sábado, 13 de setembro de 2008

A confraria dos joões bobos e das marias moles

Em primeira mão pra vocês, a re-escrita poesia que dá título ao meu livro a ser lançado em breve, assim como a capa - ainda que a imagem não corresponda - em qualidade - exatamente ao que ela realmente é, espero que vocês gostem!

A Confraria dos Joões Bobos
Segunda e quase definitiva versão


ali na fila,
mais um
com toda sua individualidade:
um universo.

ao mesmo tempo,
um nada.

um número.

noutro lugar,
aquela outra,
no elevador
claustrofóbico.
mas se controla
porque só isso há.

doi a dor
do abandono,
mas o mundo simplesmente prossegue.

daqui a meses,
a barriga cresce.
ela tem de trabalhar:
um telefonema
após outro
e mais outro
.

ele tem fome
de comida,
não de vida.
que não sabe o que é isso
e espera sua vez,
na fila.

hip hop nos ouvidos,
da periferia ao centro,
do centro do seu nada
ao centro de tudo que não é
coisa alguma.


papéis amassados
no chão das ruas
testemunham
suas pequenas histórias.

cada vulgar feição.

os postes,
os sinais ora vermelhos,
ora verdes,
os igualmente insignificantes passantes
são testemunhas que não importam
e não se importam.

dois reais o prato.
ele finalmente
mata
a fome.

ainda falta
muito
pro fim do expediente.

telefonema após telefonema.

um sorriso corporativo
esconde sua alma.

ele tem outra fome,
mas não sabe
gritar.

já disse Clarice,
de Macabeas e Macabeus.

nenhum dos dois sabe,
nenhum dos dois sonha.
nem sequer se esbarram
numa esquina.

e se assim fosse,
não se reconheceriam.

a cidade é tão grande...
uma enorme confraria
onde ninguém é
irmão.

esta, sim,
é a confraria dos joões bobos
e das marias moles.

seguirão para lá
ou para cá
sem vontade própria,
sendo castrados,
apupados,
vilipendiados,
sem consciência.

com um sorriso.


Opiniões sempre são bem-vindas. Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: DUFFY - Rockferry.

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