sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Babel

Bom, pessoal. Aqui vai uma matéria que sintetiza o que é Babel. E, na minha opinião, sintetiza muito bem. Tive a oportunidade de assisti-lo já duas vezes. Uma em casa, outra no cinema. E não me arrependerei se assistir mais trinta vezes. Vocês, leitores fiéis, sabem que eu o coloquei na relação dos melhores filmes do ano passado. Confiram a matéria aqui.

Oscar 2007: Babel
Antônio Augusto Valente - 25.01.07

Como em 21 Gramas (2003) e Amores Brutos (2000), filmes anteriores do mexicano Alejandro González Iñarritu, na intrincada trama de "Babel" - sete indicações para o Oscar, incluindo melhor filme e diretor - um evento trágico une várias histórias em várias partes do mundo.

Não se trata, no entanto, de uma demonstração primária de como nos dias de hoje um simples acontecimento em um canto do planeta pode afetar a vida de pessoas que estão do outro lado do mundo e que aparentemente não têm ligação alguma com o ocorrido. Iñarritu merece mais respeito intelectual do que isso, e seu filme, obviamente, não deve ser visto como mera ilustração de uma metáfora bíblica.

Em boa verdade, "Babel" nada mais é do que um filme sobre a funcionalidade das relações humanas - "testadas", aqui, em situações-limite. O resultado é caótico e sublinha a visão - pessimista, em um primeiro momento - do diretor.

Ninguém se entende, quando a turista americana frívola precisa pedir ajuda desesperadamente na aridez do Marrocos; ninguém se entende, quando a babá mexicana (Adriana Bezarra, indicada ao Oscar de melhor atriz) precisa cruzar a fronteira com os filhos do patrão; ninguém se entende, quando os pobres meninos marroquinos precisam se explicar aos policiais; ninguém se entende, quando a surda-muda japonesa (Rinko Kikuchi, concorrendo à mesma categoria de Adriana) precisa dizer a alguém que tudo que quer é ser amada.

Porém, mais interessante do que o radicalismo desse embate entre pessoas, completamente diferentes em suas essências, é o discurso sutil que se constrói em paralelo, a indagação silenciosa de Iñarritu acerca da compreensão entre os seres, digamos, de mesma espécie. O casal americano está em crise, as crianças que dispararam o tiro não podem conversar com o pai a respeito, a babá mexicana é incapaz de estabelecer uma identidade geográfica no país aonde vive há anos, e a japonesa surda-muda está destinada a ouvir o silêncio ensurdecedor de um mundo do qual ela parece não fazer parte.

No limite, todos parecem estar perdidos numa tragédia errante, caminho que aparentemente não tem volta. Mas a salvação vem. Seja no final, quando o filme devolve às suas personagens o seu centro do mundo, seja em uma festa de casamento meio desengonçada, onde as crianças americanas lourinhas dançam e todos, felizes, parecem se entender perfeitamente.

Iñarritu fecha a trilogia iniciada por Amores Brutos provando estar mais maduro. Os comentários políticos anti-Bush são feitos na medida certa e a montagem, indo de encontro ao exibicionismo despropósito de um " 21 Gramas", é precisa, servindo estritamente o filme.

Babel, mais do que a crônica de um mundo caótico e globalizado, é um poderoso ensaio sobre a incomunicabilidade do mundo. Filme em perfeita sintonia com seu tempo, cuja figura nos dias de hoje é essencial.

Então, já conferiram a matéria, claro. Agora confiram o filme no cinema. Beijos e abraços, pessoal!

NA MINHA VITROLA: ANDRÉS CALAMARO - Todo lo Demás.

Um comentário:

Neysi disse...

Assisti 21 gramas e gostei.Babel vai demorar a chegar por aqui, mas...