia. Que é pra mim, pra vocês, pra quem quiser ler, amar, rasgar, deletar, foder, chorar. Vamos lá:
Deboche

cá estamos novamente
mãos separadas,
rosto para baixo,
vergonha na cara...
quem é que não tem um pouco?

cada um de nós se sente o mais ferido
e sempre nos falta um braço,
uma perna,
um baço,
um coração.

habitamos mais uma vez
este grande cemitério de carícias
que nunca foram;
a escola da fofoca,
bullshit
e pequenez humana.

tem gente que vem,
tem gente que vai...
este filme eu já vi
e você também.

estávamos juntos no cinema
reclamando o dinheiro do ingresso
porque o negócio todo é muito ruim.

pode crer, é de amargar,
mas ainda prefiro jiló
aos testes tontos
para saber se eu seria
o namorado ideal.

unidos perderíamos
a noção do perigo
a noção da nação
mas este é o lance:
perder o pudor,
já que somos tão pouco
perante a bandeira.
ou $omo$ tão pouco
perante o poder...

fazem piadas de portugueses,
de argentinos,
de brasileiros,
de tanta gente
que já perdemos graça.

é só pirraça
de criança.
eu já não sei,
ninguém mais sabe.
baixamos os olhos
e esquecemos da santa ignorância, morcegão!

sugam o sangue,
contam mentiras.
é tanto milagre naquela igreja
que deviam fechar os hospitais.
mas é a fé, só a fé que salva
e a fé de um é do tamanho do extrato bancário.


já me disseram pra crer no absurdo,
pra crer no patrão
e no perdão divino.

até na sociedade alternativa...

então você
parte descontente,
procura o ópio,
o futebol,
a novela,
a erva,
o pó.

já não tenho mais saco
pra ser assim.
vamos embora sorrindo e ignorantes.
vamos chorando de tanta dor de dentes
ou dor de ser gente.
esta sabemos

que existe.

vamos invadir o senado,
o gabinete do homem,
preservar o mundo
de tanta pose,
desordem...
mentira!

vamos ao banco
descontar o cheque
da subserviência.

se ao menos houvesse um piano
eu faria da queixa
uma canção,
mas esqueci as notas,
perdi o tempo
e me perdi
no tema.
mas eu teimo
em ser quem sou:
e sou poeta -
alguma coisa,
coisa alguma.

você já sabe...
e ri.
ri da minha desgraça,
da sua desgraça.
é só o que resta:
é só deboche...
o deboche
é só...

perdão,
eu não respeito a sua dor.
eu também não tenho carinho.

mas quem se importa
quando todo mundo passa por cima
pra sobreviver?

Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: BEIRUT - La Banlieu.

Nenhum comentário: