quarta-feira, 2 de abril de 2008

E o verso a cada noite se fazendo de tua sábia ausência...

Foto da série Landscape of Body/Krajina Těla
de
Aleš Rajský (Rep. Tcheca).

É noite lá fora. Enquanto os amantes se encontram ou se desencontram, enquanto os times de futebol se alinham para as partidas, é hora de postar o primeiro canto da Ode Descontínua... de Hilda Hilst. Deleitem-se:

Ode Descontínua para Flauta e Oboé
De Ariana para Dionísio

I

É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria

O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza

E sorver reconquista a cada noite

Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:

A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

Se há uma divindade, ela se esconde nestes versos, amigos. Não me cansarei por estes dias. Beijos e abraços!

Nenhum comentário: