segunda-feira, 28 de abril de 2008

Virada Cultural, o decorrer e o depois

Esta foi a quarta edição da Virada Cultural.

Nas duas primeiras, eu estava envolvido em alguns saraus. Na terceira, eu não estava na cidade. Nesta última, aqui estava eu, não envolvido em eventos, a não ser como público. E foi, para mim, a edição mais intensa, mais repleta de loucura, de paixão pela vida e de... percorrer limiares.

Engraçado eu não ter me envolvido tanto nas outras em que participei mais ativamente... talvez eu simplesmente não estivesse no espírito. A primeira foi até num aniversário meu, num sarau na Casa das Rosas, lembro-me bem. No entanto, sobre a última noite eu não me lembro tanta coisa, mas... o que eu me lembro é o suficiente pra guardar até o último movimento.

Comecei seguindo meu roteiro, sim. Fui pra São João e vi o show de Cesária Évora. Primeiro vislumbre da Beleza. Sua música me atingiu por ser tão simples, tão orgânica, tão... música! Lembro-me até dos tímidos movimentos meus. Eu, que nunca danço.

Ao mesmo tempo, havia movimentos suspensos. A bailarina com o bambolê - ou algo assim. Estava ela tão concentrada que não percebia, provavelmente não percebia que o paraíso existia ali, onde toda aquela gente já começava a se esbarrar demais. Ou ela tinha seu próprio paraíso ou... nada disso!

Ok, Cesária já foi. Eu achava que daria tempo de chegar ao palco das bandas alternativas ver Vanguart, quebrando a sequência que havia idealizado antes, no Páteo do Colégio - total equívoco: não deu tempo. No caminho, os primeiros encontros. O Mário, a Marcinha, o Cláudio, a Letícia, a Isa, a Lívia, o Fábio... enfim... sempre bom vê-los, todos, cada um com seu caminho. Nalguns casos, breves passagens; noutros, um pouco de companhia.

Sei lá quanto tempo fiquei ali conversando com o Mário. Depois fomos pra Roosevelt. Parlapatões. Era pra ver o Barba. Mas eu não. Não consegui o ingresso - digo, consegui um, mas como eu já conhecia a peça, preferi que o Mário visse. Enquanto um ia de teatro, outro ia de rua.

Foi quando eu parei numa esquina e sentei num canto. Foi quando eu comecei a conversar com aquele cara, o que pedia dinheiro pra todos que passavam no farol. Já de idade, negro, não lembro o nome. Carioca, botafoguense e bicho solto no mundo. Bom papo. Sabe da vida, apesar dos pesares. Fui à lanchonete em frente e fiz um lanche. Deixei o troco pra ele. Mário voltava. Mais um pouco de papo, antes de eu decidir voltar pra casa. Mas o melhor - que adveio do que talvez muitos considerem o "pior" - ainda estava por vir.

Álcool tem dessas. Dependendo da situação, você fica um bagaço muito rápido. Eu fui pro Metrô. Apaguei.

Surpresa! O que eu fazia ali na saída da estação Vila Matilde, dormindo, em pé, não sei. Os óculos escuros disfarçavam bem. Talvez eu apenas parecesse um tótem, imóvel.

Alguém colocou alguma coisa na minha bebida. Deve ter sido isto.

Acordei quando o Bruno, com a namorada, me chamava. Mais tarde, no msn, ele disse que eu estava falando sobre Timothy Leary. Mas o que eu poderia falar? Não sei, não lembro.

É, realmente acordei. Eu queria ir pra cama e ali não era a minha. Metrô novamente. Mas... cama? Qual o quê! Sete horas da manhã e eu voltei pro Centro, isso sim! Sabe-se lá qual força me movia!

Praça da Sé. Malucos se chocavam em acrobacias bêbadas. Não há foto que traduza. A Fontana de Trevi era ali e também tinha direito a Anita Ekberg. Na verdade, não tanto. Menos, beeeeeeem menos! Era uma menina com cara de índia e camiseta preta do Iron Maiden. Perdera-se dos amigos, estava sem dinheiro. Acompanhei-a um pouco, até a estação São Bento. Um canto eletrônico. Com cara de Amsterdã. Era isso, naquela hora. Deixei a mocinha com dinheiro pra voltar pra casa. Bora andar, vagabundo!

Então, de novo sozinho, o Vale do Anhangabaú era todo meu. E era todo magia. As barracas de lanches, os cheiros, o sol a pino. Oito da manhã... quem sabe? Era de novo um filme do Fellini. E eu era o Mastroianni tupi, cínico e maravilhado (novamente, Alessandro: menos, bem meeeeeeenos!). Mais à frente, um palco. Um quarteto dilacerava o ouvido da manhã explodindo jazz. Ou não, bem mais suave. Era apenas vida. Uma vida única.

Finalmente, senti-me muito bem.

Vi cadeiras na área mais reservada, frente ao palco. Não estavam ocupadas, a maioria. Pedi a alguém da organização para sentar-me ali. - Sim, pode ir.

E eu fui.

Fiquei ali registrando o momento. Era pra sempre. Menos de uma hora.

- Nossa, tem workshop de yoga hoje. Tenho que voltar!

Um suco de laranja e regresso. Passo por Amsterdã novamente, sem parar. Não era o caso. Mesmo. Ao fundo, os sinos do mosteiro. Pra casa!

Na lotação, quase vazia, o motorista liga na F1 - muito alto para o meu descanso. Massa em segundo, 10 voltas para o final. Pelo menos não era o Galvão. Era rádio. Em casa... capoto!

Acordei 15 minutos antes do workshop começar. 15 minutos era o tamanho do caminho, se eu saísse naquela hora. Tentei. Mas tinha de tomar banho, trocar de roupa... e o cheiro do vinho barato e vagabundo da noite anterior não saía. Cama, de novo.

Futebol, com atraso. O gol saiu quando eu ia abrir a porta do quartinho de vídeo. Uma quase certeza: Palmeiras campeão. Ok!

Outra certeza: eu era o campeão da vida, de mim mesmo. Céu e inferno no caminho e, embora não tenha encontrado Beatrice - ou sim, encontrei: era Sampa, bela, surpreendente aos olhos (uma beleza que não se repetirá quando todos estiverem em seus veículos ou nos coletivos, na rotina semanal) -, aqui estou, inteiro pra contar isto pra vocês.

Toda descrição é tão carregada de sensações... no entanto, diante da variedade de tudo o que ocorreu, muito foi perdido, muito não foi visto. Este foi apenas um breve e honesto relato. Haverá outros. Que sejam mais tranqüilos; se não, que sejam tão intensos quanto os fatos. Agora, só me resta retornar ao lugar comum e esconder-me no anonimato do dia após dia. Mas vocês me conhecem e sabem que eu não partiria antes de deixar-lhes...

... beijos e abraços. Até muito breve!

PS O material sobre a Virada Cultural é muito vasto, mas infelizmente estou tendo dificuldades para conseguir fotos dos eventos que presenciei (raios, preciso de uma máquina urgente!), mas tentarei colocar as melhores fotos assim que for possível.

NA MINHA VITROLA: EL MATÓ A UN POLICÍA MOTORIZADO - Viejo Ébrio y Perdido > PLACEBO & DAVID BOWIE - Without You I'm Nothing.

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