quinta-feira, 18 de setembro de 2008

História de um João e uma Maria - Madrugada

Quando o desastre. Quando a ausência. Quando desolação. Quando loucura. Quando o-fim-está-próximo. Quando não-olhe-pra-trás. Mas sem nos esquivarmos do golpe, continuemos.

Plaza after the Rain, de Paul Cornoyer.
História de um João e uma Maria # 3

Madrugada.

Era aquele momento único. Maria acabava de aparecer pelo caminho e João já estava lá. Era um belo dia.

Mas a natureza era caprichosa.


Num instante, tudo se tornou treva. As nuvens surgiram repentinas como se fossem uma tocaia. Trovões anunciavam o batalhão. Haveria guerra. Ao perceber o horror - Maria o teve estampado em sua face - fez o movimento contrário. Correu para longe dos olhos de João, que a viu desaparecer para não voltar.

Incontrolável, a tormenta não deu trégua ao lugar. João via tudo de longe, sem nada poder fazer. Viu tudo o que se tornara tão caro a ele ser levado pela força da água.

Claro, a natureza, no decorrer dos dias, tratou de restabelecer tudo ao lugar, menos aquela flor.


João se perguntava, olhar perdido, onde estaria Maria. Desesperado, começou a buscar em cada caminho, em cada jardim. E assim foi por anos a fio. Mas Maria não estava lá, no banco em que ele sempre a encontrara.


Maria não estava lá, no gramado por trás do banco.


E também não estava lá, na avenida que leva à praça.


Não estava nos bares ao redor. Nas casas de família. Nas casas sem família. Não estava no bairro vizinho. No aeroporto. Nos navios. Nos museus. Nos cemitérios.

Maria não estava no mundo.


João tornou-se mais andarilho do que era. Não dormia, não se alimentava. Não se importava. Perdera a esperança, mas buscava sua Maria, que já não era sua, porque era a única coisa que podia ainda fazer.

Um dia, os pássaros já não viam João.


A continuar

Quando eu voltar, será o fim. Deste conto, claro! Beijos e abraços, povo!

NA MINHA VITROLA: CHARLOTTE GAINSBOURG - 5:55.

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